Há coisas que só o esporte pode ensinar. Pensando nisto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Demà Jovem by Renapsi lançaram, nesta semana, em Brasília o Olympism365 "Esporte, Educação e Meio de Vida", em uma parceria inédita no Brasil. O projeto, capitaneado pela Fundação SES, da Argentina, tem como objetivo associar os valores esportivos com os acadêmicos, gerar renda e capacitar jovens aprendizes para o mercado de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento social.
A Demà Jovem by Renapsi é a maior rede de aprendizagem do Brasil. A plataforma utiliza uma tecnologia social desenvolvida em parceira com a União Européia e testada em instituições socioeducativas na Europa e no Brasil, trabalhando principalmente na capacitação e colocação de jovens aprendizes no mercado de trabalho. Para participar do Olympism365 é preciso que o estudante esteja cadastrado na plataforma e trabalhando em uma das empresas parceiras da rede.
Currículo
Durante evento de lançamento realizado na Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB), cerca de 80 alunos puderam assistir a uma série de palestras e oficinas. À distância, estudantes de Goiás e Tocantins acompanharam as atividades de maneira virtual. O ato foi um primeiro passo para alcançar a meta de atender 10 mil jovens entre 14 e 24 anos no Distrito Federal e nos dois estados.
Serão ao todo 48 horas de aulas, conciliando teoria e prática, distribuídas ao longo de doze meses, com um encontro mensal. A meta é ensinar, através de atividades esportivas, tópicos como amizade, trabalho em equipe, solidariedade, igualdade e outros valores olímpicos que contribuam para que os estudantes saibam como enfrentar os desafios do mercado de trabalho.
Apesar das Olimpíadas acontecerem apenas a cada quatro anos, o projeto pretende inserir os princípios de coletividade e superação do espírito olímpico no cotidiano dos jovens, como forma de prepará-los para conquistarem empregos de qualidade e independência financeira.
As ações do Olympism365 fazem parte da estratégia do Comitê Olímpico Internacional para contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em especial aqueles relacionados à saúde e bem-estar, educação de qualidade, trabalho decente e crescimento econômico, consumo e produção responsáveis e ação contra a mudança global do clima.
Exemplo de ouro
A campeã olímpica Fabiana Alvim, ex-jogadora de vôlei, palestrou para os jovens em Brasília e exibiu as medalhas de ouro conquistadas em Pequim-2008 e Londres-2012. A líbero, considerada como uma das melhores da história na posição, começou a jogar ainda na escola, conciliando os treinos e a vida acadêmica, e espera incentivar que mais alunos façam o mesmo.
"Minha grande missão hoje é conscientizar jovens e atletas a buscarem suas próprias medalhas, e a educação é um grande incentivo para isso. Torço para que o esporte e a educação andem sempre juntos, nos fazendo avançar como Brasil, como sociedade e cidadãos", diz a embaixadora do projeto.
Para ela, o Olympism365 é uma iniciativa importante para que jovens interessados no esporte não abandonem seus estudos. "Nem todo atleta consegue entender que o esporte é apenas um ciclo da sua vida e que a aposentadoria pode vir muito cedo. A única certeza que você tem no final da sua trajetória é o aprendizado, então independente do rumo que quiser seguir, essa fase da formação deve ser aproveitada", completa Fabi.
Se espelhando na medalhista, a jovem Jamilly Pereira quer trilhar os mesmos passos no vôlei. Ela treina há apenas um ano na modalidade, mas já percebe melhoras na sua comunicação, evolução pessoal e até autoconhecimento, reconhecendo os benefícios do esporte para a capacitação profissional.
"Percebo que poucas empresas valorizam o esporte, então, me sinto honrada em ter a minha fazendo isso por mim. Não tenho dúvidas de que se eu souber aproveitar, vai ser um diferencial importante para mim lá na frente", analisa a jovem aprendiz.
Começar de baixo
A dirigente do departamento Olympism365 no COI, Barbara Schweizer, reforçou que o esporte oferece um grande impacto na socialização de indivíduos, podendo tirar jovens da rua e incluí-los na sociedade. "Nosso objetivo é dar apoio ao máximo de jovens possíveis e em diversos contextos sociais. Nem todos conseguem ter acesso ao esporte, então queremos proporcionar isso, para que possam ter esses benefícios e a cidadania que o esporte traz. Caso se tornem atletas, é ótimo, mas acima de tudo queremos formar cidadãos", defende.
A visão é compartilhada por Rayane Monteiro, diretora educacional da Renapsi. Para ela, a iniciativa desempenha um caráter único na inserção do jovem no mercado de trabalho, uma vez que o uso do esporte como ferramenta é um diferencial para encorajar e mobilizar os aprendizes.
"O Olympism365, que une esporte, educação e meios de subsistência, é esse conjunto de iniciativas que visam que milhares de jovens em todo o país possam desfrutar do esporte e desse enorme potencial que ele tem para desenvolver suas competências socioemocionais e trazer qualidade para a educação, transformando assim suas vidas e tornando-os cidadãos conscientes de si e das suas potencialidades", explica.
Em prol da juventude
Liderando a parceria inovadora, a Demà Jovem by Renapsi reafirma o papel da organização no apoio, formação e capacitação de novos talentos. A empresa é responsável por três dos maiores programas de aprendizagem do país, entre eles o Jovem Candango, no Distrito Federal.
"Essa é uma transformação que vai aumentar as oportunidades de emprego dos nossos jovens, aumentar as chances de empreendedorismo de todos aqueles que estão envolvidos no projeto. Trabalhar os valores olímpicos com a juventude é mostrar-lhes que cada passo, cada desafio vencido, é um degrau na construção de um futuro mais brilhante", acrescenta Rayane.
Integrante do Jovem Candango, Juscileia Silva vai aproveitar parte das lições aprendidas na disputa do Parapan-Americano em Santiago, no Chile, em sua carreira. Convocada para representar o Brasil no parabadminton, entende a prática esportiva não apenas como formação, mas como ressocialização.
"Se não fosse o esporte, eu não estaria aqui. Em certos momentos da vida, a gente se perde, mas o esporte tem esse poder de recrutamento, que foi o que aconteceu comigo. Não é só qualidade de vida e saúde, traz aquela carga de caráter, de aprendizado, vivências. Hoje, estar no curso e ver outros jovens fazendo algo bacana, sendo que poderiam estar em casa dormindo, mas vieram aprender, é fantástico. No futuro todos vão perceber a diferença", conta.
*Estagiário sob supervisão de Priscila Crispi.