Entrevista

Sob nova direção, IFB Brasília trilha o caminho da inclusão

Nova reitora do Instituto Federal de Brasília (IFB) espera ampliar as políticas de inclusão na instituição com atenção aos estudantes em situação de vulnerabilidade, e promete ampliar a oferta de formações a distância

Jáder Rezende
postado em 11/06/2023 06:00 / atualizado em 11/06/2023 06:00
Segunda mulher consecutiva a comandar o Instituto Federal de Brasília (IFB), a reitora eleita Veruska Machado pretende fortalecer e ampliar a formação de servidores, a inclusão de minorias, com ações antirracistas e para indígenas e instituir cotas para pessoas trans e servidores negros, além de ampliar debates sobre sustentabilidade. -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Segunda mulher consecutiva a comandar o Instituto Federal de Brasília (IFB), a reitora eleita Veruska Machado pretende fortalecer e ampliar a formação de servidores, a inclusão de minorias, com ações antirracistas e para indígenas e instituir cotas para pessoas trans e servidores negros, além de ampliar debates sobre sustentabilidade. - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Reitora eleita do Instituo Federal de Brasília (IFB), a professora Veruska Ribeiro Machado, 49 anos, que deve assumir em agosto o comando da instituição, conversou com o Correio sobre os desafios de liderar uma das maiores instituições de ensino do Distrito Federal.

Com dez campus no DF, mais de 22 mil estudantes e 1.300 servidores, o IFB além dos números expressivos é considerado, em 15 anos de sua fundação, uma das melhores instituições de ensino do Centro-Oeste.


Machado, professora do IFB desde 2010, foi eleita em maio com 38,66% dos votos da comunidade universitária e espera construir novas formas de inclusão da diversidade e atenção às vulnerabilidades do corpo discente. “A ordem é observar a trajetória dos nossos estudantes em condições de vulnerabilidade”, aponta ela.

Formada em Letras pela Universidade de Brasília (UnB), Machado é mestre e doutora em educação, com especialização em gestão de políticas públicas de raça e gênero, em educação para a diversidade e a cidadania, além de língua portuguesa. Graduada também em psicanálise, a nova reitora assume o comando do IFB com o compromisso de desburocratizar e simplificar o ingresso de estudantes, fomentar o empreendedorismo com a criação das empresas júnior, ampliar a formação dos servidores da instituição, além de promover a inclusão e a sustentabilidade.

Quais as principais mudanças que espera implementar no IFB?

É importante destacar que a gestão que faremos pretende ser acolhedora, dialógica e que considere a democracia como valor. Uma instituição de ensino é um lugar de pluralidade de ideias, de construção coletiva, colaborativa, de respeito a todas as dignidades. O pilar desta gestão é o diálogo não só com a comunidade interna, mas também com a comunidade externa. A criação de canais de escuta e de participação da comunidade é uma prioridade. Nesse sentido, pretendemos expandir os projetos de inclusão no IFB. Como parte disso, estamos dando início a um censo da inclusão, o IncluCenso. O objetivo desse projeto é construir instrumentos para a gestão das políticas inclusivas no IFB a partir da construção de indicadores de qualidade que servirão de base para a execução de ações afirmativas dentro dessa instituição. A ordem é observar a trajetória dos nossos estudantes em condições de vulnerabilidade. Conhecer essa trajetória nos permitirá a proposição de projetos de inclusão, numa perspectiva de participação coletiva, com vistas a desenvolver melhores modelos de gestão da educação a públicos específicos.

Quais ações serão realizadas para mulheres em situação de vulnerabilidade?

Pretendemos pautar projetos que atendam mulheres em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes, as mulheres são submetidas a situações de violência por dependerem economicamente do agressor. Por isso, a qualificação profissional de mulheres nessa situação pode fazer uma grande diferença e, inclusive, retirá-las da situação de violência.

Pessoas transgênero terão atenção especial?

Estamos também realizando estudos para colocar em debate a implementação de cotas para o ingresso de pessoas trans na instituição. Sabemos que o Brasil ocupa o topo de um ranking cruel: é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Creio que as instituições de ensino são importantes aliadas para reverter essa situação.

Quais ações antirracistas e para indígenas espera realizar?

Precisamos também avançar para ações concretas que promovam uma educação antirracista. Projetos de ensino, pesquisa e extensão voltados para educação antirracista serão fomentados. O racismo é estrutural na nossa sociedade e precisamos combatê-lo diariamente. Para dar conta desses desafios, um dos caminhos que vejo é fortalecer o Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Específicas (Napne), institucionalizar o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabis) e o Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual (Nugedis). Vejo que precisamos, também, fortalecer a visão de sustentabilidade dentro da instituição, com a possibilidade de criação também de um núcleo ambiental. Para avançar no IFB e na nossa sociedade como um todo, precisamos buscar condições de equidade e combater todas as formas de violência que estão diariamente estruturadas na nossa vida. Faço um convite à população do Distrito Federal para visitar e conhecer os nossos campus. A estrutura está aberta a todos e esperamos nos aproximar cada vez mais da comunidade em benefício da sua realidade.

A Universidade de São Paulo (USP) adotou, recentemente, política de cotas raciais na contratação de servidores. Essa medida pode ser adotada no IFB?

Os concursos da instituição estão de acordo com a lei 12.990/2014. No período da campanha, os candidatos (a reitor) receberam uma carta aberta dos núcleos de estudos afro-brasileiros e indígenas que propõe, entre outras questões, a instauração de um programa permanente na Reitoria de Enfrentamento ao Racismo Institucional no IFB e equidade racial. Como candidata, comprometi-me com as proposições e creio que a discussão sobre a política de cotas raciais para contratação de servidores está incluída nesse bojo.

