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Conheça Luiza Vilanova, a jovem goiana que está mudando o mundo pela educação

Graduada na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, a estudante, aos 22 anos, é a primeira brasileira aprovada em Oxford com a bolsa Rhodes, uma das mais disputadas internacionalmente

Marina Rodrigues
postado em 26/01/2025 06:00
Fundadora do projeto Tocando em Frente (TEF), que impactou 10 mil crianças em todo o Brasil com aulas de desenvolvimento socioemocional -  (crédito: Fotos: Arquivo pessoal)
Fundadora do projeto Tocando em Frente (TEF), que impactou 10 mil crianças em todo o Brasil com aulas de desenvolvimento socioemocional - (crédito: Fotos: Arquivo pessoal)

A goiana Luiza Vilanova, 22 anos, é a primeira brasileira a conquistar a bolsa Rhodes, que financia estudantes de excelência em cursos de pós-graduação na Universidade de Oxford, no Reino Unido. A decisão de tentar a vaga foi motivada por amigos da faculdade, que a incentivaram a dar mais um passo rumo ao seu propósito de vida: mudar o mundo por meio da educação.

Ainda no ensino médio em Goiás, na tentativa de ingressar no ensino superior dos Estados Unidos, ela arriscou participar de uma rigorosa seleção, na qual teve de superar barreiras linguísticas, econômicas e culturais. De família humilde, ela acreditava que era algo distante de sua realidade, mas seu esforço foi recompensado. Aos 18 anos, Luiza foi aprovada em 11 faculdades americanas com bolsa integral e, em 2024, formou-se em ciência política e educação na Universidade Columbia, em Nova York, provando que não há limites para sonhar.

Agora, no mestrado, ela tem a oportunidade de aprofundar conhecimentos e se capacitar para alcançar seus objetivos. A experiência internacional também servirá para impulsionar seu projeto social, chamado Tocando em Frente. Criada em 2021, a iniciativa tem como objetivo levar um currículo socioemocional a escolas públicas de todo o Brasil, a fim de prevenir problemas de saúde mental em espaços educacionais. Até este ano, a organização não governamental (ONG) impactou mais de 10 mil crianças brasileiras, e a meta é expandir cada vez mais.

Vocação

Luiza foi bolsista no Colégio Arena, em Goiânia, onde pôde concluir a educação básica. A ideia de estudar no exterior surgiu no segundo ano do ensino médio. Até então, ela pensava em cursar medicina, mas passou a se envolver com projetos sociais, que a fizeram perceber sua paixão por educação e políticas públicas. "No ensino médio, iniciei o projeto social Gotinhas do Bem, que acabou se transformando em uma ONG. Trabalhar com escolas me despertou para a importância da educação como ferramenta de impacto social", conta. 

No terceiro ano, Luiza intensificou suas pesquisas sobre universidades estrangeiras, bem como seus estudos na língua inglesa. Inspirada por histórias de jovens brasileiros que tinham realidades semelhantes à dela e conquistaram bolsas de estudo, ela decidiu tentar. No entanto, havia um obstáculo: o inglês. "Minha família não tinha condições de pagar por um curso de idiomas, então aprendi sozinha, assistindo a vídeos no YouTube. Cheguei à faculdade com um inglês longe do ideal, mas acredito que o esforço e a determinação fizeram a diferença", diz. 

Formada em ciência política e educação
Formada em ciência política e educação (foto: Arquivo pessoal)

Apesar das dúvidas entre qual faculdade escolher, a decisão pela Universidade Columbia, em Nova York, foi estratégica. Durante a graduação, Luiza teve a oportunidade de estudar com professores renomados e aprofundar conhecimentos nas áreas de interesse. "Eu queria sair completamente da minha zona de conforto. Nova York é muito diferente de Goiânia, e isso me desafiaria. Além disso, Columbia tem um centro de estudos brasileiros e uma forte comunidade acadêmica dedicada à educação e ciência política, o que foi fundamental para mim", lembra.

Carreira

Após se formar em Columbia, Luiza decidiu tentar uma vaga na pós-graduação da Universidade de Oxford. O processo seletivo para conquistar a bolsa durou cerca de seis meses, sendo semelhante ao que a estudante enfrentou ao se candidatar para a graduação. 

