Estudantes do Serviço Social do Comércio (Sesc) de Taguatinga foram premiados com uma medalha de ouro e duas de prata na Mostra Brasileira de Foguetes (Mobfog), que ocorreu em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, entre 9 e 12 setembro. Dividida em três grupos, a equipe de nove estudantes do ensino médio confeccionou seis foguetes a base de garrafas pet, bicarbonato de sódio e vinagre, unindo teoria, prática e muito trabalho em equipe.
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A Mobfog é uma olimpíada experimental que incentiva o interesse dos jovens por astronomia, física, astronáutica e outras ciências, promovendo troca de conhecimentos e integração entre os estudantes. Na etapa classificatória escolar, que contou com 17 equipes do Sesc, os três times selecionados chegaram à marca de quase 200 metros de altura. Já na etapa nacional, os grupos conquistaram o pódio com as marcas de 223,4 m, 219,1 m e 218,1 m.
Preparação
Entre os três grupos vencedores, dois femininos e um masculino. Os protótipos são temáticos e receberam nomes de deuses gregos: Poseidon, Hades e Zeus (veja os integrantes de cada grupo abaixo). Para a produção dos foguetes, a equipe foi dividida em três frentes, responsáveis pela montagem das bases de lançamento, o design do foguete e as proporções de reação entre os componentes, que mantinham constante diálogo entre si.
- 223,4 metros — Zeus (Marcos Natã, João Paulo e José Emanuel)
- 219,1 metros — Hades (Ana Gabriella, Thuany e Anna Clara)
- 218,1 metros — Poseidon (Maria Clara, Fernanda Cassemiro e Emanuely Vitória)
"Cada um atuou em uma frente e, depois, a gente juntou as informações e criou um padrão de lançamento para o dia da competição. Foram muitas emoções nesse processo, com alguns conflitos e muitos momentos bons", conta o professor de física e orientador dos grupos, Nicolas Lima.
Durante a preparação, os alunos e o professor se reuniam na escola uma vez por semana durante dois meses, no contraturno das aulas. Na semana que antecedeu a competição, eles se encontraram todos os dias para acertar os últimos detalhes dos foguetes que seriam lançados.
"A gente se ajudava muito, perguntava para o Nicolas e para as outras equipes quando não entendia os processos. Assim, testamos a reação muitas vezes, e o foguete foi se construindo conforme o nosso trabalho de equipe", relata Maria Clara Sousa, 17 anos.
Thuany Ribeiro, 16 anos, conta que a equipe teve dificuldades em relação ao alcance da pressão e ao formato dos foguetes, fazendo vários testes até chegar ao modelo que seria lançado na olimpíada. Além dos materiais mencionados para a construção dos produtos, ela descreve uma série de processos até o resultado final, com diferenças apenas na aparência dos foguetes.
"Na ponta do foguete, usamos um peso de durepoxi (massa adesiva) para ele ter segurança na parte de voo. Usamos duas garrafas pets retornáveis de 2L para fazer a ponta e dar pressão, e as aletas (pequenas asas estabilizadoras) são feitas com canos PVC, que a gente lixou e deixou no formato desejado. O que operava diferente em cada foguete era a estética, com a pintura mais próxima do tema que cada grupo representava", diz.
Presença feminina
Fernanda da Costa, 17 anos, conta que nunca havia imaginado participar de uma competição de foguetes e que se supreendeu. "Eu sempre tive um lado de humanas, muito mais artístico e social, e nunca achei que seria capaz de entender sobre a dinâmica de um foguete".
Maria Clara Sousa compartilha um sentimento parecido, por não ter muita afinidade com as áreas exatas. Ela considera que o incentivo do professor foi fundamental na descoberta de uma nova habilidade. "Eu sempre acreditei que não daria certo para as áreas de física e química, então achei que nem passaria da primeira fase na competição. Porém, eu descobri que era boa em exatas, o que veio muito do incentivo do professor Nicolas, que me mostrou que eu era capaz de fazer um foguete", expõe.
Os relatos de Fernanda e Maria Clara chamam a atenção para a subpresença feminina na ciência, na qual as mulheres representam apenas 34% dos pesquisadores brasileiros e 31% das matrículas em cursos das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (Stem), segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
O coordenador pedagógico do Sesc, Francisco Paz, percebe a diferença de interesses entre os meninos e as meninas. "Os meninos daqui já gostam de matemática, então tinham essa confiança de ganhar na competição. Já algumas meninas me falaram que nem sabiam como o foguete tinha alcançado tanta altura, porque não tinham tanto conhecimento nessa área", afirma. Com isso, ele conta que a escola custeou a ida de todos os nove alunos da equipe, formada majoritariamente por meninas, para a competição no Rio de Janeiro, como forma de dar espaço, também, para elas em uma área que é tipicamente masculina.
Para Fernanda da Costa, a escola mostrou a perspectiva de que "não existe divisão entre exatas e humanas, você pode fazer o que quiser se tiver incentivo. Nem imaginávamos que podíamos ganhar", celebra. Maria Clara também relata que foi procurada por muitas meninas interessadas em participar do projeto, acreditando que pode ser um exemplo para elas: "Não necessariamente você precisa ser de exatas para fazer um foguete, você pode fazê-lo mesmo sem ter noção de física".
Experiência
Para Marcos Natã, 18 anos, a jornada de foguetes e receber o prêmio na Mobfog foi "muito emocionante". Ele diz que ficou muito feliz por trazer medalha de ouro para casa, ainda mais por ser sua primeira vez na competição. Para Maria Clara, a experiência foi "transformadora", considerando-se uma pessoa diferente desde o início da experiência.
Emanuely Vitória de Freitas, 17 anos, diz que foi motivada a participar da Olimpíada por causa do "de olho no céu", projeto em que os estudantes passam a noite em um local observando os astros, já que a Mobfog dava pontos para o projeto. Ela considera que a vivência foi positiva para o currículo acadêmico, mas também aproveitou as oficinas e palestras, que foram "muito enriquecedoras". Para Emanuely, a competição trouxe uma visão de que "astronomia não se trata só de cálculos, que eu também posso participar dessas práticas".
O coordenador Francisco Paz também destaca a experiência de lidar com frustrações e a troca de conhecimentos entre os estudantes: "Não é só uma competição de foguete, e a gente fica muito feliz e orgulhoso por eles". Para o professor Nicolas Lima, fica o aprendizado "para além da sala de aula, porque a ciência é investigativa". Desde a competição interna até a viagem para o Rio de Janeiro e a premiação, ele descreve uma experiência única: "Voltar com uma medalha de ouro e duas de prata é uma emoção indescritível, só quem viveu esse momento sabe do que a gente está falando."
*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues
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