A independência financeira é um objetivo cada vez mais almejado entre os jovens brasileiros. De acordo com recente pesquisa do Ensino Social Profissionalizante (Espro), 84% dos jovens aprendizes têm como principal motivação trilhar o caminho da autonomia econômica. O levantamento faz parte da Pesquisa de Satisfação Jovem feita anualmente pela entidade para entender as principais aspirações, opiniões e necessidades de quem passa por programas de socioaprendizagem como o Jovem Aprendiz.
A pesquisa mostra que entre as aspirações para o futuro apontadas no levantamento estão o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional (74%), comprar uma casa própria (65%), ter uma carreira de sucesso em uma grande empresa (54%), sair da casa dos pais (49%) e fazer a diferença no mundo por meio de ações sociais (40%). Seguir uma carreira acadêmica em uma universidade é o objetivo de 36% dos jovens, estudar fora do país de 33% e ter o próprio negócio, de 26% dos 5.616 jovens participantes. A pesquisa foi realizada com menores e jovens aprendizeses de 15 a 22 anos em Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
Gerente da Espro São Paulo, Richard Piveta explica que os programas de socioaprendizagem têm papel fundamental na construção da confiança e perspectiva de futuro do jovem, principalmente por valorizar os estudos. "O princípio no programa de aprendizagem é o jovem estar estudando ou ter terminado o ensino médio. A maioria dos jovens tem o desejo de continuar estudando e no nosso programa a taxa de evasão escolar é zero", aponta.
Piveta conta que os programas de socioaprendizagem são necessários especialmente para os jovens de baixa renda. "O nosso público-alvo é o jovem de alta e altíssima vulnerabilidade. São os jovens que nós priorizamos para inserir no mercado de trabalho", explica.
Orientação
Aprender um ofício ou desenvolver habilidades valorizadas pelo mercado de trabalho é uma missão difícil para quem está começando. Para o pedagogo e empresário Wellington Mozarth, programas como o Jovem Aprendiz são fundamentais para suprir essa lacuna.
"Os ambientes que implantam programas de socioaprendizagem tendem a ter preocupações com o indivíduo além das questões profissionais. Eles fortalecem a sensação de capacidade e pertencimento", afirma Mozarth.
O pedagogo explica que a inserção do jovem no meio profissional de maneira educativa favorece o crescimento pessoal do indivíduo. Para ele, os programas de socioaprendizagem não superprotegem ou amenizam a responsabilidade do jovem, o que permite que as frustrações e erros façam parte do processo de aprendizado profissional.
De acordo com dados do relatório da Espro, 48% dos jovens inseridos nos programas de jovem e menor aprendiz aspiram ter um emprego que ajude a bancar os estudos. É o caso do estudante de medicina veterinária Rômullo Vieira, de 19 anos, que faz parte do Jovem Aprendiz e utiliza os valores recebidos para ganhar mais autonomia.
"Hoje atuo principalmente na área da logística e, mesmo não sendo minha área de interesse, me ajudou a ter um crescimento financeiro considerável e pude adquirir itens básicos por conta própria, além de poder comprar itens importantes para a minha formação acadêmica", conta.
Vieira relata ainda que, graças ao programa, adquiriu também experiências essenciais para o mercado. "Aprendi a me portar e entendi o que eu irei enfrentar no ambiente profissional, de fato", explica.
Ganhos pessoais
Os resultados da análise reforçam a visão abrangente dos programas socioeducativos, que vão além da preparação para o mercado de trabalho. Segundo o levantamento, 68% dos alunos consideram que a socioaprendizagem melhora a qualidade da vida familiar. Já para 90%, as aulas os tornam mais responsáveis. Da amostra, 86% se sentem protagonistas do próprio desenvolvimento e 77% consideram o programa de aprendizagem uma transformação na própria vida.
Segundo Mariana Vasconcelos, Psicóloga e especialista em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano, os programas de socioaprendizagem têm papel fundamental no desenvolvimento de perspectivas de futuro e escolha da trilha profissional.
"Esses programas têm a potencialidade de ampliar suas visões de futuro, abrindo um leque de possibilidades, proporcionando autoconfiança e autoestima necessárias para preparar o jovem para as escolhas da vida adulta", esclarece.
Para Samara Rodrigues, 19 anos, que foi menor aprendiz aos 16 na área de perícia do Corpo de Bombeiros, o programa foi relevante para seu direcionamento vocacional.
"Ter trabalhado no Corpo de Bombeiros me ajudou a escolher a faculdade que eu faço hoje em dia. Estou cursando biomedicina e gostaria de atuar, inclusive, nos Bombeiros", conta a estudante.
De acordo com a jovem, no período em que esteve no programa de socioaprendizagem desenvolveu habilidades pessoais que dificilmente treinaria fora do Menor Aprendiz. Para ela, o programa foi capaz de lhe tornar uma profissional competitiva.
"Minha função era fazer o primeiro contato com os civis e isso me ajudou a aprender a lidar com as pessoas e com o estresse diário. São coisas que a gente não aprende no dia a dia normalmente, e acredito que isso possa me colocar à frente no mercado de trabalho", comemora Rodrigues.
Estagiária sob a supervisão de Ana Sá