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Piso salarial para enfermeiros e técnicos é esperança contra duplas jornadas

Profissionais da enfermagem relatam as dificuldades da rotina exaustiva em hospitais enquanto aguardam a valorização da categoria

A rotina de trabalho de Wederson Gonçalves não é fácil. Com os baixos salários pagos aos profissionais da saúde, ele atua como técnico de enfermagem na UPA da Ceilândia e enfermeiro em uma empresa de transporte médico privado para pagar as contas ao final do mês. A dupla, e até mesmo tripla, jornada de trabalho parece ser lugar comum para a categoria, sobretudo enquanto aguarda o início do pagamento dos valores referentes ao piso salarial da enfermagem.

"Eu sempre quis me aperfeiçoar. Comecei como técnico e, logo em seguida, fiz o curso de enfermagem, porque era assim que eu queria atuar. Hoje, trabalho como técnico e enfermeiro, porque a necessidade fala mais alto", explica Gonçalves. Para ele, a aprovação do piso seria a possibilidade de trocar a jornada dupla de trabalho pela conciliação entre a profissão de enfermeiro e a volta aos estudos por mais qualificação.

A situação da enfermeira Lígia Maria Aguiar não é diferente. Ela atua no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) com uma carga horária de 40 horas semanais, mesmo sendo concursada para uma jornada de 20 horas. Além disso, Lígia é mais um exemplo da dupla jornada na enfermagem. "Para complementar a renda, preciso conciliar o trabalho de assistência a vítimas de violência sexual com o ofício de professora na Fundação Oswaldo Cruz", explica.

Histórias como a de Wederson e Lígia são o que justifica a batalha de profissionais da enfermagem em todo o país pelo piso salarial, de acordo com Jorge Henrique Filho, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiro). "Esse pleito começou com o peso entre a complexidade do trabalho da enfermagem na saúde, o produto que a enfermagem entrega para a população, e as condições de trabalho a que o profissional se submete", afirma.

Para o presidente do SindEnfermeiro, o piso é a única forma de os trabalhadores se livrarem da rotina de duplas jornadas. "Receber o piso salarial é ter a valorização que o profissional da enfermagem precisa. Ao invés de ter dois empregos exaustivos, ele pode se dedicar a prestar ainda com mais eficiência a função que a sociedade requer dele", defende.

Frustração

A enfermeira Daniela Tavares está há quase um ano em busca de oportunidades no mercado de trabalho e afirma que os recrutadores estão temerosos quanto ao compromisso com o piso salarial. "Em algumas entrevistas, é oferecido o cargo de aprendiz, mas para trabalharmos como enfermeiro sem receber o valor do piso", diz. Para ela, que atualmente se dedica ao estudo para concursos públicos na área de enfermagem, a situação é frustrante.

Frustração também é a definição usada pelo técnico em enfermagem Paulo Nascimento para o atual cenário da categoria. Para o profissional, as responsabilidades assumidas por aqueles que lidam diariamente com a vida da população não são compatíveis com o reconhecimento recebido pela sociedade.

"Nós nos profissionalizamos para cuidar da vida, atender aos pacientes dos cuidados mais básicos aos mais precisos, para, ao final do mês, recebermos um salário que não dá para bancar um curso superior ou pagar todas as contas", relata. De acordo com o técnico, o piso da enfermagem passa até mesmo por uma questão de saúde mental. "É comum vermos colegas se afastando do trabalho por questões psiquiátricas, porque nós lidamos diariamente com situações muito desgastantes e delicadas. Acredito que, com mais valorização, essa não seria mais a nossa realidade", comenta.

Com a colaboração da estagiária Lara Costa