Com os olhos do mundo voltados para a França desde julho, quando os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris-2024 tiveram início, uma terceira competição internacional ocorre nesta semana na terra do croissant, tendo novos brasileiros na disputa por medalhas e um lugar no pódio. Trata-se da Worldskills, principal torneio mundial de profissões técnicas, que, em sua 47ª edição, terá como cenário a cidade de Lyon. Neste ano, de 10 a 15 de setembro, serão 1,4 mil competidores de 72 países e regiões, em 62 ocupações distribuídas em seis setores: Artes Criativas e Moda, Serviços Sociais e Pessoais, Tecnologia da Construção e Edificação, Tecnologia da Informação e Comunicação, Tecnologia da Manufatura e Engenharia e Transporte e Logística. Representando o Brasil, 64 jovens de oito unidades federativas defenderão a bandeira verde-amarela em 56 das 62 ocupações da competição.
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A capital do país está no páreo. A delegação brasiliense é formada por quatro estudantes do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Distrito Federal (Senai-DF), que demonstrarão em provas simulando o dia a dia de trabalho nas ocupações de Segurança cibernética, Pintura decorativa e Funilaria. O Trabalho & Formação profissional visitou as instalações do Senai Taguatinga, em meio à reta final dos preparativos para o embarque internacional, e conversou com o quarteto e seus técnicos.
Conhecimento em jogo
Trabalhando em dupla, os estudantes Samuel Augusto Marins Bastos e Thaylon Roberto Muniz da Silva conhecem o sabor do pódio. Em setembro de 2023, eles conquistaram a medalha de ouro na etapa nacional que define os competidores que representarão o país internacionalmente. Com respectivamente 21 e 19 anos, os jovens alunos do Senai-DF vão enfrentar duplas de competidores de 21 países e regiões na modalidade de Segurança cibernética.
Morador de Vicente Pires, Samuel ingressou no Senai-DF por meio do curso Técnico em Eletrotécnica, ofertado pelo programa DF Inova Tech, em 2019. Paralelamente, graduou-se em análise de desenvolvimento de sistema, em 2022. "Eu escolhi a cybersegurança por ser uma área abrangente e muito bem cotada no mercado. Quero vencer essa competição internacional e trazer comigo essa bagagem para investir na profissão e continuar trabalhando e aprendendo cada vez mais", afirma o rapaz, que enaltece a possibilidade recebida, ao longo desse processo, de ter contato profissional com empresas do DF que se tornaram parceiras.
As provas de Segurança cibernética no Worldskills são compostas por três módulos autônomos, que abrangem segurança de infraestrutura corporativa, investigação forense e Capture the Flag (CTF), uma disputa em que os competidores precisam encontrar vulnerabilidades no sistema. Para garantir a excelência necessária, o treino é pesado e requer extrema disciplina. Samuel e Thaylon praticam diariamente, cerca de 12 horas por dia, no Instituto Sesi/Senai de Tecnologias Educacionais na Asa Norte.
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"Nosso treino é todo feito em forma de parceria, e a gente divide entre nós a carga para que a equipe seja equilibrada", explica Thaylon, 19, que desde os 14 se interessa por eletroeletrônica e, ao ingressar no Senai-DF por meio do Novo Ensino Médio, em 2020, optou pelo Itinerário Formativo de Tecnologia da Informação. Para o futuro, o morador da 26 de Setembro garante: quer seguir na área, fazer faculdade e empreender. "Espero que com essa medalha no currículo", completa.
Samuel e Thaylon são acompanhados de perto por quem entende do assunto. O treinador e expert Felipe Santos Carvalho, 29, é ex-aluno do Senai-DF e competiu, em 2014, na Olimpíada do Conhecimento, o torneio nacional de educação profissional. No ano seguinte, tornou-se instrutor da instituição e, em 2019, passou a integrar a equipe responsável pela competição. "A dedicação e a facilidade de aprender foram determinantes para a escolha dos dois estudantes que representarão o DF na Worldskills. Nós sempre buscamos alunos que saibam se virar sozinhos no processo competitivo, e eles sempre conseguiram isso. Tanto que ambos correram atrás e, por conta própria, hoje são fluentes em inglês", elogiou o especialista da ocupação Segurança cibernética. "É preciso ter espírito olímpico. Samuel e Thaylon têm, e muito", finaliza.
