ASA NORTE E AS MULHERES PRETAS
A Acadêmicos da Asa Norte vai, neste ano, homenagear as mulheres pretas do Brasil. E em um calendário extenso, já que o desfile oficial das escolas de samba do DF está previsto para 21 de abril. No próximo dia 17, ocorrerá o tradicional baile vermelho e branco, na sede da Acadêmicos. No domingo de carnaval, por volta das 14h, os integrantes farão um pequeno desfile no Eixão Norte. "O mestre-sala, a porta-bandeira e as passistas estarão com as roupas tradicionais, mas não terá as outras fantasias glamourosas", antecipa Jodette Guilherme Amorim, diretora de carnaval. Os planos são seguir com os ensaios abertos ao público, às sextas-feiras, até abril. Segundo Jodette, as alegorias e os carros estão em produção. "Vai ter muita coisa lembrando os temas afro, embora não estejamos falando da África. Vamos falar das mulheres pretas do Brasil. Desde o início, das que vieram escravas, até as que se empoderaram, ao longo dos anos e hoje, lutando contra o racismo e a escravização."
RECIFE E O GALO ANCESTRAL
No sábado de carnaval, a tradicional alegoria gigante que freva nas ruas de Recife será o Galo Preto Ancestral. É a primeira vez que a estrutura presta homenagem à ancestralidade brasileira. E ela virá cheia de detalhes: dreadlocks na cabeça, asa com pontas douradas em referência à oxum, a orixá das águas, e gargantilha africana no pescoço, entre outros. Um dos responsáveis pelo visual do Galo, Leopoldo Nóbrega diz que a escolha é um "reconhecimento à história e à toda riqueza do legado afrodescendente para a formação multiétnica nacional". Para a criação, o artista plástico disse ter flertado com o futuro, reverenciado suas origens carnavalescas e valorizado a representatividade étnica do país. "É um galo que traz inclusão, traz uma oportunidade da gente olhar para trás e dar passos estruturantes para frente."
NO RIO, UMA SAPUCAÍ DIVERSA
Vindo de um carnaval que teve como vencedor um enredo falando sobre Exu, da Grande Rio (foto), o Rio de Janeiro seguirá o compasso da diversidade neste ano. Das 12 escolas do grupo especial, seis levarão à avenida questões ligadas à temática negra. A Sapucaí será palco de temas mais amplos — a Mangueira vai sambar embalada pelas Áfricas que a Bahia canta, e a Unidos da Tijuca vai cantar a Baía de Todos os Santos — e de homenagens a grandes nomes da história. Os sambistas Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho serão reverenciados pela Império Serrano e pela Grande Rio, respectivamente. Já a Portela celebrará os 100 anos de sua história na figura de seus principais baluartes, como a porta-bandeira Dodô e o compositor Monarco. E a Viradouro trará a vida e a obra de Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, considerada a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil.
NA BAHIA, TAMBORES MAIS FORTES
Um dos referenciais do carnaval baiano, os tambores percussivos serão homenageados pelo também tradicional Olodum. O bloco afro vai descer a avenida embalado pelo tema Tambores: a Batida do coração — Caminhos da Eternidade. Na sexta-feira, dia 17, a sonoridade inconfundível estará no Pelourinho e no Campo Grande. No domingo, no circuito Barra Ondina. A ideia é fazer um resgate da história da utilização desses instrumentos, com foco nos tambores de Gana e na cultura dos ashantis, um poderoso povo militarista do país africano. Estão previstas homenagens a mulheres e homens percussionistas, evidenciando a importância dos tambores e da conexão entre ancestralidade e expressão cultural. O bloco está há dois anos sem desfilar, em função da pandemia, e acumula uma longa lista de carnavais em homenagem ao povo e à história negra. Em 2020, por exemplo, o tema foi Mãe, mulher, Maria, Olodum - Uma história das mulheres.