O IFB já tem dez campus. Podemos ter novas unidades?

Estamos em Planaltina, Plano Piloto, Ceilândia, Estrutural, Gama, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Samambaia, São Sebastião e Taguatinga. Somos uma instituição muito jovem, há apenas 15 anos no Distrito Federal, e em busca de melhoria constante desses campus. Por enquanto, com as implantações, por exemplo, dos centros de formações tecnológicas que estamos prestes a inaugurar. Para nossas próprias atividades atuais também estimamos receber novos colegas, professores concursados, nos próximos dias. A expansão de mais campus e novos cursos demanda ouvirmos sempre a comunidade e atuar com o Ministério da Educação, ao qual somos vinculados.

Teremos novos cursos ou ampliação das formações noturnas?

Sobre a oferta de novos cursos, como disse, é preciso fazer a escuta da comunidade interna e externa. Na área de tecnologia, já oferecemos uma série de cursos técnicos, mas vale a pena destacar o investimento que o IFB está fazendo e que continuará na próxima gestão na Escola Virtual, que é uma plataforma de oferta de cursos autoinstrucionais, chamados cursos MOOCs, sem limite de vagas e com uma carga horária mínima de 20 horas e máxima de 60 horas. Esse tipo de curso é aberto, ou seja, não possui limitação de matrícula, é autoinstrucional, isto é, não possui tutoria, e o estudante pode gerenciar seu tempo de estudo. A Escola Virtual é mais uma das ações estratégicas de fortalecimento da modalidade de Educação a Distância no IFB. A comunidade externa, em nível local e nacional, terá acesso a cursos curtos autoinstrucionais e abertos com certificação pelo IFB.

O EaD seráampliado?

Outro investimento que se iniciou na gestão atual e que continuará na próxima é o centro de referência EaD, que é um ambiente de criação coletiva e colaborativa, com espaços multimídias, de formação com e para as tecnologias, mini estúdios, salas de projetos e inovação. A comunidade externa e interna irá se beneficiar com esse projeto pela ampliação da oferta de cursos a distância. Outro ponto é que estamos aperfeiçoando nosso diálogo com a comunidade, por meio do fortalecimento da nossa ouvidoria e do reforço da nova política de comunicação, que considera tanto o uso de canais de mídia tradicionais como ambiências digitais e tecnológicas na prestação de serviço ao cidadão.

Qualificação Integrada

SEEDF solicita devolução de professores que estão em vigência no Campus de Planaltina do IFB
SEEDF solicita devolução de professores que estão em vigência no Campus de Planaltina do IFB (foto: Francisco Ferreira de Carvalho/IFB/Reprodução)

Educação profissional e emprego

Autarquia federal diretamente ligada ao Ministério da Educação (MEC) e à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, o IFB Brasília, criado em 2008, oferece educação profissional em cursos e programas de formação inicial e continuada de trabalhadores (FIC), educação profissional técnica de nível médio e educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação. Com 30 cursos superiores de graduação, 9 cursos de pós-graduação em especializações, 1 de mestrado profissional, já é uma instituição de ensino superior completa.

Na formação técnica conta com 17 cursos técnicos integrados ao ensino médio, 25 cursos técnicos para formados no ensino médio, 7 cursos para jovens e adultos com o ensino fundamental completo, além de 71 cursos de formação continuada, de curta duração com foco em uma área de atuação profissional específica. Também conta com mais 10 cursos de educação a distância (EaD).

A instituição mantém dez câmpus, localizados em Brasília e nas regiões administrativas de Planaltina, Plano Piloto, Ceilândia, Estrutural, Gama, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Samambaia, São Sebastião e Taguatinga. Em 15 anos, a instituição contabilizou cerca de 200 mil estudantes, centenas deles em situação de rua.

Um dos diferenciais dos institutos federais é a verticalização. Um câmpus de um instituto federal pode ofertar desde cursos de qualificação curtos, de 60 horas, a cursos técnicos subsequentes, além de ensino médio integrado a cursos técnicos, educação de jovens e adultos (EJA), graduação e pós-graduação.


Esses estudantes convivem no mesmo espaço e têm aula com o mesmo corpo docente. É comum, por exemplo, os institutos federais receberem estudantes que fazem uma qualificação profissional curta e depois se interessam por continuar a formação e fazem um curso técnico, chegando até a graduação.

De acordo com a reitora eleita, Veruska Machado, a verticalização é a possibilidade do aluno ampliar a escolaridade, aprofundando cada vez mais a escolarização dentro da própria instituição. No IFB Campus Samambaia, por exemplo, uma pessoa pode fazer o curso técnico de edificações na modalidade Proeja e, depois, resolver fazer o curso de engenharia civil. Essa perspectiva de verticalização, de trabalhar desde a educação básica até a pós-graduação, é uma riqueza muito grande para o estudante e para os profissionais no Distrito Federal", afirma.

Segundo ela, o curso técnico integrado de nível médio é o carro-chefe tanto do IFB Brsília como dos demais Institutos que integram a rede Federal. "É uma criação original para que os jovens possam ter uma perspectiva que envolva sólida formação geral associada à vivência com a atividade profissional, frequentando laboratórios bem equipados, trabalhando com docentes e outros profissionais da educação oriundos de diversas áreas", frisa Veruska.

"O ensino médio integrado, como é conhecido, além de permitir a formação profissional, ampliando as condições de empregabilidade dos jovens, dá também condições para esse egresso trilhar diferentes rumos. O jovem pode sair do IFB e ser empregado como técnico, mas também pode fazer o Enem e dar continuidade à escolarização", completa.

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