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Sobrecarga e escassez de tempo: os desafios das mães trabalhadoras

Pesquisas revelam como a desigualdade de gênero afeta a realidade dessas mulheres e gera impactos na economia mundial

Estudos nacionais e internacionais mostram as barreiras que existem para as mulheres que querem ingressar e ascender no mercado de trabalho. A pesquisa Elas por elas, publicada em março deste ano, ouviu mil brasileiras, com mais de 18 anos e de todas as classes sociais, para entender suas percepções e oferecer um espaço para compartilharem experiências, dificuldades e aspirações.

A MindMiners, empresa de tecnologia responsável pelo levantamento, aponta dados e relata a realidade das mulheres envolvendo trabalho e carreira, relacionamentos, família, maternidade, finanças, saúde, empoderamento, autoestima, e questões culturais e sociais. Os dados confirmam a necessidade de mudanças tanto na sociedade quanto por parte do governo e das empresas recrutadoras.

"Enquanto a maternidade for vista como um obstáculo à progressão na carreira, não avançaremos como sociedade. A ausência de políticas públicas, como creches acessíveis e horários flexíveis, dificulta a vida das mães trabalhadoras, forçando-as a priorizar carreira ou família. É essencial que as empresas reconheçam e apoiem as mães no mercado de trabalho", diz trecho da pesquisa.

Diretora de marketing da MindMiners, Danielle Almeida, defende transformações também nas instituições de ensino do país, agindo desde a infância. "Como mulher e mãe, acredito que, para combater o machismo enraizado na sociedade, é essencial uma abordagem multifacetada que inclua educação, conscientização e ação concreta nas escolas e nas instituições públicas e privadas. A responsabilidade de promover um país melhor e mais equânime para as mães recai sobre todos, incluindo empresas e marcas."

Valdo Virgo - Dados da pesquisa Elas por elas, da MindMiners, sobre as mães do Brasil.

Ocupação

No ano de 2023, houve recorde histórico na ocupação feminina no mercado de trabalho, que totalizou 43.380.636 mulheres — à frente de 2022, com 42.675.531. Os dados constam na Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílio (Pnad).

Apesar de serem maioria na população (51,5%) — 6 milhões de mulheres a mais do que homens (48,5%) —, elas encaram problemas estruturais como desigualdade salarial, falta de flexibilidade no trabalho, escassez de tempo, falta de apoio social e acesso limitado a oportunidades de crescimento profissional. No caso de mães solo ou atípicas, com filhos neurodiversos, esses obstáculos são ainda maiores.

Jornada tripla

A empresa Welch's monitorou a rotina de mais de 2 mil mães americanas, com filhos entre 5 e 12 anos de idade, e descobriu que a maioria trabalha entre 98 e 100 horas por semana, em média, só para cuidar da casa e das crianças. Essa jornada equivale a trabalhar em um turno de 14 horas, sete dias por semana. Ou seja, o mesmo que trabalhar em 2,5 empregos de 40 horas semanais. 

No Brasil, de acordo com o IBGE, as mulheres prestaram essas atividades quase o dobro de tempo do que os homens (21,3 horas contra 11,7 horas) em 2022. No caso de mulheres pretas ou pardas, o envolvimento com o trabalho doméstico não remunerado foi maior em comparação com as mulheres brancas (1,6 hora a mais).

Impacto global

Em relação à igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem funções semelhantes, o Fórum Econômico Mundial divulgou que o Brasil ocupa a 130ª posição em um ranking com 153 países. Os dados são do Global Gender Gap Report 2020 (Relatório Global sobre a Lacuna de Gênero, na tradução) e reafirmam o cenário desigual.

Nesse sentido, o Banco Mundial afirma que reduzir a desigualdade de gênero no mercado de trabalho aumentaria o Produto Interno Bruto (PIB) mundial em mais de 20%. Com isso, o crescimento global poderia dobrar na próxima década.

Avanços

Neste Dia das Mães, é preciso refletir sobre os caminhos para avançar na inserção e no desenvolvimento das mulheres no mercado de trabalho. Além da participação da sociedade e das organizações, a promoção de políticas públicas por parte do Estado é fundamental. A oferta de mais creches e escolas em tempo integral e a criação de uma licença parental, por exemplo, permitiriam maior equilíbrio entre trabalho e vida familiar. É hora de tirar os direitos do papel.