Nascida na Geórgia, ex-república da União Soviética, e criada em uma favela no Rio de Janeiro, Mariam Topeshashvili superou desafios até se tornar gerente geral da América Latina na LTK, plataforma que mais movimenta investimentos de marcas em marketing de influência do mundo.
Da Europa para América do Sul, da América do Sul para América do Norte, aos 26 anos, ela atravessou continentes.
Fugindo da guerra em seu país de origem, a jovem empreendedora chegou ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 2001, com apenas quatro anos, trazida pelos pais, que não falavam português nem inglês. O desejo dos imigrantes era apenas de um recomeço.
A mãe era formada em enfermagem e o pai em ciência política. Não conseguiram a revalidação do diploma no Brasil, mas não desistiram. O pai virou ambulante e a mãe babá e diarista. Mariam conta que o fato de seus pais serem muito bem instruídos academicamente sempre a direcionou: "Mesmo quando minha família se mudou para o Brasil, em condições bem complicadas e a gente foi morar em uma comunidade no Tabajaras, tive muito o exemplo da leitura."
Ela conta que quando seu pai chegava em casa cansado, no fim do dia, sempre pegava um livro para ler. "Eu nunca entendi isso. Por que eles não estavam brincando comigo? Eram momentos de frustração, mas também serviu como um incentivo, uma virada de chave. Porque desde o início pude entender o poder que a educação e a leitura têm de te tirar da situação em que você se encontra, e conseguir transpassar, ir para outras realidades. A leitura me deixou sonhar", completa.
Quando a jovem estava com 11 anos de idade, o pai morreu, e em busca de uma saída, sua mãe conseguiu um trabalho como guia de turismo, por meio da interferência da Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Aquele ano, segundo ela, a transformou. "Para mim, era muito óbvio que eu tinha que fazer que o sonho dele se tornasse realidade. Então, virou minha missão de vida", conta.
O estudo virou uma válvula de escape para Topeshashvili. Ela participou de três olimpíadas: matemática, química e história. Na de química, foi até a fase regional, o que abriu portas para um acampamento de química na Finlândia, países mundialmente reconhecido pelos altos padrões de educação. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), a Finlândia está em segundo lugar no quesito alfabetização.
Ao voltar para o Brasil, Mariam não parou. Ainda no ensino médio, a aluna prodígio ganhou bolsa integral para estudar em um programa de verão na Universidade Yale, o 3° Ivy League, nome dado para a liga esportiva de universitários da costa leste dos Estados Unidos.
"Eu sempre fui uma pessoa de aproveitar as oportunidades e o Dom Pedro II (escola em que estudou durante o ensino médio) oferecia a possibilidade de estágio. Eu apliquei para dois estágios, um na Petrobrás, na área de química, e outro na PUC-RJ, no núcleo de ética", contou Mariam. A jovem afirma que a experiência dos dois estágios foi muito interessante porque não sabia qual era a carreira que escolheria e os estágios a ajudaram na escolha.
Rumo a Harvard
Em 2014, a jovem começou a se preparar para as aplicações em universidades americanas e conquistou bolsa integral em Harvard. Resolveu cursar ciência política, para homenagear o pai, na universidade que já formou oito presidentes dos Estados Unidos.
Voltando novamente para o Brasil, Topeshashvili decidiu empreender e abriu uma startup chamada Avocado. O empreendimento funcionava como uma dark stores. Também conhecidas como "lojas ocultas", as dark stores são instalações de armazenamento utilizadas pela indústria para receber solicitações de produtos por meio de um sistema baseado em códigos de barras. Profissionais são responsáveis por localizar os itens e entregar prontamente as compras realizadas ao consumidor.
O conceito foi tão bem aceito no mercado que a Rappi,startup que acumula hoje 6,5 milhões de usuários em sete países, gostou e comprou a ideia, tornando-se a Rappi Turbo.
No ano passado, Mariam passou a integrar a LTK, um dos maiores aplicativos de compras do mundo, como gerente geral da América Latina.
E se a carreira como empreendedora, por si só, já demonstrava seu brilhantismo, Miriam foi além e ainda conseguiu tempo para aprender quatro idiomas, além do português e do georgiano, sua língua materna: inglês, francês, espanhol e russo.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá.