motivação

Motorista de aplicativo expõe obras autorais de forma inusitada a passageiros

Alice Zebral aproveita o trabalho como motorista de aplicativo para expor suas obras artísticas no teto do carro. As pinturas, à venda, retratam monumentos arquitetônicos da capital federal

Lara Costa*
postado em 09/06/2024 06:00
 03/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Motorista de Uber que produz quadros de Brasília para decorar seu carro e vender para os clientes. Alice Zebral. -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
03/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Motorista de Uber que produz quadros de Brasília para decorar seu carro e vender para os clientes. Alice Zebral. - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Desde janeiro deste ano, Alice Zebral, 40 anos, está trabalhando como motorista de aplicativo, mas com um diferencial: expõe, no teto do carro, quadros produzidos por ela e a mãe, Célia Melo, 67, de forma que os passageiros possam contemplá-los durante a viagem.

As obras são monumentos históricos do Distrito Federal, como a Praça dos Três Poderes e a Catedral Metropolitana de Brasília. O processo de criação passa pelas duas artistas: Alice é responsável por realçar a geometria da arquitetura brasiliense, dando seu toque único, enquanto os tons coloridos no estilo aquarela são lançados pela mãe ao fundo da tela. Cada obra custa cerca de 40 reais.

A condutora disse que escolheu Brasília pelo fato de ser a capital do país e pela história por trás de sua construção. Poder investir na pintura é a realização de um sonho para ela, que se sente mais motivada em trabalhar com a arte do que antes. "Há alguns meses, eu não estava animada nem feliz. Agora, eu tenho alegria em trabalhar, porque sei que estou levando minha arte comigo e as pessoas estão vendo o meu trabalho, então eu voltei a sonhar novamente."

Início

A arte é um aspecto importante e pessoal para a vida de Alice, que teve a própria mãe, que é artista plástica, como influência para o desenvolvimento no gosto e nas habilidades, o que a fez se interessar pelo ramo.  

Na adolescência, ela já queria cursar artes plásticas na Universidade de Brasília (UnB), mas enfrentou obstáculos, como a condição financeira restrita dos pais e a moradia distante da faculdade, em Luziânia, Goiás; além de ouvir frases desmotivadoras, como "isso não dá dinheiro". Com isso, ela acabou desistindo do sonho.

Ela escolheu, então, estudar design de interiores, mas nunca se distanciou do hobby de fazer pinturas. Chegou até a vender esses trabalhos, mas teve limitações para se sustentar. "Eu vivi da arte por um tempo em Goiânia, Goiás, onde morei por quase 10 anos, mas veio uma crise econômica, e as vendas caíram, as obras ficaram caras, aí parei de trabalhar com isso", lembra.

Logo depois, Alice se mudou para o DF e teve dois empregos distintos, um na loja de hambúrguer e açaí do irmão, por 10 anos, e outro como designer de interiores, por dois anos. "Eu gostava do processo criativo, do contato com o cliente, as visitas em obra e a parte das vendas, mas os prazos para entregar o produto e o trabalho dentro de um escritório eu não gostava, então saí."

Célia Regina de Melo, mãe da motorista, colorindo as obras
Célia Melo, mãe da artista, usa aquarela para colorir as obras (foto: Arquivo pessoal)

Encontro

Após esse período, Alice fez pinturas sacras em uma igreja do DF e, há três anos, ela passou a ver a figura divina de forma diferente. As obras que fazia foram bem recebidas pelo público cristão da igreja, mas foram as tentativas de retratar Deus que a fizeram se interessar pela arte outra vez.

"Antes, eu achava que ele (Deus) não me aceitava do jeito que eu era, e nessa igreja, eu o conheci de verdade. Tive intimidade com Ele e comecei a pensar nEle. Minha relação com Deus passou a ser como um amor à primeira vista, porque abri mão de várias coisas da minha vida para viver isso e deixei de alimentar a minha carne para alimentar o meu espírito."

A artista afirma que a experiência a fez crescer pessoalmente, e a vontade de produzir mais obras voltou mais forte do que nunca. "Quando comecei a pintar arte cristã, eu senti, ali, que era Deus me chamando para voltar, falando para mim: 'Alice, você é um artista."

Investimento

Hoje, aos 40 anos, ela consegue manifestar a arte de maneira diferente, unindo ao emprego de motorista, que também gera retorno financeiro para ela. A artista usa o Instagram (@alicezebral) para divulgar os trabalhos.

Nesse contexto, ela acredita que a internet é uma ferramenta importante para a visibilidade do trabalho, uma vez que é a vitrine para que as pessoas possam conhecê-lo.  "Eu preciso do Instagram, então estou em busca de alguém para me ajudar nas redes sociais, porque o mercado da arte é amplo. Existe o meu público, e ele está na internet."

Planos para o futuro

Apesar dos bons resultados, Alice trabalha cerca de 12 horas no emprego de motorista e considera o trabalho exaustivo, mas pretende seguir na profissão até poder consolidar e manter a venda das peças. Além da atual ocupação e das exposições, ela tem projetos futuros envolvendo seu dom. Um deles é uma proposta de "arte itinerante".

*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues

  •  03/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Motorista de Uber que produz quadros de Brasília para decorar seu carro e vender para os clientes. Alice Zebral.
    03/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Motorista de Uber que produz quadros de Brasília para decorar seu carro e vender para os clientes. Alice Zebral. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  03/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Motorista de Uber que produz quadros de Brasília para decorar seu carro e vender para os clientes. Alice Zebral.
    03/06/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Motorista de Uber que produz quadros de Brasília para decorar seu carro e vender para os clientes. Alice Zebral. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Alice Zebral se encontrou de corpo e alma nas pinturas, que usa para vender e encantar os clientes
    Alice Zebral se encontrou de corpo e alma nas pinturas, que usa para vender e encantar os clientes Minervino Júnior/CB/D.A.Press

 


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