pesquisa

Paraibano investiga atrocidades na Amazônia em doutorado no Reino Unido

Lucas de Belmont, 29 anos, analisa a responsabilidade do Governo Bolsonaro e a omissão internacional. Tema é foco de doutorado apresentado na Universidade de Leeds, na Inglaterra

Maria Eduarda Lavocat*
postado em 15/09/2024 06:00 / atualizado em 15/09/2024 06:00
Isso nos ajuda a aprender lições para que esses erros não se repitam, seja no Brasil, seja em outros países
Isso nos ajuda a aprender lições para que esses erros não se repitam, seja no Brasil, seja em outros países" Lucas de Belmont, 29 anos, pesquisador - (crédito: Arquivo pessoal)

Estudar as atrocidades cometidas contra a humanidade é crucial para entender aspectos sombrios da condição humana e prevenir futuras tragédias. O estudo sobre genocídios e crimes de guerra é necessário para compreender como ideologias extremas e preconceitos podem levar a crimes em grande escala. Essas pesquisas não apenas honram as vítimas, mas reforçam a importância de defender a justiça e a paz, garantindo um futuro mais justo para todos. Foi nessa área que o pesquisador Lucas de Belmont, 29 anos, decidiu aprofundar seus estudos.

Formado em relações internacionais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Lucas concluiu um mestrado itinerante em ação humanitária internacional na Europa e, atualmente, cursa doutorado na Universidade de Leeds, na Inglaterra, voltado para política e estudos internacionais. “Estudar grandes tragédias da humanidade sempre me chamou muita atenção. Isso começou em 2014, quando fiz um curso de verão em Genebra, que é a capital internacional para esse tema. Tive a oportunidade de visitar o escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) e entender um pouco sobre o trabalho realizado. Foi meu primeiro contato com o conceito de ‘responsabilidade de proteger’ populações vulneráveis contra grandes atrocidades”, conta Lucas.

-
Apresentação na Eslôvenia (foto: Arquivo pessoal)
Esse interesse se tornou o tema central de seu trabalho de conclusão de curso na graduação, seguido pela dissertação de mestrado, e agora é o foco de sua tese de doutorado. Lucas explica que, inicialmente, esse assunto parecia distante da realidade brasileira, considerando que o Brasil era visto como uma democracia com instituições estáveis e uma economia em desenvolvimento, sem grandes crises. No entanto, a partir de 2019, ficou evidente que as populações indígenas brasileiras estavam sendo afetadas por ações que caracterizavam atrocidades em massa. Ele quis entender, portanto, como esses crimes estavam sendo cometidos, em que contextos — como desmatamento, mineração e pandemia — e como o governo agravava essas vulnerabilidades. Ele também procurou identificar os atores envolvidos: garimpeiros, madeireiros, fazendeiros, o próprio governo, a Funai, o Ministério da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente.

Dessa forma, a tese escolhida para seu doutorado foi Atrocidades em Massa e Povos Indígenas: A Amazônia Brasileira sob o Governo Bolsonaro. A pesquisa analisou as falhas da comunidade internacional em agir efetivamente diante das atrocidades cometidas contra as populações indígenas no Brasil, especialmente durante as queimadas na Amazônia em 2019 e a pandemia. A investigação utilizou relatos de ONGs, petições e entrevistas com diplomatas e representantes de organizações internacionais para entender por que houve uma resposta insuficiente, apesar das evidências de crimes em massa. Segundo o doutorando, entre os motivos apontados, estão o receio de confrontar o Brasil, suas influências econômicas e políticas, e a competição por atenção internacional com acontecimentos, como a guerra na Ucrânia. 

-
Visita à ONU em Genebra (foto: Arquivo pessoal)
De acordo com Lucas, a pesquisa contribui significativamente ao esclarecer como os crimes contra os povos indígenas da Amazônia brasileira foram facilitados por ações governamentais, como desmatamento e privação de saúde durante a pandemia, e como esses crimes foram executados, incluindo a contaminação por mercúrio devido à mineração. Além disso, a pesquisa aborda a falha da comunidade internacional em responder adequadamente, destacando as fragilidades do sistema internacional e a necessidade de evitar futuras omissões, fornecendo lições valiosas para prevenir a repetição desses erros em outros contextos.
“Isso nos ajuda a aprender lições para que esses erros não se repitam, seja no Brasil, seja em outros países. Compreenderemos melhor as fragilidades do sistema internacional e poderemos evitar futuras omissões”, conclui. Na última quarta-feira (11/9), Lucas realizou uma paletra na UFB com o tema Definições de genocídio e atrocidades contra a humanidade: aprendizados a partir do caso yanomami para discutir sobre o assunto.   

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação