Além da sala de aula

Projetos de inovação, inclusão e sustentabilidade brilham na Semana da EPT

4ª Semana Nacional da Educação Profissional e Tecnológica teve iniciativas estudantis de todo o país sobre inovação, inclusão e sustentabilidade. Promovido pelo MEC, evento gratuito ocorreu no DF

Marina Rodrigues
postado em 01/12/2024 06:00 / atualizado em 01/12/2024 06:00
Tabaco Verde e Cortina de Fumaça: em parceria com a Receita Federal, transformam cigarros ilegais em adubo e equipamentos  -  (crédito: Marina Rodrigues)
Tabaco Verde e Cortina de Fumaça: em parceria com a Receita Federal, transformam cigarros ilegais em adubo e equipamentos - (crédito: Marina Rodrigues)

Com o tema Inovação, Inclusão e Sustentabilidade, a 4ª Semana Nacional da Educação Profissional e Tecnológica (SNEPT) ocorreu de 26 a 28 de novembro na Arena BRB, localizada no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Promovida pelo Ministério da Educação (MEC) por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), a programação do evento incluiu uma série de atividades gratuitas e abertas ao público, como mesas de debate, palestras, workshops, mostras tecnológicas e apresentações culturais. Além disso, os visitantes puderam explorar unidades móveis com exposições interativas e participar de atividades práticas relacionadas à temática do evento.

A SNEPT é um ponto de encontro para redes federais, estaduais, privadas e serviços nacionais de aprendizagem, como Senai, Senac e Sest/Senat. Este ano, foram selecionados mais de 400 projetos de 56 instituições de educação profissional e tecnológica de diferentes regiões do país. As iniciativas exploram diversos universos, incluindo robótica, inteligência artificial, educação assistiva e inclusiva, além de tecnologias emergentes, como drones, realidade virtual e simulações 3D. 

App de acessibilidade

Ponto Comum: aplicativo de mobilidade para pessoas com deficiência
Ponto Comum: aplicativo de mobilidade para pessoas com deficiência (foto: Marina Rodrigues)

Um dos projetos de destaque foi o chamado Ponto Comum, desenvolvido por estudantes do curso técnico de desenvolvimento de sistemas do Senai-SIG. “É um aplicativo de mobilidade voltado a pessoas com deficiência visual e pessoas idosas que têm dificuldade de localizar uma parada mais próxima. Com o Ponto Comum, são listados todos esses pontos por meio de comando de voz”, explica Lia Costa, 19 anos, integrante da equipe. “Há três principais funcionalidades: apontar a distância até a parada desejada, localizar as mais próximas e resetar ou mudar a rota. Assim, o usuário será direcionado por áudio até a parada escolhida e pode se locomover mais facilmente”, completa Zelita Lima, 18, também envolvida com a criação.
“Estamos trabalhando (no projeto) há pouco tempo, mas já obtivemos um resultado muito bom. Já aprendemos a mexer com geoprocessamento, e a ideia é que a gente amadureça esse projeto, implemente todas as funcionalidades e disponibilize de forma gratuita para as pessoas usarem. Nós queremos muito prestar um serviço social e atender às dores da população”, detalha o instrutor do Senai-SIG Rodrigo de Jesus Silva, à frente da iniciativa. 
Para o estudante Tiago Moura, 21 anos, a experiência foi única, especialmente, por poder se conectar com pessoas de outras localidades. “Mostrar nosso trabalho foi muito importante, mesmo desenvolvido com poucos recursos. A gente aprende tanto quanto pratica e isso fica visível no evento, onde podemos apresentar nosso potencial. Foi, realmente, uma experiência muito boa e que vai agregar para a gente agora e futuramente. A ideia é conseguir investimento para expandir e se tornar uma referência, como o Moovit ou o Google Maps”, compartilha. 

Competição de culinária

IFBrasilidades reuniu estudantes bolsistas do Gama e do Riacho Fundo na SNEPT
IFBrasilidades reuniu estudantes bolsistas do Riacho Fundo na SNEPT: valorização dos ingredientes brasileiros (foto: Fotos: Arquivo pessoal)

