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Emprego

Autistas relatam dificuldade de inserção no mercado de trabalho

De acordo com o IBGE, 8 em cada 10 profissionais com distúrbio do neurodesenvolvimento estão desempregados no Brasil. Empatia e políticas públicas são medidas defendidas por especialistas

Apesar de a inserção de autistas no ambiente corporativo ser garantida pela lei de cotas, que determina a participação mínima para quem possui qualquer deficiência, poucas pessoas do espectro de fato estão empregadas. O preconceito e a falta de assistência e de suporte para essa comunidade são algumas das razões para isso. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) detectou que 85% dos profissionais autistas estão fora do mercado de trabalho, dado que revela um longo caminho a ser percorrido para alcançar a inclusão.

Segundo dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é de que existam 70 milhões de autistas no mundo, 2 milhões deles no Brasil. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é marcado, muitas vezes, por traços de isolamento social, dificuldade de expressão e ansiedade. Por isso, apesar de ser uma condição comum, o acesso a um tratamento médico é indispensável para a integração dessas pessoas.

Arquivo Pessoal - Araújo: "Habilidades de aprendizado"

Para Alex Araujo, CEO da 4Life Prime Saúde Ocupacional, empresa do segmento de saúde e segurança do trabalho, existe é urgente garantir a integração do diagnosticado de TEA dentro das empresas. "Os autistas possuem muitas características e habilidades de aprendizado e isso não pode ser desconsiderado, pela falta de conhecimento, na hora da contratação", diz.

Cursando o último semestre de jornalismo, Luís Felipe Sales, 21 anos, também sem carteira assinada, optou por estagiar voluntariamente na assessoria de comunicação da Associação Brasileira de Autismo Comportamento e Intervenção (Abraci) do DF. Ele conta ter percebido o preconceito em seu último emprego, "quando perguntava a mesma coisa e sentia o pessoal se estressando".

Apesar do cenário difícil, Sales vislumbra mudanças no mercado para pessoas como ele. "É necessário que haja vontade política e que os legisladores façam valer ao menos as políticas fundamentais de inclusão", conclui.

De acordo com Araújo, o setor de tecnologia é o que mais contrata autistas, pois eles se destacam pelo conhecimento matemático e raciocínio lógico, além de boa memória visual, capacidade de concentração e habilidades tecnológicas. No entanto, ao empregar um autista, o local e o modo de trabalho devem sofrer adaptações que diminuam as dificuldades naturais da condição.

Inferioridade

Arquivo Pessoal - Castro: "Incômodo para os colegas"

Graduado em ciência da computação, Júlio de Castro, 41 anos, tem autismo. Desempregado há dois anos, relata que, em trabalhos anteriores, percebeu situações discriminatórias, mesmo sendo "discreto". Na visão dele, a pessoa com autismo se sente inferior, embora consiga "ver mais as coisas, ser perfeccionista". "Isso gera incômodo para os colegas", diz.

Sobre a dificuldade de reinserção no mercado de trabalho, Castro ressalta a falta de paciência dos chefes, a dificuldade em lidar com características específicas do espectro e também o estigma em relação à capacidade profissional. "Enquanto estava trabalhando, percebi que devia fazer muito além do que o normal para não ser subestimado. O mais difícil é a questão das habilidades. Por via de regra, nas entrevistas não se pode revelar que é autista, porque a empresa não contrata", afirma.

"É preciso educar a equipe para receber e saber lidar com quem tem TEA. Além disso, atribuir e demandar tarefas de alta concentração podem ajudar a desenvolver as habilidades do autista e favorecem a empresa", destaca Araújo.

Empatia

Para o diretor-presidente do Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab), Edilson Barbosa, a falta de iniciativa e, sobretudo, de empatia dos empregadores são fatores cruciais para a discriminação de profissionais autistas. "Com suas habilidades, os autistas podem contribuir tanto nas empresas privadas como no serviço público. São talentos que precisam ser devidamente aproveitados", alerta, defendendo a necessidade de qualificação certa para cada indivíduo. "Garantindo oportunidades, todos se surpreenderão", diz, lembrando que existem leis que garantem a inserção de autistas no mercado. "Falta apenas que elas sejam aplicadas."

Fundadora da Associação Brasileira de Autismo Comportamento e Intervenção (Abraci), Lucinete Ferreira de Andrade vê com preocupação o deficit de reserva de vagas para pessoas com autismo. Para ela, essa demanda reprimida se dá em razão da falta de comprometimento da área de socialização dos contratantes. "Ainda precisamos sensibilizar as empresas para as necessidades de adequações, como flexibilidade nos critérios de exigências e espaço físico adequado às especificidades da pessoa com autismo", diz.

Lucinete defende, ainda, a oferta de oficinas profissionalizantes específicas para preparar esses candidatos para o mercado de trabalho, além da presença de psicólogos nas empresas, como forma de "ajustar o diálogo entre patrões e empregados". "A realidade, hoje, é que a pessoa com autismo até consegue preencher uma vaga, mas não consegue permanecer na empresa", defende, ponderando que parte dessa problemática deve ser atribuída ao "movimento de invisibilidade da pessoa com autismo adulta".

Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende

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