No fim do ano, é de praxe que as empresas promovam as tradicionais confraternizações de equipe, que têm a intenção de não só comemorar o alcance de metas institucionais, mas também servir como um momento de descontração entre os colaboradores.
Entretanto, existem regras de etiqueta corporativa que os funcionários devem seguir mesmo quando o ambiente de trabalho não se parece com a firma do dia a dia. Essas diretrizes de comportamento vão depender do tamanho, da proposta da festa e das políticas internas que as organizações estabelecem.
A consultora de imagem Débora Lafetá acredita que essas comemorações são mais que festas, mas também uma oportunidade de estabelecer novas relações profissionais, o chamado networking. "Como o estilo de roupas conta muito sobre quem a pessoa é e traz conforto para que ela se comporte de forma mais autêntica e natural, manter-se fiel ao seu estilo pessoal te trará mais bem-estar e confiança para abrir novas portas", afirma.
"Aproveite a oportunidade para ampliar a sua rede de contatos e evidenciar suas habilidades e integridade. Converse com o máximo de pessoas possível, trate todos os presentes com respeito e distinção. Divirta-se evitando excessos e mantendo-se longe das fofocas. Cada pessoa guarda uma história única que merece ser respeitada", pontua Débora.
Quando o assunto é estilo, Elena Renovato, coordenadora de relações institucionais do IBRAM, associação de mineradoras brasileiras, diz que busca combinar elegância com discrição nas festas que a instituição realiza todos os anos: "Caso for usar vestido, tenho cuidado com o decote, a altura da peça, já se for calça, não uso muito justa, e por aí vai."
A colaboradora acredita que o objetivo do evento fala por si na hora de decidir o que tirar do guarda-roupa. "Não estamos aqui para mostrar o que a gente tem fisicamente. Em festas, é normal termos um desejo de mostrar uma roupa diferente daquela que se usa no dia a dia, no escritório. Mas a regra é sempre focar na discrição, e acrescentar a beleza", comenta.
É importante manter a moderação também no comportamento, segundo Elena, já que as festas corporativas são ambientes mais sociáveis e propícios ao exagero, como o abuso no consumo de bebida alcoólica. "Existe um limite também na espontaneidade, porque às vezes as pessoas extrapolam um pouco. É preciso muita cautela, porque ao mesmo tempo que é um momento para se ter um pouco mais de proximidade com os colegas, continua sendo um ambiente profissional", diz.
Contato pessoal
O IBRAM realiza três confraternizações de fim de ano, para públicos diferentes: uma, com os funcionários de todos os setores, a segunda, com a diretoria da organização, e a terceira, com parceiros externos. Segundo Paulo Henrique Soares, diretor de comunicação da instituição, as festas têm caráter corporativo e servem para "orientar as equipes, falar das metas, o que foi certo e o que precisa ser melhorado."
O diretor fala que os eventos alternam momentos de seriedade com um ambiente descontraído. "Aqui, existe uma formalidade, uma apresentação, uma prestação de conta com os empregados. Cada diretoria tem a oportunidade de falar e apresentar seu balanço, e à noite é mesmo uma celebração, com um jantar, um coquetel ou um amigo oculto", descreve.
Nas festas do IBRAM, não há uma política restrita de traje. "Para nós, é mais fácil deixar livre porque é uma equipe pequena, então todo mundo sabe se controlar, todo mundo sabe o comportamento esperado, que é como se estivéssemos trabalhando", conta o gestor.
Cínthia Rodrigues é gerente de pesquisa do instituto há doze anos e fala que a festa mudou, ao longo desse tempo, aumentando a integração entre os escritórios — além de Brasília, o IBRAM está presente em Belo Horizonte e Belém. Antes, cada escritório realizava sua confraternização, mas, desde 2020, os trabalhadores dos três estados se encontram em Brasília.
Para ela, o evento ajuda na integração entre os colegas de trabalho, já que o contato é pessoal e não online, como são a maioria das reuniões de trabalho. "Temos melhor acolhimento com o colega, às vezes, o jeito de falar por áudio que ele manda, por exemplo, é diferente da conversa, que é mais carinhoso, mais emotivo. Então, temos a oportunidade nesse tipo de encontro de conhecer principalmente os colegas que não estão na mesma cidade."
Cínthia recomenda que, para quem quer aproveitar as festas corporativas para criar pontes profissionais, é preciso saber com quem se fala. "Em nossa festa para o público externo, lidamos com ministros, secretários, então tem todo um protocolo de comportamento. É preciso se informar do público que estamos recepcionando naquele evento", fala.
Hierarquia
A Bancorbrás realiza festas temáticas, sempre no fim de dezembro, que reúnem todos os funcionários de diferentes níveis da empresa, desde estagiários até executivos. Neste ano, o tema foi "O futuro refletido em nossos sonhos". As confraternizações são ambientadas com música, pista de dança, DJ e brindes, distribuídos entre os participantes.
Para Sérgio Garcia, gerente executivo de gente e cultura da empresa, esse tipo de evento é um forte ritual para a cultura organizacional da empresa. Ele conta que a estrutura da festa passou por mudanças, prezando por mais espaços para que haja contato entre os funcionários: "Temos 40% dos colaboradores em tele-trabalho e 60% em modo presencial, então nós temos essa preocupação das pessoas poderem interagir mais."
O gerente comenta que o propósito do evento é também que o trabalho dos funcionários seja valorizado, de forma próxima e independente de posições de poder. "Ali, é um momento onde as pessoas estão 'desuniformizadas' e são iguais, então, retiramos qualquer possibilidade de caracterização de hierarquia ou de vantagens", explica.
*Estagiária sob a supervisão de Priscila Crispi.