Da Ocidental para o mundo: a trajetória de Lucas Maciel, doutor pela UnB
Lucas Maciel, 29 anos, foi destaque durante sua formação na Universidade de Brasília e hoje é desenvolvedor de softwares na Universidade da Califórnia, nos EUA. Ex-morador da Cidade Ocidental (GO), superou grandes obstáculos para realizar seus sonhos
postado em 11/08/2024 06:00 / atualizado em 11/08/2024 15:44
O profissional une as áreas de programação e ciência para ajudar no avanço de pesquisas da UC em San Diego
- (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Da Cidade Ocidental, em Goiás, para a Califórnia, nos Estados Unidos. Esse foi o salto dado por Lucas Maciel, 29 anos, que, apesar das dificuldades e dos desafios, conseguiu trilhar um caminho de sucesso na carreira acadêmica e hoje trabalha na Universidade da Califórnia (UC), uma das instituições mais prestigiadas dos EUA. Nascido e criado no Entorno do Distrito Federal, Lucas iniciou sua jornada acadêmica na Universidade de Brasília (UnB), onde também realizou mestrado e doutorado focados em bioinformática — área de conhecimento que combina biologia, ciência da computação e outras disciplinas.
Sua história no meio científico começou com estudos sobre RNAs (ácidos ribonucleicos) na cana-de-açúcar, com o objetivo de modernizar o cultivo a partir da identificação de moléculas danosas. No doutorado, passou a estudar marcadores de câncer em parceria com o Hospital Universitário de Brasília (HUB). O ex-estudante da UnB também chegou a fazer parte da graduação na Universidade de British Columbia, no Canadá, e parte do seu doutorado na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Atualmente, desenvolvedor sênior de softwares voltados para a pesquisa, ele espera continuar ajudando no avanço da ciência e no desenvolvimento humano, desbravando caminhos para o futuro.
Cidade Ocidental
Durante a infância, Lucas estudou em escolas da própria Cidade Ocidental. Ele reconhece que sempre teve facilidade nos estudos e, por conta disso, foi eleito, por dois anos seguidos, o melhor aluno da escola em que estudava, garantindo 100% de bolsa durante o período.
“Desde criança, sempre estudei em escolas locais de lá. Tive certa facilidade nos estudos e, por isso, fui bolsista na maior parte da minha vida em escolas particulares da cidade. Meus pais sempre enfatizaram a importância da educação. Eles nunca me deram roupas de marca ou coisas do tipo. Em vez disso, investiram na minha educação, e isso me fez entender que o estudo era o caminho para alcançar algo na vida”, conta.
Ao terminar o ensino fundamental, Lucas recebeu uma bolsa de 85% para cursar o ensino médio no Colégio Notre Dame e passou a estudar em Brasília. “Durante o ensino médio, meu interesse por exatas só aumentou, e, quando eu era criança, um dos meus maiores sonhos era construir um robô. Quando chegou a hora de aplicar para o vestibular, escolhi a UnB e queria um curso que me permitisse realizar esse sonho, mas que também tivesse um bom mercado de trabalho. Então, optei por engenharia de computação e passei no vestibular no meio do terceiro ano, com 16 anos”.
“No meu primeiro semestre, percebi a diferença em relação aos meus amigos que moravam em Brasília. Primeiro, eu tinha que acordar às 4h30 da manhã, me arrumar e sair de casa no escuro para pegar o ônibus, que sempre estava lotado e, muitas vezes, com goteiras em dias de chuva. Eu levava de 2 a 4 horas para chegar à UnB, dependendo do trânsito. Enquanto meus colegas moravam perto e tinham uma rotina mais tranquila, eu já enfrentava desafios antes mesmo de chegar à aula”, lembra.
Interesse gradual
Ao entrar na UnB, Lucas teve o primeiro contato com a área acadêmica ao ser selecionado para um projeto de iniciação científica (Pibic) com a professora Maria Emília, na área de bioinformática. “Inicialmente, entrei nesse projeto pela bolsa de R$ 400 por mês, pois precisava do dinheiro, já que não tinha muita condição financeira. Eu não gostava muito de ciência, muito menos de bioinformática, mas com o tempo e com a orientação da professora, comecei a me interessar”.
Após algum tempo na graduação, Lucas se inscreveu para participar do programa Ciências sem Fronteiras e realizou dois sonhos. “Sempre sonhei em morar fora e, na época, eu queria ir para o Canadá, então selecionei as melhores faculdades de lá e apliquei. Acabei sendo aceito na Universidade de British Columbia, em Vancouver. Lá, fiz parte da graduação em ciência da computação durante um ano e, no meu primeiro estágio em Vancouver, trabalhei em uma empresa de robótica, onde finalmente pude construir um robô”, diz Lucas.
