Júlia Giusti*
postado em 27/10/2024 06:00 / atualizado em 27/10/2024 06:00
Quem passa na comercial da 203 Norte é atraído pelo cheiro de pães e bolos caseiros. O aroma leva até a padaria Anis, de Kátia Castro, 42 anos. Na parte debaixo da loja, a produção atende a vários gostos e preferências, desde sabores tradicionais, como chocolate e mandioca, até combinações mais inusitadas, como hibisco e ora-pro-nóbis, inclusive, com opções veganas. Os produtos são convidativos, assim como o ambiente, que fica quente com o forno a todo vapor.
Junto com Kátia, que é responsável pela comunicação, estão à frente do negócio os três sócios: Sidinéia, Paulo e Tamara, que atuam na relação de compras, logística e projetos e na parte administrativa, nessa ordem. Todos colocam as mãos na massa, com a ajuda de outras funcionárias que cuidam da limpeza e da organização, e da filha de Kátia, Ana Katherine, que também auxilia com o marketing. Os produtos têm mais de um destino: a padaria e as feiras de orgânicos da Asa Sul, Asa Norte, Lago Sul e Lago Norte, que ocorrem de quinta a sábado, além de encomendas.
Como tudo começou
A história de Kátia com os bolos vem da infância, observando a mãe na cozinha de casa. “Ela dizia ‘sai daqui, menina, vai dormir’, e eu respondia: Ô mãe, deixa eu ficar só olhando, aí ela deixava, e eu fui aprendendo”, relata. Aos 11 anos, Kátia fez o primeiro bolo para levar para a escola, de cenoura, que fez sucesso entre os colegas: “Ficou muito fofinho e todo mundo gostou”. A partir daí, ela teve a ideia de produzir para vender e, assim, começou um caminho que levaria para a vida adulta.
“Minha mãe sempre foi muito consciente e me fazia pegar a encomenda, pagar a água, a luz, o gás e os anúncios. À época, eu não sabia que isso era empreender, mas isso é um ensinamento que ela deixou”, compartilha. Para ela, “a confeitaria nasceu comigo”.
Início de um sonho
Seguindo nas vendas de bolos, aos 17 anos, Kátia diz que começou a sentir vergonha de trabalhar só com confeitaria, porque “mulher tinha que se formar em alguma coisa para ser vista”. Então, fez faculdade de direito e administração e trabalhou na parte administrativa e financeira, deixando os bolos “mais resguardados”, até que, com a pandemia de covid-19, que trouxe incertezas quanto ao sustento, trabalhou alguns meses em uma padaria.
Depois disso, Kátia não parou com as vendas e levou a produção feita na cozinha de casa para as feiras de orgânicos, ao fim da pandemia, em 2022. Na primeira vez, preparou de 30 a 40 bolos para vender em três dias, mas a procura foi tanta que quase todos foram vendidos no primeiro dia de feira, e foi preciso fazer mais: “Já batemos a meta dos 40 bolos por semana há muito tempo”.
Foi em uma dessas feiras que Kátia conheceu os atuais sócios. Tamara dos Santos, 60, vendia pães na barraca ao lado: “Começamos um trabalho de vendas em conjunto”. Assim, elas decidiram unificar as empresas, “pela paixão por confeitaria e produtos artesanais”, como expõe Kátia, abrindo a loja Anis em maio de 2024.
Criatividade e inclusão
Kátia tem duas motivações para inovar na cozinha: restrições alimentares de alguns clientes e o desejo por levar os sabores para todos os públicos. “Quando um cliente diz que não pode comer certo alimento, a gente pensa em um produto diferenciado, porque não vendemos apenas por vender, mas queremos proporcioná-lo algo gostoso também”, compartilha. Tamara complementa: “Para que não só se alimentem, mas se deleitem”
ó se alimentem, mas se deleitem”. Porém, a padaria tem o cuidado de não oferecer os produtos em alguns casos, como o de celíacos severos, avisando aos clientes, devido ao risco de contato com os ingredientes, já que os equipamentos utilizados podem conter resquícios. “A gente sempre esteriliza os utensílios, mas o trigo, por exemplo, fica no ar, então em certos casos, recomendamos que a pessoa busque uma loja que trabalhe diretamente com as restrições alimentares”, relata. Já os bolos veganos, são feitos antes do restante dos produtos.
As massas são feitas com farinha orgânica e fermentação natural, e as sementes vêm de produtores locais do DF que seguem padrões sustentáveis. “Falamos com tranquilidade para os clientes que estão consumindo um produto saudável, e isso você vê no retorno das pessoas, que diziam que passavam mal comendo pão, mas se sentem bem agora”, expõe Tamara.
Planos
O sonho de Kátia e dos sócios para o futuro da padaria é que ela se torne, também, uma cafeteria. “Queremos expandir a padaria para um café, para que as pessoas venham fazer reunião de trabalho, de amigos, em um lançamento de livros, tornando o ambiente mais acolhedor”, diz Tamara
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá