Início de ano é tempo de renovar as expectativas e se abrir para novos horizontes. E quando se trata de estudo e trabalho, não seria diferente. Buscar emprego em janeiro pode ser uma boa estratégia, segundo a empreendedora social e gestora de recursos humanos Karla Clarinda. “Muitas empresas retomam suas atividades após as festividades de fim de ano e, consequentemente, começam a recrutar novos funcionários para compor o time”, diz.
Além disso, no começo de um novo ano, as empresas fizeram o planejamento orçamentário anual, abrindo oportunidades, inclusive, para profissionais terceirizados. “Esse olhar estratégico para o mercado, aliado a uma boa preparação para enfrentar a concorrência, é fundamental e aumenta significativamente as chances de conseguir uma vaga”, complementa Karla.
Há, ainda, projeções de que, após os efeitos colaterais da pandemia de covid-19, 2024 será um ano de aquecimento do mercado, de acordo com Marcela Brito, mestre em educação profissional e tecnológica. “O primeiro trimestre do ano é o melhor período para conseguir emprego. Atualmente, com as diferentes modalidades de trabalho, é possível conseguir oportunidades em jornada presencial, híbrida e remota. Também, a chegada de empresas estrangeiras ao Brasil e a atualização de acordos com outros países trazem uma projeção positiva de investimentos e a abertura de novos postos de trabalho no país", afirma.
Brito, que atua como consultora em gestão de imagem pessoal, explica que “o mundo do trabalho está vivendo uma reviravolta em sua configuração e oferta de vagas que atendam às demandas mais urgentes previstas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), pactuados pela Organização das Nações Unidas (ONU)”. Isso significa que “governos, sociedade civil e empresas precisam fortalecer a aliança fundamentada no cumprimento de ações direcionadas para a inclusão, a equidade de gênero e a redução das desigualdades”, esclarece.
Recolocação profissional
No entanto, para muitos profissionais, essas boas práticas ainda são uma realidade distante. Solange Feliciano, 45, possui mais de 15 anos de experiência na área de tecnologia e inovação e está em busca de recolocação profissional, mas enfrenta barreiras de gênero, idade e raça. “Comecei a trabalhar com 13 anos, como auxiliar de escritório. Em janeiro deste ano faço 46, e, hoje, sou considerada um profissional multicarreira, devido às diversas capacitações que fiz. Mas sou mulher, negra, acima dos 40, mãe atípica... Tenho todo o combo de diversidade comigo. É muita coisa junta para o mercado”, brinca.
Ela conta que há mais de um ano está em busca de recolocação profissional para garantir uma renda fixa, mas o fato de ter ocupado cargos de liderança, somado à idade, acabou sendo um obstáculo para assumir posições hierarquicamente inferiores. Mas Solange não se deixa abalar. Agora, está participando de três processos seletivos que foram adiados para 2024 e está otimista para o novo ano
Mesmo com os desafios, ela segue acreditando na mudança das empresas rumo a uma cultura mais inclusiva, contra o etarismo e o preconceito racial e de gênero: “É um caminho desafiador, mas extremamente necessário para promover um ambiente de trabalho mais justo, criativo e produtivo.”
Transição de carreira
A recolocação profissional, como é o caso de Solange, é para quem busca voltar a atuar na área em que já tem experiência. Já a transição de carreira é para quem deseja mudar de profissão, explica Karla Clarinda, que também passou pelo processo. “É importante o profissional que deseja fazer a transição de carreira buscar cursos de curta duração, com certificado, bem como se conectar com profissionais da área que deseja atuar. Fazer trabalho social também é válido e enriquecedor, e estar aberto a aprender sobre novas tecnologias”, orientou.
Lucas Vieira, 25 anos, está vivendo este dilema: acha tarde para mudar de rumo, mas quer dar meia-volta e seguir o que lhe brilha os olhos. Em 2021, concluiu o curso de direito e desde então estuda para conseguir a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Tive aulas de direito durante todo o ensino médio. Além disso, meu pai sempre me motivou a estudar para concursos e seguir seu caminho no serviço público.”
No entanto, o contato com o irmão e alguns amigos que trabalham com tecnologia da informação (TI) fizeram Lucas pensar em uma carreira em desenvolvimento de sistemas voltados para a construção de games. “Percebi que o direito não era como eu imaginava assim que comecei a trabalhar em um escritório de advocacia”, conta. “Acredito que um período convivendo com pessoas que trabalham com informática traria mais segurança para definir se realmente devo investir em algo novo.” Até tomar a decisão, no tempo que sobra após o expediente, ele segue estudando e se preparando para uma possível mudança.
Primeira experiência
Para quem está começando a carreira, Marcela Brito recomenda a procura por bons estágios, e, uma vez neles, investir no relacionamento com colegas e gestores. “Para quem está vivendo a primeira experiência, foque em aprender com profissionais mais velhos e desenvolver autonomia para crescer na carreira e ser reconhecido e valorizado em seu mercado de atuação”, diz a consultora.