Passado um ano no Canadá, ele retornou a Brasília e iniciou seu trabalho de conclusão de curso (TCC). “Pesquisei a predição de moléculas relacionadas a doenças. O título do meu trabalho foi Classificação de RNAs não codificadores longos intergênicos usando SVM: um estudo de caso de cana-de-açúcar. No estudo, ajudei a identificar moléculas responsáveis por uma doença que afetava o crescimento das plantações de cana-de-açúcar. Em paralelo, também identifiquei essas moléculas em humanos”, explica.
“Eu só tenho elogios para o Lucas. Na verdade, ele foi um aluno que conheci na graduação. Foi meu aluno de iniciação científica, depois de TCC, e trabalhou muito tempo comigo no laboratório de bioinformática aqui da universidade. Ele é um aluno muito diferenciado, especialmente no que diz respeito ao interesse e à vontade de aprender, de adquirir conhecimento, não só acadêmico, mas também de outras culturas e países. É uma grande satisfação ver o desenvolvimento dele, ver ele se tornar um profissional de nível internacional, sendo requisitado em centros de excelência acadêmica”, compartilha Maria Emília, orgulhosa.
Lucas durante sua graduação na UnB "Meus pais sempre enfatizaram a importância da educação. Eles nunca me deram roupas de marca ou coisas do tipo. Em vez disso, investiram na minha educação, e isso me fez entender que o estudo era o caminho para alcançar algo na vida".
Arquivo pessoal
O pesquisador durante sua defesa de mestrado em 2018
Arquivo pessoal
Lucas em sua defesa de doutorado, focado em câncer: "Decidi que essa seria minha missão". Ao seu lado, os professores Celia Ghedini Ralha (esquerda), João Batista de Sousa e a orientadora, Maria Emília (direita)
Fotos: Arquivo pessoal
O ocidentalense no castelo de Heidelberg, na Alemanha, pa
Arquivo pessoal
Propósito descoberto
Ao concluir o curso, Lucas resolveu continuar sua pesquisa sobre inteligência artificial e bioinformática no mestrado e no doutorado, a pedido da professora. “Logo antes de terminar meu TCC, minha orientadora me propôs continuar na academia. Então, eu me comprometi a passar alguns anos na pesquisa com ela. Mas sempre tive em mente que, apesar de gostar de ciência, eu também precisava de dinheiro para ter minha autonomia. A ciência, por si só, não me proporcionava tudo o que eu queria em termos financeiros. Por isso, decidi que continuaria na ciência porque gostava, mas também começaria a trabalhar, pois precisava”.
Em meio às incertezas, ele encontrou um propósito. “Eu fiquei em dúvida se deveria ou não continuar no doutorado. No entanto, algo aconteceu durante o mestrado que me impactou profundamente: meu primo, um dos meus melhores amigos, morreu de câncer. Isso me afetou muito e, então, minha orientadora me deu a oportunidade de trabalhar em um doutorado focado em câncer. Decidi que essa seria minha missão”, diz.
Dessa forma, Lucas passou a focar em bioinformática aplicada ao câncer, trabalhando em colaboração com o Hospital Universitário de Brasília (HuB) para identificar biomarcadores da doença. A pesquisa demonstrou que o uso de dados clínicos dos pacientes, em conjunto com marcadores biológicos encontrados pelo estudo, auxilia na predição do prognóstico e ajuda os médicos a proporem tratamentos que aumentam as chances de recuperação de pacientes com câncer colorretal.
Durante o mestrado, ele trabalhou com pesquisadores alemães e conseguiu uma vaga para fazer parte do doutorado na Alemanha, na Universidade de Leipzig. “No final do meu doutorado, passei um ano na Alemanha, onde vi como a ciência era valorizada e respeitada. Isso me fez reconsiderar meu caminho profissional. Quando retornei ao Brasil, decidi me candidatar a uma vaga no Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), localizado em Heidelberg, na Alemanha, uma instituição de pesquisa de ponta na Europa, e fui aceito”, detalha.
Realização plena
O profissional une as áreas de programação e ciência para ajudar no avanço de pesquisas da UC em San Diego
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
Lucas construiu grande parte de seu repertório acadêmico e científico na Universidade de Brasília (UnB)
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
Depois de três anos no EMBL, o chefe de Lucas estava em processo de transferência para uma nova instituição e, por apreciar o trabalho do ex-estudante da UnB, o convidou para ajudá-lo a montar um novo laboratório na Universidade da Califórnia, em San Diego. Atualmente, Lucas trabalha como senior software developer (desenvolvedor de software sênior) na instituição e continua a explorar a interseção entre programação e pesquisa científica.
“Esse é o meu trabalho atual, que combina o melhor dos dois mundos que sempre busquei: a indústria de software e a pesquisa científica. Nessa função, trabalho na interseção entre a programação e a ciência, desenvolvendo softwares voltados para a pesquisa. Auxilio tanto cientistas quanto outros programadores a criar ferramentas que ajudam a avançar o conhecimento científico. Essa mistura de habilidades, tanto da indústria quanto da academia, é algo que eu sempre quis alcançar”, comemora.
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