As mudanças climáticas se intensificam cada vez mais no mundo inteiro, principalmente, no Brasil, que tem enfrentado tragédias ambientais em diversas regiões — de fortes enchentes a incêndios em massa e longos períodos de estiagem. Nesse cenário, a Universidade de Columbia, por meio do Columbia Global Center Rio e do Climate Hub Rio, selecionou quatro mulheres brasileiras especialistas no tema para o Programa de Intercâmbio para Lideranças Climáticas em Nova York (NY), nos Estados Unidos. A oportunidade ocorreu entre 14 e 30 de setembro, visando capacitar líderes e promover aprendizados e trocas de experiências com a instituição. A iniciativa também conta com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, para fortalecer as contribuições entre o estado e a comunidade de pesquisa climática internacional.
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As brasileiras escolhidas pela universidade foram Stella Manes da Silva Moreira, 32, pesquisadora especialista em restauração e conservação da biodiversidade do Instituto Internacional para Sustentabilidade; e Thaynara Conceição Fernandes, 28, pesquisadora, educadora ambiental e analista programática no Centro Brasileiro de Justiça Climática; Lara Cavalcanti Martins, 32, consultora externa de Gestão de Projetos do Sense-Lab para a BMW Foundation Brazil Action Platform; e Anna Luiza Barbosa Moreira da Silva, 27 anos, gerente internacional de Financiamento Climático para Crescimento Verde do Governo Britânico no Brasil.
"O programa é fundamental para aprofundar a colaboração do saber científico, que está sendo desenvolvido no Rio de Janeiro, com o que está em desenvolvimento na Universidade de Columbia, destinado a implementar as ações do clima. Ambos estão em linha direta com o treinamento especializado e a pesquisa aplicada que são ofertados pela universidade em Nova York. Essa conexão é fundamental não apenas para acelerar as ações climáticas, mas também para unir os conhecimentos e avançar nas políticas públicas do clima que impactam a cidade do Rio de Janeiro. Por isso, a parceria com a Prefeitura, que viabiliza esse projeto, é tão importante", explica Camila Pontual, gerente de Projetos do Climate Hub.
Justiça climática
Criado em 2024, o programa proporcionou sessões intensivas de debates, considerando os seguintes pilares: liderança, inovação, compromisso com a sustentabilidade e impacto na comunidade. Mesmo com abordagens de pesquisa distintas, as participantes brasileiras contam que participar do evento foi uma experiência única, na qual puderam estabelecer contato com especialistas renomados e conhecer novas abordagens para o tema.
Stella Manes é formada em biologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com doutorado em ecologia pela mesma universidade, e trabalha com enfoque na proposição e implementação de soluções aos impactos ambientais. Ela explica que a vivência da cidade americana com desastres naturais e a adoção de políticas ambientais podem ser um exemplo a ser seguido no Rio de Janeiro e no Brasil em vários sentidos. "Eles sempre enfatizam a importância de planejamento de adaptação climática com diálogo entre cientistas, tomadores de decisão e os principais afetados em todas as etapas, o que alerta sobre a importância de transformar a ciência em ação, na prática, e de considerar a justiça climática como um dos pilares de ação para o Rio de Janeiro", ressalta.
Tecnologia
Thaynara Conceição também considera a justiça climática um tema fundamental. Formada em ciências biológicas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), com especialização em meio ambiente e conservação, ela pesquisa sobre tecnologias de adaptação às mudanças climáticas e aos desastres ambientais. "Segundo o Mapa da Desigualdade, mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas por desastres ambientais, e os que são mais impactados são grupos mais vulnerabilizados. Parte da solução é o combate a esses desastres nas comunidades com o uso de tecnologias e a conscientização sobre direitos ambientais", descreve.
Saber mais sobre as ferramentas tecnológicas da cidade norte-americana a incentivou a pensar em mecanismos para o Brasil, em especial, para o Rio de Janeiro. "Eles têm o monitoramento ao vivo dos locais suscetíveis a desastres, que está disponível ao público por meio do site, e isso pode ser aplicado na cidade". Além disso, estar em Nova York discutindo o tema é uma realização pessoal e profissional para Thaynara, não só pelo tema ser próximo à realidade dela, mas também por ser de interesse do ambiente acadêmico. "É bom estar conectada a uma grande universidade, porque é muito difícil nos ver, é representativo", afirma.
Responsabilidade
Lara Cavalcante representa o eixo da responsabilidade social. Formada em comunicação social — publicidade e propaganda na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, ela trabalha com responsabilidade social corporativa envolvendo a ação e o engajamento climáticos no setor privado. Nesse contexto, ela acredita que as organizações devem ser transparentes sobre a emissão de gases, criar produtos e serviços de forma sustentável, bem como utilizar da comunicação para influenciar positivamente os clientes.
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De acordo com Lara, as grandes empresas têm papel relevante sobre as mudanças climáticas, uma vez que são grandes emissoras de carbono e utilizam recursos naturais, muitas vezes, sem regulação. Elas têm, portanto, o poder de estimular a criação de políticas públicas para promover economia regenerativa e de baixo carbono, por exemplo. "A depender de cada negócio, é possível reduzir as suas próprias emissões ou da sua cadeia de valor, como por meio da adoção de energia renovável, melhora na eficiência energética e avaliação da implementação da economia circular no ciclo de vida do produto", diz a especialista.
"Nós (especialistas) adquirimos conhecimento sobre leis envolvendo as mudanças climáticas, principalmente, a partir do Observatório do Clima, e o próprio governo tem apoiado, o que nos leva a pensar que, no caso do Rio de Janeiro, poderia haver parceria público-privada por parte do Estado", pondera Lara. Para ela, o RJ "está no processo", por já ter sido palco da Eco-92 e da Rio 20 e estar participando ativamente do debate internacional, o que contribui para atrair a atenção do mundo e permitir que o estado seja modelo para o clima.
Aspectos financeiros
Anna Luiza Barbosa formou-se em relações internacionais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e trabalha com financiamento de projetos frente as mudanças climáticas, com experiência especialmente na cidade do Rio de Janeiro. "Isso é bom porque podemos pensar em recursos financeiros em perspectiva local para aplicar essas medidas em outras cidades brasileiras, trocando ideias com especialistas", defende.
Além disso, a participação do Brasil no grupo do G20, por exemplo, indica um momento propício para o país sobre o cenário climático. "Esse é um tema transversal que ainda depende de fatores financeiros, como a adaptação do mercado, então é muito interessante escutar os posicionamentos de autoridades brasileiras, como Marina Silva e Fernando Haddad, para se ter um panorama do país", explica Anna Luiza.
Clima em pauta
Em 2012, o furacão Sandy passou pelos Estados Unidos deixando cerca de 100 mortos, 43 deles em Nova York, com mais de 69 mil casas danificadas e prejuízo financeiro de mais de US$ 19 bilhões. Desde então, as autoridades da cidade norte-americana têm investido em medidas de adaptação às mudanças climáticas, tornando-se referência mundial no tema.
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Em setembro deste ano, NY sediou a Semana do Clima, encontro que reúne pesquisadores, empresários, parlamentares, autoridades públicas e representantes da sociedade civil de todo o mundo para discutir questões relacionadas ao clima e ao enfrentamento de desastres ambientais, incluindo financiamento de projetos, aspectos de transição energética e transportes, economia verde e descarbonização.
*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues
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