Tendência

Analista em diversidade, a nova profissão que já é tendência

Mesmo sem possibilidade de formação acadêmica, a mais recente forma de ocupação desperta o interesse de empresas que buscam a inclusão de diferentes grupos sociais

Nathalia Sarmento*
postado em 16/04/2023 06:00 / atualizado em 16/04/2023 06:00
Mesmo sem possibilidade de formação acadêmica, nova profissão desperta o interesse de empresas que buscam a inclusão de diferentes grupos sociais -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Mesmo sem possibilidade de formação acadêmica, nova profissão desperta o interesse de empresas que buscam a inclusão de diferentes grupos sociais - (crédito: Arquivo Pessoal)

A diversidade reverbera cada vez mais no mercado de trabalho e a inclusão tornou-se o principal aliado para um ambiente criativo. Apostar em dessemelhanças nas empresas representa um investimento a longo prazo, com uma finalidade definida: o sucesso. A nova estratégia para igualar as oportunidades de trabalho a todos os grupos sociais é a nova profissão de analista em diversidade, ainda sem possibilidade de formação acadêmica, mas que vem despertando o interesse de empresas que buscam se adequar às novas tendências do mercado. Incluir pessoas de diferentes gêneros, etnias, faixas etárias, vivências e pontos de vistas são as metas do profissional dessa nova área. Em outras palavras, o especialista atua juntamente com o setor de recursos humanos (RH) da empresa para proporcionar as mesmas oportunidades de contratação e crescimento a todos, inclusive àqueles que possuem necessidades diferentes da maioria.

Archanjo, analista de ações afi rmativas no ID_BR
Archanjo, analista de ações afi rmativas no ID_BR (foto: Arquivo Pessoal)

O analista de ações afirmativas no Instituto de Identidades do Brasil (ID_BR), Vinicius Archanjo, explica que o debate sobre a inclusão no mercado de trabalho não é uma pauta recorrente apenas na atualidade, mas, sim, discutida no passado e projetada gradativamente nos dias atuais. Ele conta que a partir do início da década de 1990, os encontros e saraus sobre a Organização Internacional do Trabalho foram os vieses que fortificaram os movimentos pró-diversidade em diferentes espaços no país.

Atualmente não há legislação específica que obrigue ou ofereça subsídios para que empresas contratem grupos sub-representados. Na verdade, no âmbito da administração pública existe a lei de Cotas e também a Lei 12990/2014, que visa a inclusão racial e de pessoa com deficiência, mas no âmbito das empresas privadas, a legislação privilegia apenas a inclusão de PCDs e adolescentes, visto que é obrigatória a contratação de um percentual de profissionais incluídos nesses grupos.

Origens afrocentradas

Debora Moura: "Se precisamos falar com todos os públicos, as minorias devem ser representadas"
Debora Moura: "Se precisamos falar com todos os públicos, as minorias devem ser representadas" (foto: Arquivo Pessoal)

Romper com processos seletivos e priorizar a identidade de cada candidato é uma novidade que veio para ficar no ambiente corporativo. Em meio aos horizontes publicitários, a analista de Diversidade e Inclusão do Grupo Dreamers de Brasília, Debora Moura, considera que mesclar os contratados com variados grupos sub-representados reflete diretamente no rendimento da empresa de audiovisual. "Se precisamos falar com todos os públicos, as minorias devem ser representadas. O mercado é um espelho, as empresas que refletem seus consumidores se destacam no meio, seja qual for o segmento", considera.

Filha de ativistas do movimento negro, tendo como referência familiar o primeiro presidente da Fundação Palmares, Carlo Moura, seu pai, e a pioneira no estudo de comunidades quilombolas no Brasil, Gloria Moura, como figura materna, Debora observa que a inclinação para pautas sociais é de berço. Todavia, recorda, os valores enraizados que exaltavam a cultura e a diversidade muitas vezes não eram debatidos no ambiente empresarial, por ser uma pauta negligenciada em meio às corporações. Ela lembra, ainda, que em 2016, enquanto assistia pela primeira vez a uma palestra que evidenciava a negritude na publicidade, se sentiu motivada a dar continuidade ao debate racial no ambiente de trabalho.

Deives Rezende Filho defende maior acolhimento e respeito
Deives Rezende Filho defende maior acolhimento e respeito (foto: Divulgação/Condurú)

O analista de diversidade Deives Rezende Filho, lembra que em uma de suas primeiras iniciativas, no final dos anos 1990, antes mesmo de abraçar a nova profissão, solicitou a contratação de um estagiário com deficiência, e seu pedido foi recebido com um misto de espanto e preconceito pelo departamento de RH. "O fato é que a empresa tinha mais de 120 funcionários, mas nenhum portador de deficiência", lembra. "Diante de emus argumentos, esse profissional foi muito bem recebido".

Ainda segundo Rezende, o primeiro passo para diversificar o meio empresarial é traçar o perfil ideológico da instituição e compreender todos os grupos sociais que compõem a organização. "Para definir os nichos existentes dentro da empresa, o analista em diversidade pode lançar mão de ferramentas como pesquisas anônimas, análise de perfil e entrevistas. Tendo estudado o perfil social desta instituição, é necessário incentivar um clima organizacional mais propício ao acolhimento e respeito entre os colaboradores", relata.

*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá

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