Eu, Estudante

Entrevista

Sob nova direção, IFB Brasília trilha o caminho da inclusão

Nova reitora do Instituto Federal de Brasília (IFB) espera ampliar as políticas de inclusão na instituição com atenção aos estudantes em situação de vulnerabilidade, e promete ampliar a oferta de formações a distância

Reitora eleita do Instituo Federal de Brasília (IFB), a professora Veruska Ribeiro Machado, 49 anos, que deve assumir em agosto o comando da instituição, conversou com o Correio sobre os desafios de liderar uma das maiores instituições de ensino do Distrito Federal.

Com dez campus no DF, mais de 22 mil estudantes e 1.300 servidores, o IFB além dos números expressivos é considerado, em 15 anos de sua fundação, uma das melhores instituições de ensino do Centro-Oeste.


Machado, professora do IFB desde 2010, foi eleita em maio com 38,66% dos votos da comunidade universitária e espera construir novas formas de inclusão da diversidade e atenção às vulnerabilidades do corpo discente. “A ordem é observar a trajetória dos nossos estudantes em condições de vulnerabilidade”, aponta ela.

Formada em Letras pela Universidade de Brasília (UnB), Machado é mestre e doutora em educação, com especialização em gestão de políticas públicas de raça e gênero, em educação para a diversidade e a cidadania, além de língua portuguesa. Graduada também em psicanálise, a nova reitora assume o comando do IFB com o compromisso de desburocratizar e simplificar o ingresso de estudantes, fomentar o empreendedorismo com a criação das empresas júnior, ampliar a formação dos servidores da instituição, além de promover a inclusão e a sustentabilidade.

Quais as principais mudanças que espera implementar no IFB?

É importante destacar que a gestão que faremos pretende ser acolhedora, dialógica e que considere a democracia como valor. Uma instituição de ensino é um lugar de pluralidade de ideias, de construção coletiva, colaborativa, de respeito a todas as dignidades. O pilar desta gestão é o diálogo não só com a comunidade interna, mas também com a comunidade externa. A criação de canais de escuta e de participação da comunidade é uma prioridade. Nesse sentido, pretendemos expandir os projetos de inclusão no IFB. Como parte disso, estamos dando início a um censo da inclusão, o IncluCenso. O objetivo desse projeto é construir instrumentos para a gestão das políticas inclusivas no IFB a partir da construção de indicadores de qualidade que servirão de base para a execução de ações afirmativas dentro dessa instituição. A ordem é observar a trajetória dos nossos estudantes em condições de vulnerabilidade. Conhecer essa trajetória nos permitirá a proposição de projetos de inclusão, numa perspectiva de participação coletiva, com vistas a desenvolver melhores modelos de gestão da educação a públicos específicos.

Quais ações serão realizadas para mulheres em situação de vulnerabilidade?

Pretendemos pautar projetos que atendam mulheres em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes, as mulheres são submetidas a situações de violência por dependerem economicamente do agressor. Por isso, a qualificação profissional de mulheres nessa situação pode fazer uma grande diferença e, inclusive, retirá-las da situação de violência.

Pessoas transgênero terão atenção especial?

Estamos também realizando estudos para colocar em debate a implementação de cotas para o ingresso de pessoas trans na instituição. Sabemos que o Brasil ocupa o topo de um ranking cruel: é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Creio que as instituições de ensino são importantes aliadas para reverter essa situação.

Quais ações antirracistas e para indígenas espera realizar?

Precisamos também avançar para ações concretas que promovam uma educação antirracista. Projetos de ensino, pesquisa e extensão voltados para educação antirracista serão fomentados. O racismo é estrutural na nossa sociedade e precisamos combatê-lo diariamente. Para dar conta desses desafios, um dos caminhos que vejo é fortalecer o Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Específicas (Napne), institucionalizar o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabis) e o Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual (Nugedis). Vejo que precisamos, também, fortalecer a visão de sustentabilidade dentro da instituição, com a possibilidade de criação também de um núcleo ambiental. Para avançar no IFB e na nossa sociedade como um todo, precisamos buscar condições de equidade e combater todas as formas de violência que estão diariamente estruturadas na nossa vida. Faço um convite à população do Distrito Federal para visitar e conhecer os nossos campus. A estrutura está aberta a todos e esperamos nos aproximar cada vez mais da comunidade em benefício da sua realidade.

A Universidade de São Paulo (USP) adotou, recentemente, política de cotas raciais na contratação de servidores. Essa medida pode ser adotada no IFB?

Os concursos da instituição estão de acordo com a lei 12.990/2014. No período da campanha, os candidatos (a reitor) receberam uma carta aberta dos núcleos de estudos afro-brasileiros e indígenas que propõe, entre outras questões, a instauração de um programa permanente na Reitoria de Enfrentamento ao Racismo Institucional no IFB e equidade racial. Como candidata, comprometi-me com as proposições e creio que a discussão sobre a política de cotas raciais para contratação de servidores está incluída nesse bojo.

O IFB já tem dez campus. Podemos ter novas unidades?

