
Lucas de Belmont, 29 anos, foi aprovado em primeiro lugar no Concurso Nacional Unificado (CNU) para o cargo de tecnologista, especialista em fomento do complexo econômico — industrial da saúde. Os resultados foram divulgados pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) em 4 de fevereiro. Belmont relata que "demorou muito para cair a ficha" da conquista. "Na minha concepção, a colocação não foi o mais importante, e sim eu ter passado!", celebra o paraibano.
A preparação de Lucas ocorreu enquanto ele escrevia sua tese de doutorado, apresentada na Universidade de Leeds, na Inglaterra. "Eu estava querendo terminar o doutorado, que estava nos últimos seis meses. Para mim, o foco não era o CPNU, e sim a tese. E aí, quando chegou adiamento em maio, pensei: 'Dá para respirar', pois eu havia estudado só uma ou duas semanas antes da prova. Mas, no fim das contas, a tese ocupou todo o meu tempo novamente e só voltei a estudar uma semana antes da prova", detalha.
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A namorada do concurseiro, Mônica Nóbrega, 35 anos, acredita que um fator que contribuiu para a aprovação do companheiro foi de, ao contrário de outros certames, o CPNU ser "menos decoreba". "Basicamente, Lucas estudava para o concurso sem estudar diretamente para ele, por ser uma pessoa que tem uma bagagem de política, interesse por direitos humanos, fascínio por notícias, e isso batia muito com o edital do CPNU, que tem um caráter mais humanista e generalista, portanto menos decoreba."
Outro ponto que corroborou, segundo Mônica, foi o tema da questão dissertativa ter sido sobre "desafios dos direitos humanos quanto à questão indígena", temática semelhante à da tese escolhida para seu doutorado: Atrocidades em Massa e Povos Indígenas: A Amazônia Brasileira sob o Governo Bolsonaro. A pesquisa analisou as falhas da comunidade internacional em agir efetivamente diante das atrocidades cometidas contra as populações indígenas no Brasil, especialmente durante as queimadas na Amazônia em 2019 e na pandemia da covid-19.
Estudo em família

Lucas estudou de forma conjunta com sua namorada, Mônica, e sua cunhada, Mariana Nóbrega. Os três prestaram o concurso para cargos diferentes, mas todos do Bloco 5 - Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. "Nós éramos três pessoas voltadas para a área acadêmica, mas estávamos um pouco frustrados com a área, pois a academia teve uma queda muito grande na pandemia. Não havia oportunidade nas universidades, poucas bolsas de estudo, e aí surgiu o CNU, oferencendo vários cargos que valorizavam ter alguma titulação. Então, decidimos fazer o certame", conta a cunhada.
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Eles compartilhavam o conteúdo entre si e se encontravam para discutir o tema programático. Essa foi uma estratégia utilizada pela família para conseguir estudar o máximo possível da lista de assuntos cobrados. "Começamos os estudos individualmente, só que a gente foi vendo que era um conteúdo muito extenso, aí começamos o compartilhamento de conteúdo. Por exemplo, Mariana tinha estudado uma parte, ela fazia o resumo dela e a gente se encontrava para conversar sobre esse assunto. Da mesma forma, eu fazia", explica Mônica. Mariana complementa dizendo que as conversas eram também uma forma de dar ânimo um ao outro.
A estratégia deu certo e, assim como Lucas, as irmãs, que já são servidoras públicas, também alcançaram a aprovação. Mônica foi aprovada no cargo de analista técnico de políticas e trabalhará no próprio Ministério da Gestão. Já Mariana, no cargo de pesquisador na especialidade de tecnologista em informações e avaliações educacionais, cuja lotação será no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O primeiro CPNU ofertou 6.640 vagas, e as provas foram aplicadas em agosto de 2024, em 228 cidades. À época, cerca de 1 milhão de inscritos fizeram os exames. No início deste mês, o Ministério da Gestão divulgou um perfil regional dos aprovados no certame. De acordo com a pasta, "a região Sudeste lidera em número de aprovados, com 32,9%. O Nordeste concentra 26% dos aprovados, seguido pelo Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal, com 25,6%. No Sul, a taxa de aprovação foi de 9,8%, enquanto a região Norte registrou o percentual de 5,6%". Com relação à faixa etária, a maioria dos aprovados (70%) têm entre 25 e 40 anos.