Destaques do quadradinho
Para participar da Worldskills, é preciso ter entre 16 e 25 anos. Caçula da delegação brasileira, Miguel Herculano Sousa mal atingiu a idade mínima e já foi escolhido pelo Senai-DF para lutar pelo país na disputa com competidores individuais de outros 22 nações e regiões pelo pódio de Pintura decorativa. "É a realização de um sonho que eu ainda nem tinha sonhado. Estou muito empolgado com essa oportunidade e quero vencer para dar ainda mais orgulho para a minha família", festeja o adolescente, que mora em Samambaia.
Apaixonado pela arte do desenho e das tintas desde os 5 anos, Miguel ingressou na instituição na modalidade de aprendizagem e depois se formou em Processo de Construção a Seco - Drywall, como qualificação. Por meio das técnicas de pintura de parede e revestimentos, apresentou seu talento nato, que encantou os professores da unidade de Taguatinga. "Identificamos logo um potencial muito forte na parte técnica. Ele tem muita habilidade para pintura, nos traços, na criação de projetos. Agora, é só controlar a ansiedade e brigar pela medalha", observa a treinadora e expert da ocupação, Pâmela Gazoni.
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Ao contrário da dupla de Segurança cibernética, Miguel Herculano não passou pela seletiva nacional. A organização geral do evento no Brasil ofereceu ao DF que enviasse um representante para competir na Worldskills pela modalidade Pintura decorativa. Da mesma forma, Rian Patrik da Conceição Lima, 18, defenderá a bandeira verde-amarela na ocupação de Funilaria. O jovem de Ceilândia entrou no Senai pelo curso Técnico em Manutenção Automotiva, no Novo Ensino Médio, e destacou-se de imediato. É que, desde os 13, ele vivencia de perto a rotina de uma oficina mecânica, profissão que abraçou bem cedo. Agora, acompanhado pelo treinador Valmir Tavares e pelo expert Wemerson Nascimento Alves, tem a medalha de ouro como meta.
Na França, com adversários individuais de outros 17 países e regiões, Rian mostrará suas habilidades em testes que abrangem a preparação para diagnóstico e correção, a substituição de peças, o conserto de painel, o reparo em peças plásticas e o ajuste de folga do painel do veículo. "Esse processo todo de escolha e treinamentos intensos me trouxe muito amadurecimento e disciplina. Com o conhecimento que já possuo na área, tenho certeza de que estou em condições de representar bem o Brasil lá fora", garante o estudante, que, assim como os colegas, sairá do país pela primeira vez.
Geração 4.0
De acordo com a coordenadora de competições internacionais do Senai-DF, Eliseia Tavares, a Lili, os atletas olímpicos do conhecimento treinaram duro durante sete meses, até o último dia 5 e, agora, terão quatro dias para demonstrar para o mundo tudo o que adquiram de habilidades técnicas. "Estamos falando de uma geração mais atualizada, conectada com a Indústria 4.0. Eles estão muito antenados com tudo o que acontece de forma global, então a expectativa é muito alta", concluiu.
Os melhores do mundo desta edição da Worldskills serão conhecidos em 15 de setembro. O pódio terá medalhas de ouro, prata e bronze, além dos títulos de Melhor da Nação e Medalhão de Excelência.
Histórico
A Worldskills nasceu na Espanha, em 1950, logo após a Segunda Guerra Mundial. O Brasil se filiou à competição em 1981 e fez a primeira participação em 1983. A disputa ocorre a cada dois anos e as primeiras medalhas brasileiras foram conquistadas em 1989. No Brasil, o Senai e o Senac realizam as seletivas que definem os competidores que seguirão para a disputa internacional.
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