"Onde há uma vontade, há um caminho." O ditado popular importado dos ingleses e que estampa a parede do laboratório de informática do Centro Educacional Incra 8 resume bem a trajetória do professor responsável pela área na escola. Apaixonado por tecnologia, André Rocha, 47 anos, estampa na carreira uma trajetória de sucesso pautada pelo comprometimento e pela generosidade.
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"Eu respiro tecnologia. É a parte que eu mais amo fazer. Já dizia Confúcio: Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia", cita o professor. Brasiliense, André é servidor da Secretaria de Educação do DF desde 1997, quando foi chamado para assumir a vaga de professor de atividades, séries iniciais do ensino fundamental. Cursou o magistério na Escola Normal de Ceilândia, cidade onde foi criado.
Cria da rede pública de ensino, ele entende que o potencial do trabalho vai muito além de cumprir uma grade curricular. "Eu defendo o ensino público de qualidade, e com qualidade social. Não basta ser um ensino que prepara o aluno apenas sob o aspecto do currículo. Essa qualidade social é justamente para que o profissional que sai da escola tenha o compromisso de ser um cidadão e tente melhorar a comunidade a que ele pertence", reforça. "Um reflexo dessa preocupação com o meu trabalho é que eu tenho colegas que se lembram de mim."
A infância marcada pela superação trouxe referências importantes para construir a trajetória do professor. Mãe solo, dona Geralda ensinou ao único filho sobre perseverança e o exemplo de um coração gigante. "Ela era minha referência, de pessoa, de ser humano", conta. O primeiro cursinho de informática foi a matriarca que pagou para o filho, em 1989.
Nos anos seguintes, André se virou para conseguir manter o contato com a tecnologia. Alugou de um amigo o computador que usava em casa. O valor pelo uso da máquina era depositado mensalmente. Só em 1995 ele conseguiu comprar o primeiro computador pessoal, com pagamento dividido em 15 parcelas. "Eu usava o computador para digitar os trabalhos dos colegas. Foi um período em que eu ganhava um trocadinho. Era uma forma de ajudar no orçamento", detalha o professor. No mesmo ano, veio a formatura no magistério e a aprovação no concurso da Secretaria de Educação.
Enquanto aguardava ser chamado, se virou como era possível e não ficou desempregado por um momento sequer. "Vendia assinatura do Correio, fui auxiliar de farmácia e balconista de loja de cortinas e tapetes", lembra-se. "Eu tinha preocupação de ajudar minha mãe, que era cozinheira em hospital e não ganhava muito bem."
Desafios da pandemia
André conta que sempre foi convidado para trabalhar na área de tecnologia nas escolas. Em Brazlândia, chegou a coordenar um núcleo de tecnologia educacional, durante 8 anos, que tinha como foco a formação continuada de professores. Hoje, conta no currículo com quatro certificações concedidas pelo Google — uma delas restrita a cerca de 2,5 mil professores no mundo inteiro. Para completar a formação, cursou graduação em pedagogia e computação e está próximo de concluir o mestrado em tecnologias emergentes na educação, pela Must University, com sede na Flórida, nos Estados Unidos.
O trabalho durante a pandemia de covid-19 merece um capítulo à parte na carreira de André. "Estava trabalhando de 18 a 19 horas por dia. Eu encostava um pouquinho para descansar e em seguida estava acordado de novo. As pessoas divulgavam meu número e eu sempre ajudei quem me procurava", relata o professor.
Os pedidos de orientação chegavam principalmente via WhatsApp, e André não descansava enquanto houvesse uma conversa a ser respondida. No momento da volta à sala de aula, em 2020, ele coordenou o grupo que preparou quase 30 mil servidores, já que a ferramenta escolhida pela Secretaria de Educação para mediar a transmissão do conteúdo aos alunos em casa foi o Google for Education. À época, André atuava era assessor na Subsecretaria de Formação Continuada de Profissionais da Educação (Eape).
Devido à experiência com tantos professores e em tantos anos de carreira, ele percebe os dois lados do serviço público: tanto dos profissionais que se pautam apenas pela estabilidade e não se dedicam ao ofício, quanto daqueles comprometidos com o trabalho. Em relação à preparação, o cenário também é diverso. "Foi um período (da pandemia) em que eu aprendi demais com os colegas, porque tinha tanto profissionais com diferença de formação quanto aqueles professores que me ajudaram no suporte e na tutoria. Então, eu pude vivenciar essa babel que é o serviço público, tanto sob o aspecto de compromisso com a sociedade como também na questão do trabalho."
Vocação
Estar na ponta para ajudar alunos e professores é a grande missão de André na área de tecnologia, mas outros talentos afloram na mente criativa. Apesar da proximidade com a tecnologia, os games não são a sua praia. Prefere jogos de estratégia, como xadrez, e os quebra-cabeças. "Difícil abrir um jogo só por entretenimento", revela ele, que é pai de André Luiz, 13, e Dante, 19, e casado com a professora de inglês Vanessa Rocha.
Além de membro da Academia de Letras de Águas Lindas, com um livro autoral de poemas publicado e participação em 15 coletâneas, o professor é também fotógrafo amador e DJ. Recebeu por duas vezes Moção de Louvor da Câmara Legislativa do DF, por serviços relevantes prestados à comunidade. Seu livro publicado se chama Quase todos sentimentos — Em versos, e o talento para a fotografia rendeu menção honrosa em um concurso, com o clique Vida seca, que mostra paisagem de Brazlândia.
Em 2018, formou colegas em um curso sobre fotografia. A proposta era resgatar a memória das escolas por meio da fotografia e usá-las também como ferramenta pedagógica. Ele defende que momentos importantes na escola, como apresentações e festas, precisam ser registrados, para fins históricos. A proposta de preservar mídias importantes para as escolas foi tema do projeto escolhido pelo Google para a academia de Google Innovators, em 2019. "A escola acaba perdendo um pouco da identidade quando não tem um passado, uma história para contar", avalia. "O meu projeto de inovação era esse, de incentivar as escolas a registrar tudo o que acontece por meio da fotografia e ter a história da escola contada por meio de fotos: gincanas, eventos culturais e folclóricos."
Inclusão digital
"Hoje, eu trabalho no CED Incra 8, como um articulador de tecnologias digitais de informação e comunicação. Meu trabalho é dar esse suporte em dois laboratórios que a gente tem na escola", destaca. Além de dar todo o suporte para as aulas que integram o uso dos computadores, André ajuda os alunos em inscrições on-line, como do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e do Programa de Avaliação Seriada da Universidade de Brasília (PAS/UnB). "Alguns estudantes não têm computador em casa e o laboratório funciona como inclusão digital", menciona.
Apesar de estar focado no trabalho no CED Incra 8, André não deixa de auxiliar os professores que ainda o procuram como referência na área de tecnologia na rede. "Como as pessoas têm o meu contato, quase toda semana tem demanda de outras regionais", afirma, e exalta o trabalho da categoria: "Eu sempre defendi que, como servidor público, eu trabalho numa Secretaria de Educação que é uma só".
Quando perguntado sobre seu maior talento, ele coloca a tecnologia como auxiliar de todo o processo, e lança luz sobre o principal, a essência: as relações humanas. "Conversar com as pessoas, convencer, chamar para o trabalho. Essa é a minha maior facilidade."
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