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Projeção

Mandarim atrai cada vez mais adeptos em todo o Brasil

Língua mais popular do planeta tem oferta de curso on-line que ganha cada vez mais adeptos no Brasil. Escola criada há nove anos inova no método de aprendizado e abre perspectivas para aprendizes o mercado mundial

Com centenas de alunos em todo o país, a escola de idioma chinês Pula Muralha nasceu em 2014, por meio de um canal no Youtube que ensinava o básico de mandarim — idioma que, segundo apostas do mercado, deverá dominar o mundo, substituindo o inglês — e aspectos culturais da China. O sucesso foi tanto que os donos, Lucas Brand, 36 anos, e a chinesa Si Liao, 35, decidiram que aquele era o momento de profissionalizar ainda mais os conteúdos oferecidos. Por meio do relacionamento com os inscritos do canal, eles perceberam que a sociedade tinha muito interesse em aprender mais sobre a variação do idioma chinês, de forma on-line.

"Economia e carreira são dois grandes motivos pelos quais as pessoas querem aprender mandarim. Um outro motivo é a cultura. A presença de artes marciais chinesas no Brasil, por exemplo, é muito forte. E, mais recentemente, as novelas e músicas têm gerado bastante interesse nas pessoas", diz Lucas, que também é jornalista e que, por conta da profissão, se interessou pelo estudo da língua.

"Meu interesse mesmo veio por conta do campo profissional. Não sabia exatamente como o mandarim poderia me ajudar, mas sabia que o investimento valeria a pena. Em 2010 trabalhava na TV Globo de São Paulo, quando decidi que iria estudar mandarim. Já havia percebido como o mercado jornalístico se relacionava com a China, como havia poucos correspondentes diretos lá e como eram feitas as coberturas", pontua.

Divulgação - Os professores, em encontro com os alunos da Pula Muralha

Brand estudou o idioma no Brasil durante um ano, quando conheceu Liao, uma de suas primeiras professoras, que na época realizava um mestrado sanduíche com intercâmbio no Brasil sobre o ensino de mandarim para estrangeiros. Na China, a procura de estudantes brasileiros por cursos de pós-graduação aumenta a cada ano, em função da projeção e da qualidade que as universidades do país vêm alcançando.

Em 2012, Brand recebeu uma bolsa para estudar em Wuhan, capital da China Central, em um grande centro comercial, onde permaneceu até 2013. Ele e Liao retornaram ao Brasil em 2014 e decidiram oferecer conteúdos gratuitos. Enquanto trabalhavam para alimentar a página no Youtube, Brand atuava em marketing e Si ministrava aulas particulares. Hoje, ele cuida da produção e ela se encarrega das aulas on-line. O sucesso da empreitada foi tanto que eles tiveram que contratar outros professores.

Disseminação

Brand já havia trabalhado na produção do Manual do Mundo, canal especializado em conteúdos educativos e de entretenimento, criado pelo jornalista Iberê Thenório, que foi seu colega de redação e, em contato com outros criadores de conteúdo para a plataforma, percebeu que pouquíssimas pessoas falavam de mandarim na internet. Foi uma espécie de aviso que eles poderiam ter um papel muito importante na difusão do idioma no Brasil, de modo acessível.

Divulgação - Si Liao, durante aula on-line de mandarim, que já atraiu mais de 700 mil alunos

"Após um tempo, conversamos e vimos que as pessoas estavam muito engajadas nos nossos conteúdos. Decidimos, então, profissionalizar e colocar material didático para auxiliar os interessados e também criar um canal para tirar dúvidas, tornando, assim, o aprendizado mais eficiente. Dessa forma, decidimos criar um curso básico. Naquela época tínhamos mais de 5 mil inscritos no canal", recorda.

"Para ajudar com essa mudança na estrutura do projeto, fizemos um financiamento coletivo junto a outros criadores, e conseguimos arrecadar R$ 40 mil. No início ficava pensando na responsabilidade que tínhamos, pois antes mesmo de começarmos a investir esse dinheiro e as coisas passarem a ser real, as pessoas estavam apostando na gente, no nosso trabalho. Com o dinheiro, conseguimos produzir os materiais didáticos para o curso, como cartas mágicas do chinês, que explicam os ideogramas.  Funcionavam basicamente como o ditado 'quer que eu desenhe?'", conta Brand.

Mudanças e melhorias

Entre 2018 e 2019, a escola Pula Muralha cresceu e veio a hora de implementar novas mudanças e melhorias na estrutura do curso, que atualmente conta com três módulos principais e mais 10 módulos cursos complementares, que abordam o uso de mandarim para viagem e como aprender os vários ideogramas. Juntos, os três principais níveis possuem cerca de 700 vídeo aulas. "O curso começou, de certa forma, tímido, com uma grade de 50 horas e 150 exercícios", lembra Brand.

Divulgação - Si Liao com traje típico chinês

Segundo ele, a meta, agora, é ampliar o acesso em língua portuguesa sobre a língua e a cultura chinesa. No curso, o objetivo depende de cada aluno e como ele planeja seguir com o fluxo das aulas. "Recomendamos uma trilha de pelo menos três horas semanais, dedicadas ao estudo pela plataforma, além dos exercícios, que são diversificados entre games e atividades tradicionais. Entendemos que no modelo on-line é preciso diversificar a forma como apresentamos o material para o aluno. Nossa filosofia é que estudar não pode ser uma atividade massante", afirma.

Para Brand, aprender a língua oficial da China é importante para qualquer pessoa que deseja ingressar no mercado internacional, sobretudo porque a China é nossa maior parceira comercial, sendo aquele país um dos principais importadores de produtos brasileiros. "Durante a pandemia, várias pessoas tiveram que perder o medo da tecnologia. E isso foi bom para Pula Muralha, pois alcançamos ainda mais pessoas", comemora.

Brand acentua não haver mais tempo para não saber sobre a China, a história e o que está acontecendo naquele país. Segundo ele, os chineses são mais receptivos com estrangeiros que falam o idioma, principalmente em conversações. "Dominando o mandarim muitas portas se abrem. Mesmo o inglês pode deixar a desejar quando se procura uma imersão nos costumes e na cultura", afirma.

Anote

A escola Pula Muralha conta com diversos planos, a depender do objetivo e disponibilidade do interessado. O plano tradicional é vendido a R$ 1.887,90, incluindo a matrícula. Nele, os alunos podem ter acompanhamento de um dos profissionais do curso até 18 meses e recebem livros e cadernos de exercícios, além de um planner para organizar a rotina de aulas e os encontros. A próxima turma será aberta em 3 de março pelo site.

 

Estagiária sob a supervisão de Ana Sá