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Equipe da UnB será única brasileira a disputar torneio internacional de robótica

Estudantes de diversos cursos da Universidade de Brasília se unem para representar a instituição pela primeira vez na RoboSub, nos EUA. Na competição, os participantes desenvolvem robôs subaquáticos que se comparam a sistemas de submarinos reais

Pode parecer que robôs e piscina não têm muito em comum, mas a All Blue, equipe de robótica submarina da Universidade de Brasília (UnB), prova que isso é um engano. Formada por estudantes de engenharia mecânica, mecatrônica e outros cursos de exatas, a equipe será a primeira da UnB e a única a representar o Brasil na RoboSub 2024, competição internacional que reúne estudantes de todo o mundo para projetar e construir robôs autônomos subaquáticos. Os estudantes deixaram Brasília neste sábado para a competição, que ocorre entre os dias 5 e 11 de agosto, na Califórnia (Estados Unidos).

"Estamos todos muito animados e ansiosos. É uma oportunidade única e o clima de amizade na equipe é forte. Atualmente, contamos com 26 membros e conseguimos levar 15 integrantes. Considerando a distância, é um número muito bom", conta Álamo Monteiro, 23 anos, capitão e fundador do time.

A viagem para a competição se tornou possível graças ao apoio da Faculdade de Tecnologia da UnB, que investiu R$ 30 mil para arcar com os custos do primeiro modelo do robô e R$ 40 mil para custear a viagem. "Originalmente, a UnB iria financiar a viagem de cinco pessoas, mas optamos por utilizar a verba para pagar parcialmente a viagem de 15 membros, completando o restante por conta própria. Assim, mais pessoas podem ir e viver essa experiência", diz Álamo. Além disso, empresas como Ansys, ESSS e SolidWorks também patrocinaram a All Blue.

Confira a reportagem feita pelo repórter Eduardo Vanuncio no Instagram:

 
 
 
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Histórico

Álamo teve a ideia de criar a equipe em 2019, antes mesmo de entrar na UnB, quando conheceu a Nautilus, equipe de robótica submarina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante uma edição da Campus Party em São Paulo. "Quando entrei na universidade, já estava com vontade de trazer algo parecido para cá. Sentia falta de uma tecnologia para explorarmos o lago", compartilha o líder.

"A ideia inicial foi do Álamo, que já fazia parte de outro projeto. Ele conversou com algumas pessoas, foi juntando amigos e compartilhando a ideia e, por meio de conhecidos em comum, chegou até mim. Conversamos no restaurante universitário e a ideia foi crescendo. Fomos nos animando, até que um dia decidimos apresentar a ideia para o professor Adriano Possebon Rosa e para o diretor da Faculdade de Tecnologia (FT), Edson Paulo da Silva. Foi assim que tudo começou", detalha Pedro Henrique Matos, 21, integrante da equipe.

Campeonato

O RoboSub é uma competição que simula comportamentos de sistemas reais utilizados globalmente para exploração subaquática, mapeamento do fundo do mar e localização por sonar. Os AUVs (veículos submarinos autônomos) projetados pelos estudantes replicam esses sistemas para disputar provas desafiadoras. Lançado em 1997, o evento é copatrocinado pela RoboNation e pelo Office of Naval Research e incentiva uma nova geração de engenheiros.

"A competição dos robôs tem uma única prova, na qual todos competem. Podem participar alunos de ensino médio, graduação, mestrado e doutorado, e todos realizam as mesmas missões. Temos vários obstáculos dentro de uma piscina, com tarefas como passar por um portão, identificar e transportar objetos e lançar torpedos através de aros específicos. Essas tarefas envolvem reconhecimento de imagem e instrumentação", explica Álamo.

Além da disputa entre os dispositivos, é possível se classificar também em outras categorias. "Há prêmios para o melhor site, para o melhor desempenho em algumas provas e também prêmios em dinheiro para certas categorias. Há ainda um prêmio para o melhor relatório. Acredito que nossa maior chance seja no relatório, porque somos uma equipe muito recente, enquanto outras equipes já competem há 10, 15 anos. Então, talvez nessa parte tenhamos uma vantagem", conta Pedro Henrique.

