Lançado no último dia 27, o Observatório Brasileiro da Desigualdades traça um retrato do país a partir de uma série de indicadores que deve estar no radar de todos os gestores públicos e também de quem os elege. Avanços e retrocessos são detalhados considerando disparidades de raça/cor e gênero nas cinco regiões do país. Entre os destaques, estão uma queda significativa na proporção de pessoas em extrema pobreza e, em sentido oposto, um aumento na proporção de mortes por causas evitáveis.
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“Em um recorte de gênero e raça, há avanços importantes como o aumento de mulheres negras no ensino superior. Mas, no geral, as desigualdades de gênero e raciais são persistentes e alertam para a necessidade de investimentos extras, que rompam um ciclo constante de exclusão”, avalia Neca Setubal, socióloga e presidente da Fundação Tide Setubal, uma das organizações que fundaram o Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, que tem o relatório com uma das frentes de atuação. Confira alguns resultados da versão 2024:
Avanços
– Queda de 40% na proporção de pessoas em extrema pobreza de 2022 para 2023. A maior redução foi entre mulheres negras: 45,2%.
– A proporção de mulheres negras de 18 a 24 anos que cursam o ensino superior foi a 19,2%, um crescimento de 12,3% de 2022 para 2023.
Retrocessos
– Aumento na proporção de mortes por causas evitáveis (por mais efetividade em políticas de segurança pública e segurança viária, por exemplo) na ordem de 22%, entre 2021 e 2022. Em relação aos homens negros, 50% dos óbitos poderiam ser evitados por políticas públicas.
– As mulheres negras continuam com as maiores proporções de insegurança alimentar moderada e grave: 37% das famílias, enquanto entre homens não negros é de 20%, conforme dados de 2022.
Na hora do voto
O relatório mostra também a baixa representatividade nos resultados das eleições municipais de 2020: apenas 12% das prefeituras tiveram mulheres eleitas para o Poder Executivo, sendo 4% negras. Nas câmaras municipais, apenas 16% das vagas foram ocupadas por mulheres, sendo 6% por mulheres negras. É tempo de construir um cenário político diferente!
Cultura negra
Série documental
Já estão disponíveis os cinco episódios de Quem ela pensa quem é?, série documental com protagonismo feminino e nordestino dirigida pela pernambucana Natara Ney e coproduzida pela Kilomba Produções, Arrudeia Produções e Cultne. O trabalho conta as trajetórias da grafiteira Nathê Ferreira, da mestra de maracatu Joana Cavalcante, da cientista social Joyce Paixão, da professora indígena Idiane Crudzá e da estilista e multiartista Dorot Ruanne. Cada episódio foi filmado nos espaços em que essas mulheres vivem e atuam, com “o compromisso de garantir que essas narrativas sejam contadas em primeira pessoa, com a autenticidade e a beleza que só elas podem trazer”, enfatiza Monique Rocco, produtora executiva da Kilomba Produções. É possível assistir aos episódios gratuitamente no streaming Cultne TV, no Canal 2134 do Samsung TV Plus, na plataforma da Pluto TV e na TCL Channel. Em breve também no LG Channels.
Festival na Ceilândia
A última semana de setembro será dedicada à cultura negra na Ceilândia. A ABCDF está preparando o Festival de Música Negra, com uma programação com artistas nas áreas de música, teatro e oficinas infantis ou de economia criativa. O chamamento público para os interessados em fazer parte da grade está aberto até a próxima sexta-feira, com cachês entre R$ 800 e R$ 5 mil, e as atividades ocorrerão entre os dias 24 e 28. Mais informações no @festivaldemusicanegra.
Setembro Amarelo
Você não está sozinho
O racismo estrutural é um dos desencadeantes do sofrimento psíquico, atestam profissionais de saúde mental e estatísticas oficiais. Segundo o Ministério da Saúde, por exemplo, brasileiros negros do sexo masculino com idade entre 10 e 29 anos têm uma probabilidade 45% maior de cometer suicídio. Para os que estão em momentos críticos, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é um caminho de acolhimento e apoio emocional. Ligue 188.De graça, a qualquer hora e em qualquer dia.