Carreira

Salários de profissionais ligados à matemática equivalem a 4,6% do PIB

Pesquisa revela que essas profissões oferecem remunerações 119% maiores do que a média dos demais trabalhadores

Priscila Crispi
postado em 25/02/2024 06:00 / atualizado em 25/02/2024 06:00
Fernanda Seidel, gerente de avaliação e prospecção do Itaú Social, acompanhou a realização do estudo no Brasil -  (crédito: Divulgação Itaú Social)
Fernanda Seidel, gerente de avaliação e prospecção do Itaú Social, acompanhou a realização do estudo no Brasil - (crédito: Divulgação Itaú Social)

O estudo Contribuição da Matemática para a economia brasileira, realizado pelo Itaú Social em parceria com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), revelou que os rendimentos dos profissionais que atuam em áreas ligadas à matemática correspondem a 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O montante é significativo se considerado que apenas 7,4% dos trabalhadores brasileiros realizam alguma atividade relacionada a essa área do conhecimento.

Entre as carreiras que se enquadram na categoria estão tecnologia da informação, serviços financeiros, contabilidade, auditoria, arquitetura, engenharia, testes e análises técnicas, entre outras. O estudo, que se baseou em uma pesquisa francesa, classifica essas profissões entre intensivas e não intensivas no uso da matemática, a partir da proporção que a ciência é usada em suas práticas e produtos finais.

De modo geral, a pesquisa mostra que o percentual de trabalhadores que realizam serviços ligados à matemática no país é mais baixo do que nos países europeus que integraram a análise francesa. Na Europa, o índice é de 10%.

Por aqui, as ocupações da matemática estão mais concentradas nas áreas de serviços administrativos e de tecnologia da informação do que em áreas tradicionalmente ligadas à inovação e desenvolvimento tecnológico, como engenharia e pesquisa, a exemplo do que ocorre no velho continente.

Fernanda Seidel, gerente de avaliação e prospecção do Itaú Social, explica que isso se dá pela diferença da força que cada setor produtivo tem nesses países. No caso brasileiro, as profissões matemáticas estão muito relacionadas ao setor de serviços e respondem ao aumento de empregos ofertados nessas áreas nos últimos anos.

“A nível do indivíduo, quem acaba trabalhando nessas áreas consegue salários melhores e mais formais. Mas, em nível nacional, comparando com países europeus, em que a fatia do PIB voltada a esse setor é mais alta, temos espaço para pensar no ensino de matemática como oportunidade de desenvolvimento econômico”, afirma Fernanda.

Remuneração

Gráfico
Gráfico com salários de profissionais de áreas correlatas à matemática na última década (foto: Pacífico)

O levantamento aponta que tais ocupações oferecem salários 119% maiores do que a média dos demais trabalhadores — em torno de R$ 3.520. O valor médio das demais categorias pesquisadas foi de R$ 1.607, no terceiro trimestre de 2023.

As rendas elevadas podem ser atribuídas ao alto grau de escolarização dessas profissões. Além disso, há predominância de contratos de trabalho formais, que correspondem a 84% do total dos profissionais da área.

Mesmo em contextos de recessão econômica, em que os salários caem de maneira generalizada, para todos os setores, e as condições de trabalho são precarizadas, profissões nas áreas de exatas sofrem menos impactos.

A tendência, porém, reforça privilégios. O estudo do Itaú Social revela que essas ocupações são majoritariamente exercidas por pessoas brancas (66%) e homens (69%), em um índice de exclusão maior do que a média das demais atividades no país. O número de trabalhadores pretos e pardos nessas áreas aumentou de 33% para 36%, entre 2012 e 2023, e a participação das mulheres passou de 28% para 31% no mesmo período, uma inserção quase nula para uma década de análise.

Inclusão produtiva

“Essa distorção reflete o gargalo na aprendizagem que temos. A diferença de desempenho entre meninos e meninas, estudantes brancos e negros, na série histórica do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) ou do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) revela que passa-se décadas e a exclusão não diminui”, diz Fernanda.

A especialista defende que, tanto no mundo do trabalho quanto na educação, é preciso remover o estigma desses grupos vulnerabilizados em relação à sua capacidade de aprendizagem da disciplina. “Existem expectativas mais baixas por parte de professores e pais sobre essas crianças, especificamente. Então, elas passam a achar que a matemática não é para elas. Esse imaginário social, que causa menos interesse e mais medo em meninas e negros, precisa mudar”, articula.

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