PRECONCEITO VELADO

Aos 47 anos, servidora está no 7º período de medicina

Perla Soares da Silva Rodovalho foi aprovada para o curso aos 44 anos pelo Enem. Foram cinco anos para conquistar uma vaga na UnB

Diogo Albuquerque*
postado em 19/03/2023 06:00 / atualizado em 19/03/2023 06:00
Perla, 47 anos, está no 7º período de medicina na UnB -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)
Perla, 47 anos, está no 7º período de medicina na UnB - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)

Estudante do 7º semestre de medicina da UnB, Perla Soares da Silva Rodovalho foi aprovada para o curso aos 44 anos pelo Enem. Para ela, a conquista foi a realização de um sonho de infância. "Sempre me identifiquei muito com a área da saúde. Foram cinco anos estudando até chegar na aprovação", lembra Perla, que também é formada em fisioterapia pelo Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac), do Gama, e atua como servidora pública no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT).

Para conseguir ser aprovada, Perla precisou conciliar o trabalho com os estudos. "Acordava às 6h e ficava até as 11h estudando. Depois, ia para o trabalho e, quando voltava, ficava das 19h até as 23h revisando o conteúdo", diz. No início, ela conta que era uma rotina difícil, mas que foi se acostumando aos poucos. "Comecei me preparando por meio de cursinhos presenciais, depois passei a estudar on-line", destaca.

Hoje, aos 47 anos e mãe de dois filhos, Perla ressalta que o fato de já ter experiência com a fisioterapia, profissão que exerceu até 2018, é, para ela, um diferencial que ajuda no curso de medicina. "Mesmo que seja um desafio estudar nesta idade, sinto que ajuda bastante, porque já tenho uma certa maturidade de vida, sabe?", alega.

Perla afirma que, apesar de nunca ter tido um confronto direto com os colegas de faculdade, percebe uma discriminação sutil. "Já enfrentei muito preconceito, sim, mas de uma forma velada. É possível perceber, pelos olhares, que são diferentes. Agora, na metade do curso, eles já aceitam melhor", analisa. Aos futuros profissionais que também pensam em estudar medicina, ela deixa o recado de que nunca é tarde para começar. "Temos que correr atrás do nosso sonho e fazer valer", finaliza.

*Estagiário sob supervisão de Ana Sá

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