Parte da programação interativa do evento, o Instituto Federal de Brasília (IFB) promoveu o IFBrasilidades, uma competição culinária que uniu estudantes bolsistas dos cursos de tecnologia de alimentos, do câmpus Gama, e de gastronomia, do câmpus Riacho Fundo, com direito a entrada, prato principal e sobremesa. A atividade destacou-se pela integração entre teoria e prática além da sala de aula, bem como pela valorização de ingredientes brasileiros, como mandioca, mel, café e ervas nativas. 
A professora de gastronomia Juliana de Andrade explicou a dinâmica da competição: “Foram selecionados quatro grupos de três alunos cada. Eles realizaram um teste rápido e precisaram pesquisar matérias-primas obrigatórias nos pratos. Nosso objetivo era aprofundar o conhecimento e conectar as áreas dos dois câmpus”. Já Adriana Alfani, professora de tecnologia de alimentos, ressaltou o caráter interdisciplinar do projeto. “Criamos um elo entre pesquisa e prática. Os alunos precisaram inovar em processos, como emulsão, desidratação e eletrificação, focando em tecnologia e sustentabilidade alimentar. Além disso, eles realizaram visitas técnicas, o que complementou a formação prática”, conta.
Grupo de estudantes do IFB câmpus Gama participou do IFBrasilidades: ensino além da sala de aula e valorização de ingredientes brasileiros
Grupo de estudantes do IFB câmpus Gama participou do IFBrasilidades: ensino além da sala de aula (foto: Arquivo pessoal)
Além das habilidades técnicas, a experiência buscou formar profissionais mais completos e atentos às demandas contemporâneas do mercado. “Queremos que os alunos saiam além do diploma, compreendendo como a gastronomia pode impactar questões sociais, como o combate à fome e à desigualdade alimentar, enquanto valorizam a cultura brasileira. E, apesar de ter um grupo vencedor, todos ganham”, afirma Juliana. 
Os estudantes participantes destacaram os benefícios da vivência para sua formação. Mylena Leite, 30, Samira Guimarães e Marcelo Schelle, 42, orientados pela professora Janaína Sarmento, contaram que o evento ajudou a desenvolver habilidades de trabalho em equipe, criatividade e sustentabilidade, além de expandir a rede de contatos. “Essas interações são essenciais para a carreira na gastronomia, pois iniciativas como o concurso ampliam nossa formação e complementam o aprendizado em sala de aula”, comenta Mylena, integrante da equipe vencedora, batizada de “BsBGastrô: fusão de sabores e saberes”.

Felype Nunes Wanzeller, 32, do curso técnico em gastronomia, também elogiou a oportunidade: “Foi uma experiência engrandecedora, com contato direto com a alta performance gastronômica. Aprendi a lidar com a pressão e a criar pratos únicos, aprimorando minha visão sobre a profissão”, compartilha o estudante. “As indústrias precisam ser inovadoras para se manterem competitivas, e isso foi essencial para os alunos. Esse é apenas o começo de um projeto que queremos repetir várias vezes”, conclui Adriana.

Reciclagem de cigarros

Em parceria com a Receita Federal, estudantes do Instituto Federal de Tocantins (IFTO) desenvolveram soluções sustentáveis para o reaproveitamento de cigarros ilegais apreendidos. Os projetos Tabaco Verde e Cortina de Fumaça oferecem novas formasde tratar resíduos tóxicos: o primeiro transforma cigarros ilegais em adubo orgânico, enquanto o segundo reutiliza cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, na criação de mini máquinas de fumaça para cenários de teatro, por exemplo, para uso individual em cena ou em peças de fantoches.

“Estamos conduzindo análises laboratoriais para determinarcom precisão a qualidade e os nutrientes do composto. Nossa recomendação inicial é que elenão seja utilizado na produção de alimentos para humanos e animais, mas, sim, em projetos de recuperação ambiental”, explica Stefan Oliveira, diretor de inovação e empreendedorismo do IFTO, sobre o Tabaco Verde. Jáem relação ao Cortina de Fumaça, “a ideia é que esses equipamentos possam atender a uma demanda crescente do setor artístico, ao mesmo tempo em que garantimos uma destinação sustentável para os cigarros eletrônicos, que iriam para lixões.Além disso, temos expectativa de disponibilizar gratuitamente para escolas de todo o Brasil, beneficiando, especialmente, as aulas de arte”, destaca o diretor..

Para Diogo Henrique da Silva, 20 anos, aluno de engenharia agronômica no câmpus de Dianópolis, participar do projeto tem um impacto surpreendente. “É inovador, uma solução para um problema tão grande como o descarte de produtos químicos. Participar desse evento foi importante para minha formação profissional e pessoal, especialmente porque conecta teoria e prática. Aprendemos sobre fertilidade do solo e composição na sala de aula e aplicamos isso diretamente no projeto”, relata. 

Estudante do 2º ano do ensino médio e do curso técnico em informática para internet no câmpus de Palmas, Isaque Carvalho, 16, destaca a importância da extensão para sua formação e currículo. “Participar desse projeto me ajuda a desenvolver a responsabilidade cidadã e a explorar áreas interdisciplinares. É incrível como ciência, tecnologia e meio ambiente se conectam aqui. Além disso, estar nesse evento e trocar ideias com outras pessoas comprometidas com a pesquisa me inspira a continuar trilhando esse caminho”, afirma Isaque, que sonha estudar ciência da computação e conquistou, este ano, uma bolsa de estudos em Yale, nos Estados Unidos. 
“O que antes era fruto do tráfico, que provoca um problema ambiental, agora vem para recuperar a natureza, a partir de ações e iniciativas dos nossos estudantes. Isso fortalece a formação deles, porque gera a conexão com algo que percebem que é, de fato, relevante para a sociedade”, defende Antônio da Luz Júnior, reitor do IFTO.     máquinas de fumaça para cenários de teatro, por exemplo, para uso individual em cena ou em peças de fantoches.

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