Luiza e os amigos
A estudante e os amigos da faculdade Adina (E), Avi Adler, Mrinalini Sisodia (C) e Simon (D) (foto: Arquivo pessoal)

Entre os documentos exigidos, estavam um texto de mil palavras, oito cartas de recomendação, currículo acadêmico e as notas obtidas durante a faculdade. Após a etapa inicial, 14 finalistas foram selecionados para uma entrevista presencial, focada na análise de perfil dos candidatos. O resultado saiu no mesmo dia.

"Estava muito claro para mim por que eu estava aplicando. Mas, além disso, espero que, cada vez mais, isso se torne evidente para as pessoas que interagem comigo: a educação está muito presente na minha vida. Foi por causa dela que consegui chegar onde cheguei, alcançar tantas oportunidades e, de fato, transformar a minha vida", relata. 

Primeira de sua família a seguir a carreira acadêmica, Luiza se prepara, agora, para o mestrado em Oxford, que terá duração de dois anos. O primeiro será focado em educação comparada, explorando diversos temas educacionais, e o segundo, em políticas públicas. O auxílio proporcionado pela bolsa Rhodes, uma das mais concorridas do mundo, prevê a cobertura.

Para ela, a experiência será uma oportunidade de adquirir conhecimento e ampliar o impacto de seus projetos sociais. "Quero garantir que todas as crianças, independentemente de origem ou condição social, possam sonhar sem limites dentro da escola", afirma. Sua viagem para o Reino Unido está prevista para setembro deste ano, quando vai iniciar a nova fase.

Evento da fundação de Barack Obama, ex-presidente dos EUA
Evento da fundação de Barack Obama, ex-presidente dos EUA (foto: Arquivo pessoal)

ONG em ação

Após o projeto Gotinhas do Bem, Luiza fundou o Tocando em Frente (TEF), que visa "transformar o interior em terreno fértil para inspiração". Com mais de 90 voluntários de 13 a 25 anos, a iniciativa leva aprendizado socioemocional para escolas públicas brasileiras, com foco no ensino fundamental II, e já impactou mais de 10 mil crianças em todo o país, destacando o papel das instituições de ensino e das organizações da sociedade civil na preservação da saúde mental de crianças e adolescentes.

"Nossa intervenção traz histórias inspiradoras e o currículo socioemocional para garantir que toda criança tenha acesso à oportunidade de aprender sobre suas próprias emoções e tocar em frente com o direito de sonhar", explica a fundadora. O TEF visitou espaços escolares de todas as regiões do Brasil para implementar uma jornada de aprendizado gamificada, disponibilizando planos de aula que desenvolvem diferentes habilidades socioemocionais, como comunicação e resiliência.

Vencedora do prêmio LED em 2024 com o TEF
Vencedora do prêmio LED, em 2024, com o TEF (foto: Arquivo pessoal)

Em 2024, a iniciativa foi a campeã do Prêmio LED 2024, promovido pela Globo, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, que reconhece práticas inovadoras e apoia projetos educacionais inovadores no Brasil. A premiação foi importante para dar visibilidade às ações e destacar a relevância do TEF no combate à evasão escolar e na prevenção de doenças mentais na parcela infantojuvenil.

Transformação

Filha de psicóloga e de comerciante, Luiza frisa, destaca o papel essencial da educação em sua vida. "Minha história é um exemplo do que acontece quando uma criança de origem humilde tem acesso à educação de qualidade. Por isso, acredito que meu comprometimento é muito forte e claro com o propósito de garantir que todas as crianças possam ter a educação que eu sonho, e que esse compromisso tenha a atenção necessária para que ele se realize", compartilha.

Para os jovens que também sonham em estudar no exterior, ela dá um conselho precioso: "Acredite que é possível, mesmo quando parece que o sonho está distante. Cercar-se de pessoas que acreditam em você também é essencial. Eu tive professores, amigos e mentores que acreditaram muito antes mim mesma. Se eu consegui, qualquer pessoa pode!".

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