Lisboa — Os brasileiros estão cada vez mais interessados em se mudar para Portugal, certos de que, no país europeu, darão um salto espetacular na qualidade de vida, com um bom emprego, moradia digna, segurança e acesso gratuito a serviços públicos, como saúde e educação. Mas, entre o desejo e a realidade, há uma longa distância a ser percorrida.
A terra de Cabral oferece, sim, boas oportunidades de empregos, mas é importante ressaltar que o custo de vida aumentou muito nos últimos três, sobretudo no que se refere à habitação. Os serviços prestados pelo governo também já deixam a desejar, com greves constantes de professores e médicos. Portanto, é preciso manter os pés no chão para que o sonho não se transforme em pesadelo.
Especialista em imigração, Fábio Knauer, da Aliança Portuguesa, tem na ponta da língua dicas importantes para quem deseja fincar raízes em Portugal, a primeira, é ter certeza absoluta de que se quer emigrar. Viver em outro país não tem nada a ver com contos de fadas, muito pelo contrário. O dia a dia exige muita resiliência, pois quase tudo é diferente do Brasil. Por mais que a língua seja parecida, a cultura é outra. Os portugueses não gostam muito do jeito despojado dos brasileiros e as leis são cumpridas à risca. De nada adiante querer avançar o sinal. Há todo um processo longo de adaptação. Não à toa, tem sido recorde o número de brasileiros que vêm pedindo ajuda a organismos internacionais para retornar ao Brasil.
Outro ponto relevante para evitar futura dor de cabeça é percorrer o caminho da legalidade. Muita gente ainda acredita que pode desembarcar em Portugal como turista e ficar ilegalmente no país até conseguir a documentação adequada. Os riscos para aqueles que optam por trilhar nessa direção são grandes, como o de serem pegos pelas autoridades ou serem explorados em subempregos e empurrados para moradias precárias.
Na avaliação de Knauer, o governo português tem oferecido uma série de facilidades para quem quer trabalhar no país, devido à escassez de mão de obra e ao envelhecimento da população. Há, por exemplo, a possibilidade de se requerer vistos temporários para a busca de empregos, o que pode ser feito diretamente nos consulados portugueses no Brasil.
O diretor da Aliança Portuguesa destaca, ainda, a importância de se preparar financeiramente e emocionalmente para cruzar o Atlântico. Uma boa poupança garante que os interessados em viver em Portugal não passarão necessidades básicas. Além disso, a convicção de que se quer mudar de país ajuda nos momentos de maior fragilidade — lidar com a saudade da família não é fácil. Criadas essas bases, o especialista em imigração acredita que o caminho em direção ao tão esperado futuro será percorrido sem grandes transtornos. E, com tudo saindo como o previsto, os felizardos terão pela frente uma União Europeia inteira para explorar. E não é pouca coisa.
Passo a passo para se mudar para o continente europeu
Guia foi elaborado por Fábio Knauer, da Aliança Portuguesa
1) Ter certeza absoluta
de que quer emigrar:
De nada adianta fazer as malas acreditando que sair do país vai significar uma vida melhor, longe dos problemas e das decepções. Não é assim. Viver no exterior exige sacrifício e planejamento, porque custa caro. Não se estrutura uma vida nova do dia para a noite, sendo assim, vai-se gastar muito até que apareça uma fonte de renda. Há, ainda, as questões culturais e de clima, que precisam ser consideradas.
O alinhamento de expectativas é fundamental para se manter firme no princípio da emigração. No geral, as frustrações prevalecem.
2) Escolher o caminho certo, da legalidade:
Viver em outro país na ilegalidade é o pior que pode acontecer para uma pessoa, pois, em situação de vulnerabilidade, será alvo preferencial de exploradores. Portanto, antes de embarcar em aventuras, procure uma empresa especializada, que pode dar conselhos importantes. Para Portugal, há vistos para buscas de trabalho, para aposentados, para nômades digitais ou mesmo pedido de cidadania. Documentada, a pessoa para estudar, trabalhar e ter acesso a serviços públicos, como o de saúde, que são gratuitos e de boa qualidade. Lembre-se: imigração ilegal é crime.
3) Preparação financeira:
Ao decidir emigrar, a pessoa precisa entender que o processo começa ainda no Brasil. É imprescindível que se faça uma reserva financeira para dar fôlego, tranquilidade, para que, quando se chegar a Portugal, haja recursos para uma sobrevivência digna. Nem sempre as primeiras oportunidades são as melhores. A reserva financeira dará tempo para a pessoa escolher o que for melhor para ela. Mudar para outro país não quer dizer ficar passeando, visitando pontos turísticos. Isso não é vida real. As pessoas trabalham de segunda à sexta. Hoje, o aluguel é o custo mais elevado para imigrantes em Portugal. Por isso, é importante conseguir uma fonte de renda em euro.
4) Preparação psicológica:
Esse ponto está muito ligado ao primeiro item, os motivos que levam as pessoas a emigrarem. Aqui, porém, entram pontos específicos, como o distanciamento da família e dos amigos. Isso é muito importante e muita gente não leva a sério. É preciso estar aberto a conhecer pessoas novas. A escola é muito importante para as crianças e até a igreja pode ser um ponto de apoio relevante, assim como academias e eventos sociais. Nos momentos de dificuldades, a lembrança de familiares e amigos virá, poderá surgir um sentimento de culpa. Não será possível estar no Brasil com frequência. A solidão massacra as pessoas, mesmo com as facilidades da tecnologia, do celular.
5) Preparação profissional
e estudo de mercado:
Quem deseja emigrar precisa entender o funcionamento do mercado do país em que se vai morar. Precisa saber onde deseja viver e conhecer as demandas de mercado, sempre analisando as próprias qualificações. Isso contribuirá muito para a adaptação no mercado de trabalho. Por mais que as pessoas emigrem para Portugal, o conhecimento de inglês é importantíssimo, pois abrirá muitas portas. O português luso é diferente, muitas vezes, do português do Brasil. Essa observação vale, principalmente, para aqueles que vão lidar com o público. Muitas vezes, a pessoa terá de provar o seu valor, e não deve levar isso para o lado pessoal. É profissional.
6) Preparação habitacional
Portugal está enfrentando uma espécie de bolha imobiliária. A demanda por imóveis é muito maior do que a oferta. Sair do Brasil em direção a Portugal achando que vai resolver sozinha um aluguel ou a compra de um imóvel é um erro. Há muitas dificuldades no meio do caminho. De preferência, o ideal é emigrar já tendo um local definitivo para morar. Ficar em hostel, hotéis, airbnb gera um custo altíssimo a médio e logo prazo. Existem muitos imigrantes com dificuldades, morando de favor ou em quartos com várias pessoas. Chegar ao país europeu com o imóvel escolhido e um emprego em vista é importante. Para isso, a ajuda de um profissional é essencial.
7) Vencer os desafios e construir o futuro
Os desafios serão frequentes e muitas coisas vão sair do controle durante a vivência em Portugal. A pessoa vai trocar de trabalho duas ou três vezes, até se adaptar. Pode haver mudanças nas escolas dos filhos e pressão cultural. Contudo, se a pessoa estiver disposta a viver longe do Brasil, conseguirá superar todas as dificuldades com persistência. Não são poucos os desafios, são muitos. Mas Portugal tem muita coisa boa a oferecer. Quem conseguir superar os obstáculos, ficará mais forte para enfrentar as intempéries da vida. Os outros desafios ficam menores perto do desafio da emigração. São ganhos impagáveis. Uma enorme mudança de mentalidade.