CIÊNCIA

Mestranda da UFG é premiada por encontrar alternativa a testes em animais

Em sua pesquisa, Lauren Dalat, 25, explora um novo método para substituir a experimentação com bichos no setor de cosméticos a partir de células-tronco dentárias. Com o estudo, a jovem foi uma das vencedoras do Lush Prize

Lara Costa*
postado em 25/08/2024 06:00 / atualizado em 25/08/2024 06:00
Lauren Dalat com o troféu da Lush Prize. -  (crédito: Arquivo Pessoal.)
Lauren Dalat com o troféu da Lush Prize. - (crédito: Arquivo Pessoal.)

O projeto da mestranda Lauren Dalat, 25 anos, foi reconhecido pelo fundo de prêmios global Lush Prize pela descoberta de método alternativo que substitui o uso de testagem em animais no setor de cosméticos. A pesquisa, intitulada Plataforma multiórgãos em chip para triagem de teratogenicidade humana de cosméticos, foi orientada pela professora de farmácia Marize Campos Valadares, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e venceu a categoria Jovens Pesquisadores do Lush Prize, que vale cerca de 10 mil libras.

A pesquisadora descobriu a potencial aplicação das células-tronco (CT) dentárias como um método alternativo ao uso de animais em testes de produtos cosméticos. A constatação foi feita diante do fato de não existir métodos in vitro — experiência realizada fora do organismo vivo — no país. A técnica é importante para avaliar se existe a teratogenicidade nesses produtos disponíveis no Brasil, ou seja, se há algum processo ou agente biológico que possa causar desenvolvimento pré-natal anormal.

O novo método também visa substituir, por exemplo, a metodologia padrão-ouro, a OECD 414, que é utilizada para testar componentes químicos nos animais. De acordo com a pesquisadora, o instrumento é eticamente questionável, porque utiliza, em média, mil animais por experimento, é laboriosa, cara e pode ser prejudicial à saúde humana. 

Desafios 

A bacharel em farmácia uniu o engajamento na causa animal com o interesse pela área da toxicologia in vitro no mestrado, com foco em aumentar a capacidade preditiva de ensaios préclínicos sem o uso animal. “No Laboratório de Ensino e Pesquisa em Toxicologia in Vitro (Tox In), desenvolvi as novas abordagens metodológicas (NAMs) para criar modelos fisiologicamente relevantes utilizando células humanas, com foco na toxicidade reprodutiva e de desenvolvimento (Dart)”, descreve. 
Além disso, ela diz que tiveram alguns desafios durante o processo, como a obtenção, a expansão e o cultivo das células-tronco dentárias no laboratório. “Apesar das dificuldades, minha equipe e eu conseguimos concluir esse processo em um ano. Um dos maiores desafios que enfrentei foi dominar várias metodologias in vitro, especialmente por ser minha primeira experiência com toxicologia in vitro” 

O estudo 

Diante dos resultados, Lauren quer desenvolver um modelo humano 3D fisiologicamente relevante para os testes, obtido de forma ética, a partir de cirurgia de abdominoplastia, que tira o excesso de pele e gordura do abdômen. A combinação do tecido da pele humana no formato 3D com elementos derivados das CT dentárias visa investigar os potenciais efeitos teratógenos quando expostos a cosméticos aplicados topicamente em cenários de exposição dinâmicos e mais realistas. 
Ela explica que o objetivo desse modelo é testar a eficiência desse método. “O desenvolvimento mesenquimal precoce humano, ou seja, do tecido embrionário, visa usar um sistema fisiologicamente relevante. Então, o plano é associá-lo à pele humana, que é a principal via de exposição aos cosméticos”. 

Repercussão 

Neste ano, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) introduziu, no Brasil, a Resolução nº 58, que proíbe o uso de animais vertebrados para fins cosméticos se os ingredientes já tiverem segurança e eficácia comprovadas. 
Diante disso, a metodologia criada está sendo examinada pelo Concea para que seja usada em avaliações de ingredientes cosméticos. O suporte financeiro recebido será totalmente revertido para fins de pesquisa, o que possibilitará a aquisição de equipamentos essenciais para a execução do projeto. 
A pesquisadora reforça que essas iniciativas podem levar não só ao progresso da pesquisa como também à redução de barreiras entre a academia e a sociedade. “Esse reconhecimento facilita a comunicação dos resultados científicos para o público em geral, promovendo uma maior compreensão e valorização da ciência e incentivando futuras colaborações e inovações.” 
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá 

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