Mais jovem gari do DF vence prêmio de incentivo à educação de mulheres

(crédito: Diogo Albuquerque/Especial para o Correio)

A gari mais jovem do DF, Izabelle Souza da Silva, venceu o prêmio "Viva Seu Sonho" (Live your Dream), no valor de US$ 5 mil, da ONG Soroptmistas, que visa dar apoio e incentivo a mulheres para promover o empoderamento e a independência feminina. Izabelle foi convidada a concorrer à premiação em 23 de julho de 2022, após a organização descobrir a história dela por meio de uma publicação de reportagem no caderno Trabalho & Formação Profissional, do Correio.

• Mais jovem gari do DF concilia trabalho e faculdade

A estudante de psicologia concorreu com outras 22 mulheres do país. O prêmio foi entregue neste sábado (29/4), em uma cerimônia com a direção da entidade. A premiação no Brasil é voltada a mulheres que são as principais mantenedoras de suas famílias, para que possam subsidiar a conclusão dos estudos, aperfeiçoamento da educação, habilidades e perspectivas de emprego. Depois de vencer a etapa nacional, Izabelle concorre, agora, na etapa internacional, na qual o prêmio é de US$ 10 mil, com resultado a ser divulgado ainda neste semestre.

História de superação

Arrimo de família, Izabelle mora com a mãe, que vende panos de chão e de prato nas ruas de Ceilândia, e o irmão, de 11 anos, em uma casa alugada. Para ajudar com as despesas da casa, ela trabalha como gari desde fevereiro de 2022, quando ficou conhecida como a gari mais jovem do DF. Natural de Santa Inês do Maranhão, a família se mudou para Brasília há 10 anos, em busca de melhores condições de vida.

Izabelle conta que, com o prêmio, pretende investir nos estudos, fazer pós-graduação na área de psicologia e atuar no Japão. "Sigo estudando japonês, sou apaixonada pela cultura japonesa e quero poder trabalhar lá. Também quero juntar esse dinheiro para fazer coisas maiores, como abrir um negócio para a minha mãe", afirma.

Izabelle sempre estudou em escola pública. Concluiu o ensino médio no Centro Educacional 06 de Ceilândia, e ingressou na faculdade particular com bolsa integral, por meio do programa universidade para todos (ProUni).

Quase um ano depois da entrevista ao Correio, Izabelle continua trabalhando como gari e foi promovida a orientadora operacional. "Oriento os varredores no serviço para que eles possam efetuar um bom trabalho", diz. Depois de ganhar o prêmio, ela quer participar das Soroptimistas. "Quero ajudar outras meninas e mulheres com histórias inspiradoras a alcançarem seus sonhos", conclui.

Acesso à educação

A presidente do clube Soroptimist International Brasília (SI Brasília), Lucila La Porta, destaca que o principal objetivo do prêmio é capacitar mulheres e auxiliá-las em sua formação. "É por meio da educação que empoderamos as mulheres. Izabelle é a terceira menina do clube SI Brasília a vencer nas nossas três últimas gestões. Não somente damos o prêmio, como continuaremos acompanhando a trajetória dela", afirma.

A Soroptimist International é uma organização global que oferece o acesso à educação e às modalidades de capacitação necessárias para que mulheres e meninas alcancem a autonomia econômica por meio de programas, prêmios e campanhas. A ONG, que significa "o melhor para as mulheres", conta com o trabalho voluntário de mulheres de diferentes profissões, culturas e etnias. Líderes em suas comunidades, elas trabalham para que outras mulheres e meninas superem obstáculos, resgatem sua autoestima, persistam em seus estudos e sigam em direção à profissionalização e à conquista dos seus sonhos."

Liderado por Violet Richardson, o movimento Soroptimista foi fundado por um grupo de mulheres norte-americanas em 1921, nos moldes dos clubes rotarianos — clubes que reúnem pessoas de prestígio, como líderes de negócios, profissionais, artísticos, governamentais —, já que elas não podiam participar desses clubes. Desde então, o movimento discute questões de valorização e empoderamento feminino. Atualmente, o grupo possui assento na Organização das Nações Unidas (ONU), está presente em 121 países e conta com cerca de 3 mil clubes e 72 mil mulheres voluntárias.

O primeiro clube no Brasil foi instalado pela educadora e ativista feminista Bertha Lutz, filha do renomado cientista Adolfo Lutz, no Rio de Janeiro, na década de 1940. Em Brasília, o clube foi fundado em 1973. Prestes a completar 50 anos, a ONG já distribuiu US$ 30 mil em prêmios de educação para 30 mil mulheres na capital federal. O Viva Seu Sonho é reconhecido por sua eficácia e impacto a longo prazo.

Apesar de ter sido inscrita ao prêmio por meio da indicação do clube SI Brasília, as interessadas também podem se inscrever, todos os anos, por meio do site soroptimistbrasil.org.br.

*Especial para o Correio