"O momento de transformação digital de estados e municípios é agora", diz especialista

Luis Felipe Monteiro - (crédito: Marcus Knoedt/Divulgação)

Um case internacional de digitalização em território de dimensões continentais, o país exibe dados de encher os olhos: quase 100% dos brasileiros acessam a internet, utilizam o celular para esse acesso e ficam permanentemente conectados.

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A despeito dessa importante conquista, é preciso dar continuidade e tornar efetiva a segunda onda da transformação digital para que o avanço dos últimos anos se espalhe entre os estados e nossos 5.570 municípios.

Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense no encerramento do WebSummit Rio, Luis Felipe Monteiro, um dos líderes da plataforma gov.br e CEO da fintech Cateno de meios digitais de pagamento, fala sobre o momento atual da transformação digital no Brasil, os desafios para governos, as oportunidades para startups e o que fazer para garantir os benefícios da digitalização. A próxima fase, diz, é chegar às comunidades mais distantes.

Quais são os desafios da próxima fase da transformação digital?

O Brasil está acelerando enormemente a transformação digital, temos 90% dos brasileiros acessando a internet, 99% das pessoas acessando celulares, o Brasil já é o quinto maior usuário de internet do mundo e a gente fica nove horas por dia conectado, então, o Brasil é super digitalizado.

O que ainda resta fazer?

A próxima barreira é chegar às populações mais distantes e o 5G tem papel relevante nisso. E tem o papel do governo para que a gente tenha cobertura de internet, isso é fundamental e nós, do setor financeiro, podemos apoiar essa aceleração com inclusão financeira.

Como é acelerar a digitalização com inclusão financeira?

Esse processo é um ato contínuo: o Banco Central vem trabalhando fortemente para simplificar o sistema financeiro brasileiro sem perder a atenção na segurança e credibilidade dos nossos bancos. Temos fintechs nascendo todos os dias e sendo aceleradas via open banking e pagamentos instantâneos como o Pix, tudo isso traz facilidade e permite a atuação das novas fintechs. Cada uma vai encontrar o seu nicho e fazer seus investimentos, o mundo digital é fundamental pra isso porque grande parte das pessoas não vai ter acesso a uma agência bancária para abrir suas contas e vai fazer isso através das fintechs e bancos digitais.

Qual o papel do governo nisso?

O governo tem um papel forte em adotar meios digitais de pagamento para fazer as suas transações. É fundamental que os governos adotem a aceitação de múltiplos meios de pagamento para recebimento de tributos, taxas e tarifas. É fundamental que os governos simplifiquem e automatizem a transferência de recursos nos diferentes níveis de governos federal, estadual e municipais e, também, que façam pagamentos de benefícios sociais usando todas as tecnologias disponíveis com identidade forte e atenção focada em prevenção a fraudes para fazer com que esse dinheiro chegue às pessoas através do sistema financeiro.

E como estados e municípios podem acelerar essa transformação digital?

É possível fazer, é necessário investimento em recursos financeiros, unidades dedicadas à transformação digital em cada um dos entes, times capacitados e plataformas compartilhadas.

E onde o gov.br entra?

A estratégia nacional de transformação digital existe pela lei de governo digital e estados e municípios devem se conectar a essa estratégia e usar as plataformas oferecidas pelo governo federal. O gov.br acelera muito a transformação e, com isso, as coisas vão acontecer. Claro que o Brasil é muito grande, muito diverso e as dificuldades são inúmeras, mas com coordenação e trabalhando em conjunto as coisas vão acontecer e vamos chegar lá com forte patrocínio do governo federal e dos líderes estaduais municipais.

Isso está acontecendo?

O momento da transformação digital de governos é agora. E é agora não só no Brasil, mas na América Latina como um todo e, nisso, existe uma grande oportunidade. Há muitas pessoas envolvidas digitalmente acessando serviços privados digitais e cobrando que os governos também ofereçam uma presença digital forte. Há estados mais desenvolvidos que outros, mas todos estão se ligando nesse tema buscando desenvolver suas próprias estratégias e montar os times dedicados à transformação digital.

O Brasil é realmente uma referência em digitalização?

Somos o segundo país com o governo digital mais maduro do mundo de acordo com o Banco Mundial, atrás apenas da Coreia do Sul. E, claro que o Brasil é um exemplo para o mundo dada sua dimensão e as dificuldades que foram vencidas para atingirmos esse reconhecimento, junto com outras países que também são cases, como a Estônia, a Dinamarca e o Reino Unido. O Brasil está bem posicionado e tem muita gente fora do Brasil querendo entender como foi esse movimento. E, sim, nos tornamos uma referência.