ONG oferece formação inédita para lideranças femininas no Brasil
Metodologia de mentoria desenvolvida pela ONG brasileira Alumna integrará o Columbia Women's Leadership Network (CWLN) 2025, voltado para capacitação de mulheres universitárias
postado em 15/09/2024 06:00 / atualizado em 15/09/2024 06:00
Capital S/A. Fundadoras da Alumna, Larissa Ushizima e Renata Malheiros Henriques, duas ex-alunas da Universidade de Brasília (UNB). - (crédito: Tainá Frota/Divulgação)
A Alumna, organização não governamental (ONG) brasileira, em parceria com a Universidade de Columbia, nos EUA, apresentará sua metodologia de mentoria no programa Columbia Women’s Leadership Network (CWLN) 2025, reforçando o módulo de aconselhamento profissional. Pioneiro, o curso tem o objetivo de formar mulheres líderes no Brasil e é destinado a jovens que estão começando a carreira, especialmente as que fazem parte de grupos minorizados, incluindo mulheres negras e de baixa renda, bem como as que são as primeiras da família a ingressarem numa universidade e pessoas não binárias.
Visando estimular a parceria entre público, privado e o terceiro setor, a ideia do programa é formar uma rede de mulheres com diferentes trajetórias, que farão parte dos principais processos de tomada de decisão e implementação de políticas para a transformação do país. Os encontros de mentoria da Alumna serão individuais e on-line, com mentoras e mentoradas conectadas por um algoritmo próprio capaz de aproximar vivências semelhantes
O CWLN é composto por módulos que incluem treinamento estratégico e atividades de networking, mesas redondas, seminários e sessões de mentoria. Todas as atividades são supervisionadas de perto, incluindo coordenação acadêmica e gestão local. O ciclo de mentorias mais recente é fruto de uma parceria com a marca Kérastase, da L’Oreal.
Criado em 2018, o programa foi reformulado neste ano, sendo a primeira turma com 50% de ocupação de mulheres negras. A iniciativa é coordenada pela unidade do Rio de Janeiro, que é um dos 11 centros globais da universidade. Também chamados de Columbia Global Centers, são espaços de conhecimento disponíveis para educar e inspirar através de pesquisa, diálogo e ação.
Antes da parceria com a Universidade de Columbia neste ano, a Alumna havia realizado 11 turmas de mentoria de forma independente, com cerca de 150 participantes cada. A mentoria ocorre de forma 100% virtual, por meio de uma plataforma chamada Mentorar, e atualmente conta com o patrocínio da L’Oreal. A ONG foi criada em 2019 pelas amigas Larissa Ushizima, 38 anos, e Renata Malheiros, 39, formadas em relações internacionais na Universidade de Brasília (UnB). A ideia surgiu em uma conversa um ano antes, quando elas decidiram realizar um projeto de impacto social que envolvesse educação e troca de experiências profissionais.
e experiências profissionais. Larissa é servidora pública, trabalhando como assessora internacional na Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), enquanto Renata integra o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) há mais de 15 anos. Além da graduação completa, ambas têm mestrado no exterior com bolsa de estudos, e utilizaram essa experiência para desenvolver o projeto. “A nossa bagagem acadêmica e profissional foi fundamental para a criação da Alumna. Nós duas tivemos oportunidade de fazer mestrado no exterior e com bolsa de estudos. Sabemos da nossa posição de privilégio e do acesso que tivemos”, descreve Larissa.
Realidade brasileira
As mulheres negras ocupam predominantemente posições de trabalho precárias e recebem salários menores que brancos e homens negros, de acordo com a mentora de carreiras Marcela Brito. Considerando gênero e raça, ela cita a pesquisa Mulheres Negras na Liderança, realizada pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil e a 99jobs, na qual foram ouvidas 331 pessoas. Entre as participantes, 57% disseram não haver mulheres negras nas empresas onde trabalham, enquanto 70% afirmaram ter homens como chefes imediatos. O levantamento também revelou que 81% das empresas brasileiras têm, no máximo, 10% de mulheres negras em cargo de liderança.
“Com os números preocupantes de pesquisas recentes, torna-se urgente fomentar redes de desenvolvimento profissional para a inclusão desses grupos no mundo do trabalho de maneira efetiva e adequada, ou seja, de modo que possam desempenhar atividades alinhadas e coerentes com suas formações e habilidades técnicas e socioemocionais. Esse tipo de iniciativa, certamente, traria benefícios no longo prazo e mudaria o desenho da estrutura do trabalho em âmbito regional e nacional”, afirma a especialista.