O robô

Arquivo pessoal -
Arquivo pessoal -
Ed Alves/CB/DA.Press -
Ed Alves/CB/DA.Press -

Para a parte estrutural da tecnologia, apelidada de Iara, a equipe utiliza impressão 3D, cilindros de acrílico e perfis de alumínio. A estrutura também conta com uma controladora de voo, similar à usada em drones aéreos, pois o robô funciona como um drone subaquático. Todos os componentes são testados minuciosamente para garantir a ausência de vazamentos, já que o veículo abriga muitos eletrônicos, como um minicomputador interno, responsável pelo reconhecimento de imagem, utilizando inteligência artificial.

"O nosso robô é um AUV (veículo submarino autônomo), que opera de forma completamente autônoma, ao contrário dos mais comuns, os ROVs (veículos subaquáticos operados remotamente), que requerem controle manual via cabo ou controle remoto. O grande diferencial do projeto é que ele realiza todas as operações de forma independente, como exigido pela competição", detalha o capitão da equipe.

A equipe

A All Blue é dividida em quatro subáreas: mecânica, software, business (responsável pela parte organizacional) e naviônica (eletrônica para embarcados subaquáticos). "No total, são nove pessoas no software, nove na mecânica e oito na naviônica. Eu estou na parte de software, ajudando a programar e integrar a parte que envolve os computadores internos, os controladores com a parte elétrica e também a parte mecânica, como os motores e outros componentes", conta Gabriel Paiva, 21, estudante de mecatrônica.

"No desenvolvimento desse projeto, é essencial ter membros de diversos cursos colaborando com seus conhecimentos. Por exemplo, na mecânica, que cuida da área estrutural, é importante ter pessoas com formação em engenharia mecânica. Já no software, temos pessoal da computação contribuindo mais. Então, há várias áreas diferentes se ajudando", elucida o integrante Pedro Henrique.

Maria Luiza Rodrigues, 20, estudante de mecatrônica, faz parte da equipe na área de mecânica, com foco na modelagem do projeto. "Quando entrei, eu praticamente não sabia nada de modelagem 3D, mas a equipe ofereceu cursos, e fomos aprendendo juntos e montando. Fiquei responsável pela modelagem das peças e pela simulação, que envolve coisas como a tensão e o comportamento do robô na água", explica.

Ed Alves/CB/DA.Press -
Ed Alves/CB/DA.Press -
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Ed Alves/CB/DA.Press -
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Expectativa

A ansiedade dos membros para o evento está alta. Apesar da trajetória recente, a equipe reconhece a importância de participar. "Acho que estamos mais competindo com nós mesmos. Nossa equipe tem apenas sete meses de criação, enquanto outras têm 10 anos. Estamos indo para nos provar e ganhar experiência na nossa primeira competição, para que possamos nos consolidar como equipe", afirma o capitão do time.

"Desde o ensino médio, comecei a fazer robótica no projeto Meninas.comp. Quando escolhi fazer engenharia mecatrônica, um dos meus maiores objetivos sempre foi entrar em uma equipe de competição. Nas engenharias, no geral, vemos muito a parte teórica, e as equipes são uma oportunidade de aplicar tudo o que aprendemos. Quando soube da competição e da equipe, me interessei em participar, pois seria uma chance de juntar tudo o que aprendi até agora. Estou muito ansiosa e animada. É a primeira vez que vou participar de uma competição fora do país", explica Maria Luiza.

Além da competição, a viagem também é uma oportunidade profissional para desenvolver competências e habilidades. "Estou bem empolgado. É a primeira vez que vou viajar para fora, e vejo isso como uma oportunidade de treinar o inglês, fazer networking e colocar em prática os conhecimentos que aprendemos na teoria. É uma oportunidade que talvez eu não tenha novamente na vida, mas espero que sim", deseja Gabriel.

*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues