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Sustentabilidade ambiental é caminho para gerar empregos, aponta pesquisa

Agenda sustentável deve conciliar meio ambiente, inclusão social e atuação de diversos setores, o que pode gerar oportunidades, emprego e renda

Júlia Giusti*
postado em 30/04/2024 10:24 / atualizado em 30/04/2024 15:24
Pesquisa foi apresentada a jornalistas em São Paulo -  (crédito: Júlia Giusti)
Pesquisa foi apresentada a jornalistas em São Paulo - (crédito: Júlia Giusti)

A sustentabilidade ambiental pode ser um caminho para gerar oportunidade, renda e empregos. É o que aponta o estudo Inclusão Produtiva e Transição para a Sustentabilidade: Oportunidades para o Brasil, lançado nesta terça-feira (30/4). O documento destaca a necessidade de conciliação entre as agendas ambiental e social para garantir a sustentabilidade.

Na segunda-feira (29/4), os principais destaques da pesquisa foram apresentados a jornalistas convidados, em São Paulo. Entre os pontos principais do estudo, estão sustentabilidade ambiental, criação de oportunidades e condições dignas de trabalho e participação conjunta de setores no debate sobre meio ambiente e inclusão produtiva.

As entidades envolvidas na pesquisa defendem a sustentabilidade como prática que envolve a geração de empregos, renda e oportunidades. Fabiana Prianti, head da B3 Social, ressalta que a educação é um caminho no combate a essas desigualdades. “A produção de conhecimento é essencial para qualificar o debate. As oportunidades vêm com uma economia verde e com o realinhamento da formação de profissionais, pensando em famílias com crianças que tanto lutam para que seu futuro não seja pautado pelo lugar onde moram”, expõe.

A diretora-executiva do Golden Tree, Yael Sandberg, acredita que “a inclusão produtiva é indissociável de promover a dignidade humana”. Ela completa: “Quando a gente fala em desenvolvimento econômico, emprego, trabalho e educação, visamos o bem-estar do ser humano com respeito à diversidade e aos direitos”.

O estudo foi realizado pela Fundação Arymax, B3 Social, Instituto Golden Tree e Instituto Itaúsa, que buscam soluções sustentáveis e inclusivas, do ponto de vista ambiental e social. A pesquisa foi desenvolvida entre julho e dezembro de 2023, envolvendo oficinas e entrevistas com especialistas, pelos institutos Veredas e Cíclica, responsáveis pela promoção sustentável para formular políticas públicas.

Empresas precisam aderir à sustentabilidade real

Contribuinte do estudo, o diretor-adjunto do Instituto Veredas, Vahíd Vahdat, afirma que o debate sobre sustentabilidade ainda é restrito à influência de grandes empresas, que concentram etapas produtivas e se colocam como “verdes”, mas sem atender a padrões de trabalho decentes. 

Ele explica que a crise climática, a exploração desenfreada de recursos naturais, a produção energética e a concentração das etapas produtivas por grandes empresas gera uma cadeia de efeitos que afetam a transição sustentável e causam desequilíbrio ao planeta. O Brasil é o quarto país que mais emite gases poluentes desde a Revolução Industrial, de acordo com os dados do site especializado em ciência e mudanças climáticas Carbon Brief. As atividades econômicas são as principais causas disso, com destaque para uso da terra, agropecuária, energia e indústria, como aponta o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).

“A gente tem um desequilíbrio no sistema de funcionamento do planeta. Ao longo do tempo, temos avançado em fazer com que os processos que sustentam a vida estejam passando do seu limite. Por isso, ele não consegue mais dar conta do que está acontecendo, aumentando a temperatura e os desastres naturais. Assim, a atividade econômica, com desmatamento, produção de energia e organização dos processos de distribuição, gera toda essa cadeia de efeitos”, diz Vahíd.

“O sistema alimentar é altamente concentrado no setor privado, que pode exercer influência muito grande nos caminhos desse sistema, como na produção de tratores, por exemplo, na qual apenas três empresas multinacionais controlam toda a produção de defensivos. As ocupações que são criadas em setores que são considerados verdes podem também não atender a padrões de trabalho decentes, com ocupações precárias. Muitas vezes, são empresas informais, de baixa qualificação e sem proteção social”, destaca.

Inclusão produtiva

Inclusão produtiva é um termo que vai além de práticas sustentáveis relacionadas ao meio ambiente, incluindo, também, a inserção de pessoas em situação de vulnerabilidade social no mundo do trabalho. Para a superintendente da Fundação Arymax, Vivianne Naigeborin, “não existe transição para a sustentabilidade sem pensar na inclusão produtiva, com visão sobre as pessoas e as desigualdades sociais”.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 64 milhões de pessoas viviam em insegurança alimentar em 2023, o que envolve incertezas quanto ao acesso de alimentos e a fome. Dados de 2021 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), mostram que 44% da população não é atendida por rede de esgoto, enquanto 15% não têm acesso à água tratada. Em 2021, o deficit habitacional atingiu quase seis milhões de brasileiros, o que inclui domicílios precários e alto custo de aluguéis.

Integração

Para Marcelo Furtado, diretor do Instituto Itaúsa, a garantia da sustentabilidade e o enfrentamento às desigualdades envolve visão sistêmica integrada, tratando os elementos de forma conjunta. “É preciso ter uma grande capacidade de adaptação e resiliência para entender nossos principais pontos de vulnerabilidade. E aí, é muito importante que a gente tenha políticas públicas inteligentes e ação do setor privado, guiadas pelo interesse público”, afirma.

A superintendente da Fundação Arymax, Vivianne Naigeborin, lembra que “não existem caminhos que são neutros, pois qualquer um deles terá impactos ambientais e sociais”. Para ela, “o desafio é combinar impactos positivos e, quando a solução não for neutra, definir como mitigar os impactos negativos”.

*Estagiária sob supervisão de Talita de Souza

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