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Conheça a primeira bombeira trans do Amapá

Confira a história de Melissa Martel, primeira mulher transgênero a se formar militar no estado. Ela destaca que o acolhimento que recebeu foi essencial para encarar os obstáculos durante a formação na academia

Júlia Giusti*
postado em 14/07/2024 06:01 / atualizado em 16/07/2024 17:42
Melissa Martel, 25 anos, é a primeira bombeira trans do estado do Amapá -  (crédito: Arquivo pessoal)
Melissa Martel, 25 anos, é a primeira bombeira trans do estado do Amapá - (crédito: Arquivo pessoal)

Melissa Martel, 25 anos, fez história ao ser a primeira mulher trans bombeira militar do Amapá. Antes de entrar para o corpo de bombeiros, ela trabalhou em um setor burocrático, mas, prestes a terminar a faculdade de relações internacionais, relata que sentia necessidade de ter um emprego estável, então prestou vários concursos públicos e foi aprovada para o Corpo de Bombeiros Militar do estado (CBMAP). Hoje, ela tem orgulho do espaço que conseguiu alcançar. 

Melissa compartilha que, inicialmente, teve receio de ser uma mulher trans em meio a uma organização militar, pelo preconceito que poderia sofrer em razão de sua identidade de gênero. Porém, ela diz que encontrou forças diante de histórias inspiradoras, descrevendo uma sensação de pertencimento no local de trabalho, que fez com que ela não desistisse do sonho de ser bombeira.

"De primeira, eu fiquei um pouco receosa por ser uma organização militar e com medo de travar batalhas que, de certa maneira, outros candidatos não precisariam. Ao pesquisar mais a fundo sobre o histórico de pessoas trans em corporações militares, me deparei com a história da Paula e do Theo, que foram as primeiras pessoas trans a atuarem em corpos de bombeiros no Brasil. Desde então, um sentimento de possibilidade e pertencimento foi se apoderando de mim, pois, se para eles foi possível, eu o faria também", narra.

Apoio

Além da inspiração em Paula e Theo, Melissa conta que o apoio da família foi diferencial em sua trajetória, não importando "qualquer tipo de preconceito que enfrentasse no mundo, pois quem importa sempre estava lá por mim". Para ela, suas bases são a mãe e o irmão, que lhe garantiram não sair de seu lado, independentemente das batalhas. "Em cada etapa do concurso que eu ficava meio insegura, minha família deixava claro que travaria comigo qualquer batalha que fosse preciso", diz. Melissa é a segunda militar da família, se lembrando com saudosismo de um tio falecido, que era policial militar. "Meu tio, o PM Cabo Silvio, ficaria orgulhoso de mim e não mediria esforços para me ajudar nessa jornada", relata.

O acolhimento no corpo de bombeiros também foi essencial para que ela encarasse, com garra, os obstáculos durante a formação na academia, pois "as pessoas são levadas aos seus extremos durante o curso". No trabalho, compartilha que sempre foi acolhida entre os colegas e formadores, que lhe garantiram apoio e que ela tivesse a mesma experiência de qualquer outro aluno do curso. "Desde o início, o que eu mais recebi foi acolhimento e a sensação de segurança. As pessoas me afirmavam que eu também pertencia àquele lugar", expõe. 

Transformar vidas

A presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Bruna Benevides, valoriza a ação intersetorial, envolvendo empresas e Estado, para garantir sucesso profissional e oportunidades de ascensão no trabalho. "As empresas devem manter interlocução com o Estado, garantindo investimento para uma complementação na sua formação, para que as pessoas trans possam ter sucesso e ascender na carreira", comenta.  

Pioneira no CBMAP, Melissa Martel acredita no poder de transformar vidas, compartilhando que sua coragem é capaz de abrir espaço para que outras pessoas trans não desistam de seus sonhos. "Não era somente sobre a Melissa, e sim sobre muitas outras pessoas trans que, por seus receios, constrangimentos sofridos e por estarem nas estatísticas de marginalização, não puderam ingressar na carreira pública e/ou militar. Dessa forma, eu estaria abrindo espaço para que elas também possam seguir seus sonhos", explica.

Ela já percebe essa transformação, recebendo muitas mensagens de apoio e admiração de outras pessoas trans, que veem, na história dela, a possibilidade de perseguirem carreiras que não achavam possíveis. "O relato que mais me emocionou foi o de um homem trans que havia desistido de fazer o mesmo concurso que eu por ansiedade de pensar que enfrentaria os estigmas da sociedade e que não teria sua identidade respeitada. Ele me disse que a minha formatura deu a ele a força que tinha perdido há anos e que agora estava determinado a seguir seu sonho de ser militar", compartilha, orgulhosa.

*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá

 


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    - Foto: Arquivo pessoal
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    - Foto: Arquivo pessoal
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