Até hoje, o Brasil realiza sua 20ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), com atividades por todo país. A SNCT é o maior evento de popularização da produção acadêmica nacional e tem como objetivo ampliar o conhecimento da população sobre ciência, mostrar o seu valor de riqueza, de inovação e de solução para os desafios nacionais de inclusão e melhoria da qualidade de vida.
O evento é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com diversas instituições de ensino, pesquisa e órgãos governamentais. A cada ano, a SNCT aborda um tema diferente. O deste ano — ciências básicas para o desenvolvimento sustentável — reflete sobre as questões ambientais e seus impactos sociais e econômicos em um mundo em constante mudança, a partir da adoção de estratégias para a construção de um futuro sustentável.
Ciência básica é aquela produzida para o avanço dos conhecimentos relacionados aos fenômenos da natureza, humanos e das matemáticas, e pode contribuir para o desenvolvimento sustentável à medida em que fornece os meios essenciais para enfrentar desafios como o acesso universal a alimentos, energia, cobertura de saúde e tecnologias de comunicação.
Segundo Juana Nunes, diretora de popularização, tecnologia e educação científica do MCTI, o papel que o evento desempenha na promoção da cultura científica e tecnológica no Brasil é essencial para aproximar a juventude e incentivá-la a produzir conhecimento científico. A diretora explica que esta edição retomou as atividades em diferentes regiões do país. "Resgatamos o sentido da semana acontecer em todos os lugares, realmente ser algo nacional. Neste ano, está acontecendo uma grande mobilização de inúmeras universidades, institutos e escolas para pesquisas, divulgações de atividades e produções ao redor do país."
Em cada estado, a SNCT oferece uma diversidade de eventos como feiras, mostras científicas, palestras, oficinas, experimentos, atividades de observação do céu, encontros, visitas a museus e instituições de ciência e tecnologia. Em Brasília, ocorre no Centro de Convenções Ulysses Guimarães e a programação conta com stands de alunos, arena gamer, cinemas educativos e também shows.
Popularização
Durante a abertura do evento, a ministra da ciência, tecnologia e inovação, Luciana Santos, ressaltou que 2023 foi o ano de maior investimento em popularização da ciência, chegando à soma de 100 milhões de reais. Só para realização dos eventos da Semana, o MCTI investiu 15 milhões neste ano, um recorde de aplicação de recursos.
"A ciência não é uma coisa distante de nós, não é algo complicado. A ciência está em tudo e ela existe para encontrar respostas para os problemas do nosso tempo e para principalmente cuidar das pessoas. Nós não queremos que a ciência seja o assunto de poucos que fique restrita às universidades e instituições de pesquisa", defendeu a ministra.
Juana Nunes diz que no próximo ano, a proposta é que o evento se amplie ainda mais: "Nós queremos fazer algo ainda mais democrático. Queremos lançar uma consulta pública para que qualquer estudante e professor possa propor ideias e temas, e então iremos convidar um comitê para discutir essas ideias e decidir o tema do próximo ano", antecipou. A diretora afirmou que a SNCT vem atraindo mais público em suas últimas edições, mas que o planejamento da pasta é para que haja ainda mais investimento para a iniciação científica e tecnológica do país.
Educação científica
A SNCT é uma oportunidade para que instituições, escolas e universidades explorem o conhecimento e a criatividade dos seus alunos e os instiguem a participar de atividades para ajudar a comunidade. "É um evento que tira as crianças e adolescentes da bolha em que eles vivem e mostra que tem algo além do cotidiano deles. Deveriam haver mais eventos deste porte", diz a avaliadora do circuito de ciências das escolas públicas, Scarlat Ramos.
Buscando inserir os seus estudantes nessa discussão, a rede Sesi/Senai de educação montou um estande no evento em Brasília para divulgar projetos feitos na escola. O professor de linguagens Louis Fillip Maia Lins, 30 anos, do Sesi Senai de Sobradinho, ressalta a importância para a formação dos alunos. "É essencial por retirar os alunos de suas zonas de conforto, daquela postura passiva de espectador, e fazê-los correr atrás para solucionar problemas que podem aparecer no cotidiano. Nós temos projetos voltados para questões que de fato atingem nossa sociedade. Os alunos ganham autonomia e são protagonistas nesses projetos, solucionando problemas que assolam nosso dia a dia", comentou.
Neste ano, o desafio dos alunos era elaborar projetos que pudessem auxiliar suas comunidades a encontrarem soluções sustentáveis para o dia a dia. Os projetos feitos pelos estudantes variavam desde tecnologias assistivas para auxiliar pessoas com deficiência visual a utilizarem transporte público até filtros sustentáveis de baixo custo para regiões da cidade com maiores índices de vulnerabilidade.
A estudante Julia Liriel, 17, comentou sobre o impacto dos aprendizados em sua vida: "Lembro de visitarmos uma família que não tinha condições, não havia energia na casa, e nós nos sensibilizamos muito com a condição deles, o que fez com que tivéssemos mais vontade de ajudá-los. Você aprende a ver a dor dos outros."
Foi esse sentimento de empatia, que Alice Vilardi, 17, integrante do projeto Infiltradas, que cria um sistema de filtro sustentável, compartilhou com a colega. "Esse projeto abre um pouco nossa visão sobre o mundo para entender como as pessoas se sentem. Claro que ele é importante para o nosso currículo, mas esse sentimento de impactar a vida dos outros é algo muito bom", afirmou.
Futuro do trabalho
Tema da SNCT deste ano, a relação entre ciência, tecnologia e recursos naturais determina o mercado de trabalho há séculos, mas os rápidos avanços nesses campos estão acelerando a criação e o desaparecimento de profissões.
O relatório anual The Future of Jobs do Fórum Econômico Mundial apontou que nos próximos cinco anos o aumento da digitalização deve causar uma rotatividade significativa no mercado de trabalho. Dentre os 673 milhões postos de trabalho analisados pela pesquisa, a estimativa é de que 83 milhões sejam eliminados, enquanto outros 69 milhões devem ser criados.
"Espera-se que a inteligência artificial seja adotada por quase 75% das empresas pesquisadas e que leve a uma alta rotatividade, sendo que 50% das organizações esperam que ela gere crescimento de empregos e 25% que ela gere perda", diz o documento.
Entre as profissões emergentes com maiores projeções de crescimento estão especialistas em inteligência artificial e aprendizado de máquina. Logo em seguida, especialistas em sustentabilidade ambiental aparecem como a aposta do futuro. A alta demanda desses profissionais vem da necessidade de empresas atingirem suas metas de sustentabilidade ambiental.
Estagiário sob supervisão de Priscila Crispi