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Carreira

O que os recrutadores procuram em candidatos?

Habilidades comportamentais são prioridade para os recrutadores. Corporações investem em treinamento de engajamento e também em projetos internos com participação das equipes de trabalho

Entre colegas de profissão é comum conversar sobre aspirações, condições de emprego e realizações profissionais. O site Eu Estudante, do Correio, já abordou em suas edições as profissões em alta no mercado e também como fazer um bom currículo e uma boa preparação para entrevistas de emprego. O assunto da vez é como ser o candidato de ouro e demonstrar habilidades comportamentais que podem enriquecer a performance e impressionar profissionais de Recursos Humanos.

Divulgação/Unique Group - Gustavo Costa, sócio da Unique Group.

O sócio-fundador da consultoria de recursos humanos, Unique Group, Gustavo Costa Coimbra, observa que é importante entender o atual cenário do mercado de trabalho e como a crise sanitária da covid-19 mudou de vez a relação das pessoas com seus respectivos trabalhos. Os modelos home office estão deixando de ser raridade entre as propostas de emprego e as pessoas, hoje, procuram por maior satisfação pessoal, alinhamento de propósito e escolhas de carreiras novas ou paralelas.

Sempre atento às tendências de recrutamento, Coimbra afirma que as grandes corporações estão investindo em treinamentos de engajamento e também em projetos internos com participação das equipes de trabalho, como forma de assegurar a seus colaboradores a satisfação que tanto procuram. Segundo ele, esta é a saída que o mercado encontrou para manter seus funcionários, tendo em vista os problemas que o país encontra em relação a qualificação para diversas áreas, principalmente em cargos com maior exigência de qualificação. "O maior volume de contratações acontece mais na 'base da pirâmide', ou seja, em posições com menor exigência de qualificação, voltadas para operações", diz ele.

De acordo com o especialista, o mercado começou 2023 ainda morno nas contratações, mas alguns setores já se destacam em comparação ao ano passado, como os de área de energia, infraestrutura, tecnologia, meio ambiente, logística, serviços financeiros, educação e saúde. Em contrapartida, mesmo com tanto crescimento e possibilidades no mercado, as vagas que exigem maior número de formação e especialização são as mais difíceis de serem preenchidas, como profissionais de sistemas e programação, gestão de dados, posições de sustentabilidade, aquisição de talentos e recrutamento, governança e saúde, posições de fusões e aquisições e outras. "Dessa lista, as posições mais desafiantes para serem preenchidas são as de tecnologia, por conta da menor oferta de profissionais qualificados versus número de vagas disponíveis", complementa Coimbra.

Habilidades

No mercado de trabalho a figura da soft skills é uma tendência. O termo em inglês é utilizado por profissionais de recursos humanos e recrutadores para definir habilidades comportamentais e competências subjetivas difíceis de serem avaliadas. Na prática, a junção de todas as habilidades que vão permitir ao recrutador conhecer a fundo o candidato, como habilidades, liderança, resiliência, adaptabilidade, boa comunicação, empatia e resolução de problemas. Essas são habilidades consideradas fundamentais para um bom desempenho corporativo e, por isso, estão presentes em avaliações profissionais.

Divulgação/Unique Group - Thiago Leitão, expert em recrutamento.

O expert em recrutamento Thiago Leitão, explica que as soft skills podem ser identificadas por meio de entrevistas por competência, dinâmicas em grupos, testes comportamentais e avaliação de referências dos candidatos. "De forma geral, quanto mais sênior é uma posição, maior o peso da soft skills para a tomada de decisão sobre o candidato mais adequado para a função", diz.

Ainda de acordo com o especialista em cargos técnicos, habilidades como perfil analítico, processual e colaborativo estão entre as mais requisitadas e que podem ser desenvolvidas por meio de cursos, treinamentos ou com o dia a dia laboral, utilizando sistemas e ferramentas de trabalho. Leitão afirma que, em se tratando de habilidades ligadas ao comportamento pessoal de cada pessoa, não é tão simples desenvolver essas características da estaca zero. "Principalmente em pessoas com mais tempo de carreira, que já construíram uma persona no ambiente de trabalho. Por exemplo, é mais fácil desenvolver skill de liderança do que de empatia", avalia.

A chave para a mudança de comportamento, indica ele, está no autoconhecimento, nas reflexões, feedbacks e avaliações externas, tanto de líderes como de colaboradores diretos. "Para profissionais em posições em início de carreira é mais comum desenvolver seus soft skills de forma natural como um resultado da cultura predominante da empresa ou da área onde o profissional está atuando", diz Leitão. Para profissionais que já atuam em cargos de liderança, ele indica o foco nas competências do candidato ao invés de tentar desvendar suas fraquezas.

Especialista em relações institucionais e governamentais na Contabilizei — empresa de serviços de contabilidade on-line no Brasil —, Gabriel Rizza Ferraz, 35, bacharel em direito com mestrado em análise econômica do direito, tem mais de dez anos de atuação com políticas públicas no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em escritórios de advocacia e também com experiências voluntárias no Senado Federal, revela acreditar bastante na metodologia "70/20/10" para desenvolvimento pessoal. O esquema consiste em desenvolver 70% do trabalho colocando a mão na massa, 20% em encontros para análises com outros profissionais referência da área e 10% na educação formal, cursos e especializações.

Para chegar até a vaga, Ferraz passou por processo seletivo inteiramente on-line, com etapas iniciais focadas em avaliações técnicas, rodadas de entrevistas com gestores e membros da companhia para identificar a cultura da empresa, com foco em atividades reais do dia a dia. A Contabilizei, onde trabalha, tem sede em Curitiba e escritório em São Paulo, mas, de Brasília, Gabriel executa suas funções inteiramente de forma remota. "A rotina permite o equilíbrio da vida pessoal e atividades profissionais", afirma. "Também é importante aprender a gerenciar melhor o tempo e entender quais métodos de aprendizado funcionam melhor para seu perfil", completa.

Arquivo pessoal - Carolina Venuto, especialista em ciência política

A especialista em direito público e em ciência política, Carolina Venuto, 36, tem dez anos de experiência em relações institucionais e governamentais. Ela observa que habilidades de comunicação midiática, gestão de projetos e pessoas são pontuais para o mercado. "É um desafio constante procurar candidatos qualificados e com estas habilidades", diz.

Também sócia-diretora da Ética Inteligência Política, empresa de consultoria de relações institucionais e governamentais, Venuto conta que precisou do auxílio de uma psicóloga para realizar um dos processos seletivos de sua empresa. "As pessoas estão preocupadas com seus ambientes de trabalho e isso é até um toque para mim. Procuro pessoas que tenham uma rede de apoio e estrutura para lidar com o dia a dia. Para o mercado as soft skills são tão importantes como habilidades técnicas.

Estagiária sob a supervisão de Ana Sá