Nesse contexto, as sessões de mentorias surgem como forma de combater essas desigualdades e obstáculos que persistem no caminho das mulheres no mercado de trabalho, com o apoio de uma rede feminina de trocas profissionais. O objetivo do curso é, portanto, desenvolver competências, conhecimentos e aprimorar a atuação profissional das mulheres, com o suporte de uma mentora que já tenha passado por experiências similares.
Troca de experiências
Ana Viana, 23 anos e formada em relações internacionais na UnB, fez parte da primeira turma de mentorandas da Alumna, em 2020. Durante a pandemia, momento em que ela decidiu fazer uma espécie de transição de carreira do setor público, onde era estagiária, para a área corporativa.
Hoje, Ana trabalha no Santander e defende que a experiência com a ONG a ajudou no planejamento da própria carreira. “Fazer a mentoria me ajudou no processo seletivo, porque a minha mentora sempre me acompanhou, me deu dicas, sugestões de vagas, e as mulheres se apoiavam, o que deu um suporte bom; e o processo de mentoria estruturada de ter encontros, de ter uma pauta, foi muito boa para que eu pudesse me conhecer como profissional, identificar minhas forças e fraquezas.”
A oportunidade a ajudou a expandir os horizontes como profissional e pessoa. “Pude entender como me posicionar no mercado como mulher, expandir meus horizontes em relação a até onde eu posso chegar, as minhas capacidades e a tirar a síndrome de impostora, que eu sinto que prende, principalmente nós, mulheres, porque acaba que não temos tanta coragem e ímpeto de alcançar novas coisas em relação à nossa carreira”, compartilha.
Ana Viana, 23 anos, fez parte da primeira turma de mentorandas da ONG em 2020 e Livya Bembem, 21, participou da mentoria da Alumna no primeiro semestre de 2024
Arquivo Pessoal
Ana Viana, 23 anos, fez parte da primeira turma de mentorandas da ONG em 2020
Arquivo Pessoal
Livya Bembem, 21, participou da mentoria da Alumna no primeiro semestre de 2024
Arquivo Pessoal
Também estudante de relações internacionais da UnB, Livya Bembem, 21 anos, foi uma das mentoradas pelo Alumna no primeiro semestre deste ano. Hoje, ela trabalha na Giz Brasil, agência de cooperação internacional alemã, e acredita que o programa teve forte influência em sua formação profissional.
A aluna reitera que as sessões são bem estruturadas pelo programa, tendo materiais de apoio disponíveis para as mentoradas. Além disso, ressalta a importância das outras participantes para que seja criada uma rede de mulheres que se apoiam, mesmo após seis meses do curso.
“Com minha mentora, pude entender mais sobre mundo corporativo, trocamos muitas experiências que me inspiram muito. Pude entender melhor como pensar a carreira que estou construindo de maneira mais estratégica e sempre buscar posições que façam mais sentido para mim”, compartilha Livya.
Evolução
Com a parceria, as fundadoras do Alumna se sentem orgulhosas pela repercussão do projeto, que chegou a ser finalista do Prêmio Led 2022. “Ficamos felizes em compartilhar a nossa metodologia de trabalho com organizações diversas e que buscam promover a liderança para mulheres, e temos grandes expectativas em relação ao futuro (da Alumna)”, comemoram.
Nesse tempo de existência, a Alumna impactou cerca de 3 mil mulheres e, com esse crescimento, as criadoras têm expectativas ainda maiores: “Esperamos expandir nosso alcance, impactando ainda mais mulheres universitárias em todo o Brasil até 2025, com a meta de alcançar 10.000 mulheres.”
“Queremos formar a próxima geração de mulheres líderes, sem deixar ninguém para trás, e observamos que muitas mulheres universitárias, especificamente aquelas que se enquadram em grupos subrepresentados, enfrentavam barreiras para entrar no mercado de trabalho”, relata Larissa.
Sobre o CWLN
O Columbia Women’s Leadership Network (CWLN) surgiu de uma conversa entre Joyce Trindade, atual secretária municipal da Mulher do Rio de Janeiro, e Daniella Diniz, diretora de estudos de gênero na Universidade de Harvard. O CWLN foi pensado para ser um programa anual que avançaria especificamente mulheres do setor público, de forma que atingissem cargos mais altos e trouxessem consigo mais mulheres ao alto escalão. No entanto, logo entendeu-se que para que existisse transformações, seria necessário que o setor privado e o terceiro setor também fizessem parte do programa.
Dessa forma, o CWLN passou a estimular a cooperação entre os três setores, também aceitando participantes de outras áreas. Hoje, o CWLN conta com uma rede de quase 200 mulheres, entre conselheiras, integrantes de instituições parceiras e participantes das quatro turmas que se formaram ao longo de cinco anos de programa.
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