Estamos em Planaltina, Plano Piloto, Ceilândia, Estrutural, Gama, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Samambaia, São Sebastião e Taguatinga. Somos uma instituição muito jovem, há apenas 15 anos no Distrito Federal, e em busca de melhoria constante desses campus. Por enquanto, com as implantações, por exemplo, dos centros de formações tecnológicas que estamos prestes a inaugurar. Para nossas próprias atividades atuais também estimamos receber novos colegas, professores concursados, nos próximos dias. A expansão de mais campus e novos cursos demanda ouvirmos sempre a comunidade e atuar com o Ministério da Educação, ao qual somos vinculados.

Teremos novos cursos ou ampliação das formações noturnas?

Sobre a oferta de novos cursos, como disse, é preciso fazer a escuta da comunidade interna e externa. Na área de tecnologia, já oferecemos uma série de cursos técnicos, mas vale a pena destacar o investimento que o IFB está fazendo e que continuará na próxima gestão na Escola Virtual, que é uma plataforma de oferta de cursos autoinstrucionais, chamados cursos MOOCs, sem limite de vagas e com uma carga horária mínima de 20 horas e máxima de 60 horas. Esse tipo de curso é aberto, ou seja, não possui limitação de matrícula, é autoinstrucional, isto é, não possui tutoria, e o estudante pode gerenciar seu tempo de estudo. A Escola Virtual é mais uma das ações estratégicas de fortalecimento da modalidade de Educação a Distância no IFB. A comunidade externa, em nível local e nacional, terá acesso a cursos curtos autoinstrucionais e abertos com certificação pelo IFB.

O EaD seráampliado?

Outro investimento que se iniciou na gestão atual e que continuará na próxima é o centro de referência EaD, que é um ambiente de criação coletiva e colaborativa, com espaços multimídias, de formação com e para as tecnologias, mini estúdios, salas de projetos e inovação. A comunidade externa e interna irá se beneficiar com esse projeto pela ampliação da oferta de cursos a distância. Outro ponto é que estamos aperfeiçoando nosso diálogo com a comunidade, por meio do fortalecimento da nossa ouvidoria e do reforço da nova política de comunicação, que considera tanto o uso de canais de mídia tradicionais como ambiências digitais e tecnológicas na prestação de serviço ao cidadão.

Qualificação Integrada

Francisco Ferreira de Carvalho/IFB/Reprodução - SEEDF solicita devolução de professores que estão em vigência no Campus de Planaltina do IFB

Educação profissional e emprego

Autarquia federal diretamente ligada ao Ministério da Educação (MEC) e à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, o IFB Brasília, criado em 2008, oferece educação profissional em cursos e programas de formação inicial e continuada de trabalhadores (FIC), educação profissional técnica de nível médio e educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação. Com 30 cursos superiores de graduação, 9 cursos de pós-graduação em especializações, 1 de mestrado profissional, já é uma instituição de ensino superior completa.

Na formação técnica conta com 17 cursos técnicos integrados ao ensino médio, 25 cursos técnicos para formados no ensino médio, 7 cursos para jovens e adultos com o ensino fundamental completo, além de 71 cursos de formação continuada, de curta duração com foco em uma área de atuação profissional específica. Também conta com mais 10 cursos de educação a distância (EaD).

A instituição mantém dez câmpus, localizados em Brasília e nas regiões administrativas de Planaltina, Plano Piloto, Ceilândia, Estrutural, Gama, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Samambaia, São Sebastião e Taguatinga. Em 15 anos, a instituição contabilizou cerca de 200 mil estudantes, centenas deles em situação de rua.

Um dos diferenciais dos institutos federais é a verticalização. Um câmpus de um instituto federal pode ofertar desde cursos de qualificação curtos, de 60 horas, a cursos técnicos subsequentes, além de ensino médio integrado a cursos técnicos, educação de jovens e adultos (EJA), graduação e pós-graduação.


Esses estudantes convivem no mesmo espaço e têm aula com o mesmo corpo docente. É comum, por exemplo, os institutos federais receberem estudantes que fazem uma qualificação profissional curta e depois se interessam por continuar a formação e fazem um curso técnico, chegando até a graduação.

De acordo com a reitora eleita, Veruska Machado, a verticalização é a possibilidade do aluno ampliar a escolaridade, aprofundando cada vez mais a escolarização dentro da própria instituição. No IFB Campus Samambaia, por exemplo, uma pessoa pode fazer o curso técnico de edificações na modalidade Proeja e, depois, resolver fazer o curso de engenharia civil. Essa perspectiva de verticalização, de trabalhar desde a educação básica até a pós-graduação, é uma riqueza muito grande para o estudante e para os profissionais no Distrito Federal", afirma.

Segundo ela, o curso técnico integrado de nível médio é o carro-chefe tanto do IFB Brsília como dos demais Institutos que integram a rede Federal. "É uma criação original para que os jovens possam ter uma perspectiva que envolva sólida formação geral associada à vivência com a atividade profissional, frequentando laboratórios bem equipados, trabalhando com docentes e outros profissionais da educação oriundos de diversas áreas", frisa Veruska.

"O ensino médio integrado, como é conhecido, além de permitir a formação profissional, ampliando as condições de empregabilidade dos jovens, dá também condições para esse egresso trilhar diferentes rumos. O jovem pode sair do IFB e ser empregado como técnico, mas também pode fazer o Enem e dar continuidade à escolarização", completa.