Quando Flânia Ximenes entrou na aviação, como comissária de voo, já tinha a certeza de que iria ganhar os ares. Brasiliense graduada em letras, a aviadora se mudou para Minas Gerais e resolveu fazer uma mudança radical na carreira. Desde então, são 16 anos na aviação.
Nas últimas semanas, o vídeo de um voo comandado por ela ganhou destaque por mostrar uma equipe totalmente feminina. Nas imagens, ela apresenta a equipe e afirma estar honrada em trabalhar com o time de mulheres. Como o número de comandantes mulheres ainda é pequeno, e as tripulações costumam mudar entre as viagens, esses eventos ocorrem apenas cerca de três vezes por ano para Flânia. Por isso, sempre que tem um tempinho em meio à correria, a comandante aproveita para registrar o momento especial.
“Quando você conhece a equipe, a primeira coisa que a gente faz é uma reunião, e toda vez que eu pergunto se elas querem comentar algo, elas sorriem e falam ‘a gente quer dizer que está muito feliz porque é a primeira vez que a gente tem uma comandante mulher’”, conta.
Mesmo após mais de uma década na aviação civil, ela relata que muitos passageiros ainda se impressionam quando as portas da cabine se abrem. “Os homens querem tirar foto, acham legal, mas quem fica mais impactada mesmo são as mulheres”, relata. “Elas dizem: ‘A gente nem sabia que podia fazer isso’.”
“Acho que se eu puder dar um conselho para as mulheres é: desconsidere as vozes externas e siga em frente. Tenha fé, porque a fé é a convicção daquilo que você ainda não vê, mas sabe que vai conseguir”, declara.
Números ainda são baixos
A surpresa se deve também ao número limitado de mulheres nessa carreira. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), apenas 3% dos comandantes de voo do Brasil são mulheres. Um dos entraves, além do cenário majoritariamente masculino, são os custos. Um levantamento do Aeroclube de Juiz de Fora estima que os cursos para se tornar piloto comercial vão de R$ 35 mil a R$ 70 mil, além de custos extras como materiais, horas extras de voo, exames e taxas de licença.
Buscando reverter esse quadro de desigualdade de gênero no setor e formar uma rede de apoio entre as trabalhadoras da aviação, surgiu a Associação das Mulheres Aviadoras do Brasil (Amab). Fundado em 2018, o grupo começou apenas com pilotas, mas hoje conta com uma variedade de profissionais, entre mecânicas de aeronaves, engenheiras, comissárias de bordo e controladoras de voo.
No sábado (9/3), a Amab promove a 6ª edição do Encontro Mulheres na Aviação, que deve doar 22 bolsas de estudos para mulheres que desejam ingressar na carreira. A associação participa ainda na sexta-feira (8/3) do evento Aviação, substantivo feminino, promovido pela Anac em parceria com a Universidade de Brasília (UnB).