É o que está buscando Stefany Jansen, brasiliense de 23 anos que concluiu sua primeira graduação, relações internacionais (RI), no Rio Grande do Norte, em 2022, e retornou à capital com o objetivo de focar no setor público. Atualmente, está cursando secretariado executivo no Instituto Federal de Brasília (IFB), indo para o terceiro semestre, e pretende seguir uma carreira voltada para políticas públicas.
A estudante conta que conseguiu seu primeiro estágio, em uma empresa brasileira pública, de referência internacional, graças a uma indicação de peso: “Minha chefe no estágio havia pedido um nome diretamente para a coordenadora do meu curso. Na época, eu estava saindo do primeiro semestre e, devido a essa recomendação especial, acabei conseguindo a vaga.”
Ela explica que ser engajado dentro e fora do ambiente acadêmico é fundamental para quem está buscando ingressar no mercado, somado à construção de uma boa rede de contatos. “Estamos constantemente sendo observados”, lembra.
Apesar de não ser exatamente a área que deseja seguir, Stefany afirma que é a oportunidade perfeita para aprimorar suas habilidades em secretariado. “Para uma pessoa que não teve qualquer contato com o mercado de trabalho, o estágio é o pontapé para o desenvolvimento de habilidades e competências que só podem ser adquiridas na prática”, garante, animada com os novos aprendizados.
Atitudes práticas
Juliana Kaiser é especialista em ESG (governança ambiental, social e corporativa) e trabalha com mentoria para a busca de emprego. Para pessoas que possuem até o ensino médio, ela ressalta a importância de procurar formação em tecnologia e apoio na confecção de currículo e técnicas de entrevista, que podem ser encontradas de graça em organizações do terceiro setor.
Já para as pessoas com ensino superior, é importante atualizar o português e as técnicas de comunicação estratégica, e, se possível, aprender o inglês. “Manter-se em movimento, estudando, é fator decisivo na hora de ser escolhido para uma vaga de emprego”, orienta.
A recrutadora Karla Clarinda indica ainda que, se possível, o candidato realize cadastro no LinkedIn. “Certifique-se de que seu perfil nas redes profissionais, como o LinkedIn, esteja completo e atualizado, e mantenha-se proativo. Participe de eventos da sua área, faça networking on-line e mantenha contato com antigos colegas de trabalho. O boca a boca ainda é uma forma poderosa de encontrar oportunidades”, aponta.
Como melhorar o desempenho nas entrevistas de emprego
A entrevista de emprego é uma conversa que revela o comportamento e as intenções do candidato quanto à vaga oferecida. É o momento que o profissional tem para se diferenciar e mostrar por que a empresa deveria contratá-lo, e não os demais. Portanto, “vence a entrevista de emprego quem sabe contar a melhor história sobre a própria jornada de vida”, afirma Marcela Brito, estrategista em gestão de marca pessoal e analista de imagem e reputação.
“O storytelling (narrativa, em português) é uma técnica que deve ser aprendida e desenvolvida por todo profissional. O candidato deve contar sua história de uma maneira cativante, relatando como conseguiu superar seus desafios pessoais e profissionais, além de destacar resultados relevantes em experiências anteriores. Também precisa demonstrar interesse pela vaga e se mostrar assertivo quanto aos objetivos de crescimento profissional na empresa”, aconselha a mentora de carreiras.
Giovanni Begossi, advogado e professor de oratória, acrescenta que é importante ter uma dicção clara e concisa e não ser prolixo. “Não fale demais sobre si mesmo, pois pode acabar esquecendo de responder às perguntas de forma rápida, sucinta e que faça sentido”, recomenda. “Seja confiante não só na sua fala, mas na sua postura não verbal, isto é, não fique se encolhendo a durante a entrevista, com a cabeça baixa ou numa posição subserviente, porque fica claro para quem te olha que você não quer ser visto”, completa.
Para Micarla Lins, empreendedora e palestrante, entrevistas são oportunidades de se mostrar não somente como um bom profissional, mas como uma pessoa carismática. “Sorria, seja genuíno, escute com atenção as informações da entrevista, sempre chame a pessoa pelo nome. Se usar essas técnicas a seu favor, você vai se sair muito bem”, aposta.
Recrutamento on-line
Uma tendência que ganhou força após a pandemia de covid-19, quando muitos processos passaram a ser remotos, foi o recrutamento on-line. Nele, todas ou a maior parte das etapas são aplicadas virtualmente, do anúncio da vaga até a entrevista.
Para se adaptar a essa modalidade de seleção, Karla Clarinda, mentora de carreiras, orienta testar a conexão com a internet, câmera e microfone com antecedência, além de escolher um local silencioso, organizado e com boa iluminação, livre de distrações. Se a entrevista for realizada por meio de uma plataforma específica, como Zoom, Skype ou Meet, é importante se familiarizar com a ferramenta antes da entrevista para evitar contratempos técnicos
“Escolha suas roupas como se estivesse indo a uma entrevista presencial. Isso ajuda a criar uma impressão profissional. Ao final, pergunte até quando a empresa pretende dar o retorno, para não deixar a ansiedade dominar após a entrevista”, diz.