
Não faltam no repertório de Brasília oportunidades para trocas socioculturais, articulações — além das políticas —, fortalecimento de memórias, valorização de culturas e produção diversa de conhecimento. A cidade chega aos 65 anos plural, como toda boa metrópole deve ser. Mas ainda com uma dívida com quem a construiu. Falta impulsionar no centro da capital a convivência e o fortalecimento do povo negro.
Por iniciativa de um grupo formado por 50 profissionais de áreas diversas — professores, comunicadores, servidores públicos, artistas, entre outros —, Brasília ganhou um espaço com esse objetivo: o Clube Social Negro. A assembleia de constituição da entidade se deu em 4 de dezembro, e hoje o clube conta com 68 associados e um coletivo de 123 pessoas negras.
Enquanto busca uma sede oficial, o Clube fechou parceria com a Casa Comum, um espaço coletivo na 205 Norte, para funcionar. Um endereço próprio, no coração de Brasília, faz parte do planejamento para os próximos dois anos. "O Plano Piloto precisa ser ocupado pela população negra, que construiu a cidade e foi jogada para as periferias, onde começam os movimentos. Queremos voltar para dentro e articulando essa rede com as regiões administrativas", diz Caína Castanha, vice-presidente do Clube. As atividades não param….
Aquilombados no Eixão

Em 16 de fevereiro, integrantes do Clube se reuniram em um piquenique no Eixão do Lazer, na Asa Norte. Foi o primeiro encontro de 2025, mas os idealizadores já se aquilombaram em outros espaços, itinerantes e particulares. A expectativa é de que, com a sede própria, haja uma agenda com mais atividades do tipo e de que o Estado ajude na viabilização desse espaço. A pauta já foi levada para o Ministério da Cultura.
Leitura raiz
Ontem, o Clube lançou, na Casa Comum, o livro Clubes Negros & Protagonismo Social, que resgata a trajetória desses espaços de resistência e protagonismo negro no Brasil. A ideia da obra, organizada pelos professores Giane da Silva Vargas, José Antônio dos Santos e Márcia Terra Ferreira, surgiu durante debates realizados no seminário de 150 anos da Sociedade Floresta Aurora, o clube social negro mais antigo em atividade no Brasil.
Giane Vargas conta que os textos de autores de diferentes partes do Brasil funcionam como "um fio condutor que conecta pensamentos e ações", reconhecendo a importância dos clubes "para a juventude negra e para aqueles que ainda não conhecem a magnitude do que significa a existência material e imaterial de um clube social negro". Exemplares físicos da obra podem ser encomendados pelo e-mail andressalfca@gmail.com. A versão digital gratuita está disponível no site https://www.nyota.com.br/catalogo.

No Executivo
Integrantes de clubes sociais negros tradicionais, como o Aristocrata de São Paulo e o Renascença Clube, do Rio de Janeiro, vieram a Brasília para o lançamento do livro e aproveitaram a oportunidade para, com a ajuda dos colegas brasilienses, articularem com o Executivo. Na quinta-feira, tiveram reuniões nos ministérios da Cultura e da Igualdade Racial. Na pauta, temas como o reconhecimento desses espaços como patrimônio cultural material e imaterial e a criação de políticas públicas voltadas para esse segmento.
Na resistência
Existem no país pelo menos 150 clubes sociais negros, sendo que os primeiros surgiram antes mesmo da abolição da escravidão, como o Beneficiente Cultural Floresta Aurora, fundado em 1872, em Porto Alegre, e o Clube dos Escravos, criado em 1881, em Bragança Paulista. O recém-criado Clube Social Negro de Brasília junta-se a esse movimento histórico de resistência, também como a primeira iniciativa do tipo no Centro-Oeste.