Pode parecer mais do mesmo, só que não é. Afinal, quem depende do rápido intervalo entre uma aula e outra entende como o aplicativo RanGo é útil no ambiente escolar e vai além dos já conhecidos mecanismos digitais de pedido de refeição. Foi exatamente o que um dos criadores da inovação, Davi Rehen, 23 anos, vivenciou e, a partir de então, teve o insight de que algo deveria ser feito para resolver o problema de centenas de estudantes. Ao se atrasar para uma avaliação importante do curso de administração, porque estava com fome e na fila de uma lanchonete, o rapaz compreendeu a lacuna que existia. "Eu observei que todos mexiam em seus celulares para amenizar a ansiedade e deduzi que a agilidade no serviço poderia ser resolvida em um clique", conta o universitário, que se associou ao amigo Hugo Szerwinski, 23, na empreitada tecnológica e de negócios.
Os dois jovens antenados idealizaram uma solução para dar um basta nesta espera. "Pensamos, então, em digitalizar toda essa trajetória e eliminar de vez o tempo na fila, pagamento com o caixa e preparo da refeição", explica Hugo, estudante de engenharia de redes e telecomunicações. "A ideia sempre foi estreitar essa jornada, o que resultaria em tempo aos usuários, e redução de custos/incremento de receita dos restaurantes parceiros. Afinal, todos já estavam ali [na fila] em seus telefones, só não os utilizavam para essa finalidade", acrescenta Davi.
RanGo é uma startup genuinamente brasiliense que solucionou uma equação que envolve estudo, alimentação, tempo e produtividade. O aplicativo existe desde maio de 2022, quando a dupla participou de eventos universitários para testar a solução após finalizar o desenvolvimento. A operação, de fato, teve o start no segundo semestre, na volta às aulas, nas cantinas de uma universidade. Hoje, menos de um ano depois, a startup está prestes a bater a marca de 10 universidades, com mais de 5 mil usuários e cerca de 9 mil pedidos consolidados. "E subindo! Miramos conquistar pelo menos 80% das faculdades de relevância em Brasília, antes de migrar para outras cidades, que é a nossa meta", avisa Hugo.
Para operacionalizar o pedido, o estudante entra no aplicativo, seleciona a instituição de ensino onde estuda e escolhe sua refeição. Após pagamento (também feito de forma digital, 100% dentro do app), a ordem é enviada ao restaurante, que o notifica quando o RanGo estiver pronto. "Os alunos — e também docentes — podem agendar seus pedidos para outros horários, principalmente os de pico, e terem a garantia de que, quando soar a sirene de fim da aula, sua refeição estará pronta", mostra Hugo.
Sua refeição está pronta!
A estudante de direito Luiza Kimura, 20 anos, é usuária da plataforma e confessa que sua vida foi transformada. Ela conta que não sente fome quando acorda, sai direto para a faculdade e costumava perder cerca de 30 minutos na espera de um lanche que ela pedia na lanchonete quando chegava. Hoje, com o RanGo, ela faz o pedido antes de sair de casa e, quando chega, só retira o produto. "Os estabelecimentos da faculdade costumam demorar cerca de 30 minutos para preparar. É o tempo que eu levo de casa para a faculdade. O pagamento é via pix e a retirada é automática, o que evita fila", comemora a moradora do Lago Sul.
O RanGo tem como diferencial não cobrar taxa do estudante e não concorrer com aplicativos de entrega, uma vez que é pautado no take out. Os sócios Hugo e Davi contam que, além da agilidade, o uso da plataforma oferece vantagens acopladas aos usuários, como vouchers e cupons de desconto, sistema de fidelidade — na indicação de amigos, há pontuação e troca por diversos prêmios no marketplace — e, em alguns restaurantes fidelizados, os clientes ganham pontos cumulativos que podem ser trocados por refeições grátis depois.
Segundo os criadores do RanGo, houve um crescimento de 15% no faturamento das empresas que utilizam o aplicativo. "Nós apostamos em nossos restaurantes parceiros e, com o uso da plataforma, conseguimos trazer clientes que antes não consumiam naquele estabelecimento, como os que optavam por trazer a refeição de casa para não enfrentar a fila ou até deixavam de comer no campus", explica Hugo. "Também agregamos mais valor aos produtos e trabalhamos a experiência do usuário, trazendo também uma possível incrementação no ticket-médio do ponto", complementa Davi.
Sobre o modelo de negócio, Hugo ressalta que a startup é autossustentável. "Trabalhamos um percentual sobre cada pedido realizado, ou seja, o restaurante paga apenas quando usa. É acordada uma taxa por transação firmada individualmente com cada parceiro. Para cada pedido feito por um usuário no estabelecimento é descontado o valor percentual da plataforma", observa Hugo. A adesão das empresas ao app é simples. Os canais de contato com a plataforma são diversos, mas as fontes principais de captação são virtuais (via site ou redes sociais) ou presenciais, por meio de uma prospecção ativa quando a equipe visita as instituições mapeadas para explicar e oferecer a solução.
Os fundadores do RanGo ressaltam que há uma forte relação de ganha-ganha entre a startup, as empresas cadastradas e os usuários. "Todos ganham. O estudante não perde tempo e não paga taxa. O restaurante ou a lanchonete conseguem mais eficiência na cozinha para atender aos pedidos agendados, e até melhoram a distribuição de funcionários, que não precisam ficar o tempo todo no balcão ou no caixa. Assim, os custos de pessoal caem, o faturamento sobe", avalia Hugo. "Até mesmo os gestores escolares saem ganhando, pois se livram da queixa recorrente das filas e do desperdício de tempo no horário do recreio. Fora que os pais de crianças em idade escolar podem comprar e agendar o lanche dos filhos pelo aplicativo, garantindo a segurança", acrescenta Davi.
A startup RanGo está em fase de consolidação no Distrito Federal, firmando o posicionamento e reconhecimento de marca pelo público. Em paralelo, Davi e Hugo ressaltam que estão estruturando uma rodada de captação para viabilizar a saída do aplicativo de Brasília para outras cidades. "Miramos São Paulo primeiro, o que deve acontecer muito em breve. Como já temos algum tempo de experiência, carregamos a bagagem necessária para implantação em outras localidades e nosso desafio é apenas escalar estes processos e operações", finalizam os empreendedores.
"Todos já estavam ali [na fila] em seus telefones, só não os utilizavam para essa finalidade"
Davi Rehen
"O uso da plataforma está trazendo clientes que antes não consumiam naquele estabelecimento"
Hugo Szerwinski
TÁ NA MÃO
- 5 mil usuários ativos
- 10 instituições de ensino
- 9 mil pedidos consolidados
- 7 meses de operação