O intercâmbio é uma experiência com potencial transformador que oferece muitos ganhos para o desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional. Pensando na importância de incentivar esse mercado, a Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta) realiza anualmente uma pesquisa sobre educação internacional e intercâmbio brasileiro, que traz uma série de dados sobre as últimas tendências do setor.
De acordo com a pesquisa, 85,7% dos estudantes brasileiros demonstraram interesse em realizar intercâmbio e, em 2023, o mercado apresentou um crescimento de 21,68% e movimentou cerca de R$ 4,6 bilhões. O presidente da Belta, Alexandre Argenta, afirma que esse é o momento mais promissor para as agências. "O mercado está se tornando cada vez mais maduro. Hoje em dia, com mais profissionais qualificados na área, o intercâmbio está mais acessível para um número maior de pessoas e, com isso, o setor continua crescendo. Este ano de 2024 pode ser, provavelmente, o maior ano em termos de volume de intercâmbio no mercado brasileiro", diz.
Principais destinos
Atualmente, o destino mais escolhido pelos brasileiros é o Canadá. O presidente da Belta afirma que o principal motivo da alta procura é o marketing do próprio país. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, havia um deficit populacional canadense, que impulsionou uma série de políticas para atrair imigrantes e movimentar a economia. "O Canadá tem sido muito popular ao longo dos anos devido a um trabalho muito eficaz de divulgação, assim como os formatos de intercâmbio muito interessantes e mais acessíveis", afirma Alexandre.
Amanda Shinkawa Sibin, 23 anos, optou pelo Canadá para fazer seu intercâmbio quando tinha 18 anos. A estudante, na época, passou duas semanas no país para estudar inglês no ILSC Education Group. "Eu escolhi o Canadá porque sempre tive muita curiosidade com a cultura, sempre achei as pessoas de lá muito diferentes e super educadas. Creio que o marketing de imigração ajudou um pouco a construir essa visão e gerar um interesse. Além disso, eles têm muitas formas de facilitar e incentivar brasileiros a irem para lá estudar e trabalhar, pontos nos quais eu dei uma boa pesquisada antes de ir", explica.
Uma surpresa revelada pela pesquisa foi o Reino Unido ter superado os Estados Unidos na lista de destinos mais procurados. Possível explicação é a política rigorosa de vistos para os EUA. "Os Estados Unidos ainda é um país muito importante no dia a dia das agências, é o terceiro destino mais procurado. Porém, entendemos que o Reino Unido ultrapassou os números em 2023, principalmente porque, para qualquer viagem aos EUA, seja ela de turismo ou intercâmbio, a pessoa precisa passar por um processo de visto, enquanto que, para o Reino Unido, que hoje é o segundo maior destino, não é necessário fazer um visto, dependendo da duração do programa", detalha Argenta.
Nova língua
Em relação aos programas de intercâmbio mais comercializados, o primeiro lugar é do curso de idioma no exterior com duração entre duas semanas e quatro meses. O estudante de medicina Antônio Vitor, 22 anos, foi um dos brasileiros que optou por essa modalidade quando ainda estava no ensino médio. "Eu fiz um intercâmbio de 2017 para 2018. Eu estava saindo do primeiro ano para o segundo e fui estudar inglês em um campus da Education First em uma cidade próxima a Nova York, chamada Tarrytown", conta. "A missão era aprender inglês. Fui para lá no final do ano e fiquei dois meses. A experiência foi maravilhosa, um aprendizado sem tamanho. Fiz muitas amizades e vivi momentos que vou levar para o resto da vida", compartilha o futuro médico.
Em segundo lugar, a modalidade mais procurada é também o curso de idioma no exterior, porém, em conjunto com o trabalho temporário. Alexandre Argenta afirma que essa é uma opção para aqueles que têm o desejo de viver essa experiência, mas não têm muito recurso para investir. "Ter uma estrutura financeira sólida proporciona mais oportunidades, mas existem intercâmbios que combinam oportunidade de estudo com trabalho no exterior. O estudante que não tem um orçamento tão grande consegue ver que, com o planejamento correto, talvez durante seu próprio intercâmbio, ele consiga ter condições de pagar", afirma.
Ana Carolina de Melo escolheu essa opção de intercâmbio justamente pelos altos valores necessários. "Eu escolhi a Irlanda justamente por ter a opção de estudar e trabalhar. Manter-se na Europa gastando em reais é quase impossível, especialmente porque, quando eu fui, o euro estava a 7 reais. Eu tinha muita vontade de conhecer outros países na Europa e a Irlanda é muito atraente nesse aspecto, porque o país é muito perto de tudo. A experiência foi muito boa, acho que todo mundo que faz intercâmbio volta com uma mentalidade diferente, pois você sai da sua zona de conforto, fica longe de todos que ama e precisa ser independente", diz Ana.
Au pair
Outro intercâmbio que vem se popularizando nos últimos anos é o de au pair (babá, na tradução). Neste programa, jovens entre 18 e 30 anos vivem temporariamente em um país estrangeiro enquanto trabalham como cuidadores de crianças para uma família anfitriã e recebem por isso. A dinâmica possibilita imersão cultural, aprendizado de um novo idioma e ganho de experiência no cuidado infantil. "O programa de au pair é um dos mais acessíveis para intercâmbio. Com inglês adequado e experiência, a pessoa é quase totalmente financiada pela família anfitriã. O estudante paga apenas taxas administrativas iniciais e, no exterior, recebe um salário, o que significa que o participante nunca investe mais do que ganha durante o intercâmbio, tornando-o vantajoso economicamente", explica o presidente da Belta.
O intercâmbio de au pair foi a modalidade escolhida por Nicole Muniz, 20 anos. A intercambista aprendeu o idioma francês em 2020 enquanto morava no Canadá e, ao retornar para o Brasil, tentou aprender inglês, mas sentiu dificuldades. "Eu sentia que precisava estar imersa em um ambiente de língua inglesa para melhorar minha fluência", lembra. Dessa forma, Nicole optou pelo programa de au pair, pois gostava de crianças e tinha o interesse de morar com uma família americana. "Tenho uma relação aberta e amigável com a família e as crianças me respeitam. Mesmo fora do horário de trabalho, gosto de passar tempo com eles. Além disso, já consegui viajar bastante e estou planejando mais viagens. Estou economizando dinheiro e meu inglês melhorou muito. A experiência tem sido maravilhosa e extremamente gratificante", reitera.
*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues