Apostar em rumos diferentes, desenvolver habilidades e, sobretudo, enfrentar novos desafios são as principais motivações para muitos a cada início de ano. A possibilidade de concretizar essas metas tem na troca de emprego o primeiro grande passo. Pesquisa realizada pelo Instituto Protegendo o Futuro do Trabalho mostra que 53% dos brasileiros querem mudar de carreira. Entre os principais motivos que levam a essa decisão estão a falta de perspectiva no trabalho atual, a desvalorização do mercado, salário mais alto, busca de novos desafios profissionais, felicidade e equilíbrio da saúde mental.
A especialista em neurociência e comportamento Carla Furtado observa que a saúde mental é o principal motivo para a busca de novos ares. "O equilíbrio vida-trabalho se tornou prioridade. Isso devido aos excessos observados e vividos durante a crise sanitária, como o de trabalho, em decorrência de demandas das organizações, ou mesmo como escapismo pessoal para os longos meses de distanciamento social", diz, completando que a saúde mental se tornou um dos temas mais discutidos no mercado.
Qualidade de vida
Com tantas informações advindas de estudos e pesquisas, ela afirma ser possível reconhecer que a carga de trabalho, cultura da empresa e estilo de liderança estão entre os interesses de quem procura por uma nova oportunidade. "Entre 2020 e 2022, o objetivo para a maioria era manter-se empregado. Em 2023, veremos o retorno da demanda por salário e carreira. Assim, podemos considerar que serão priorizados alguns aspectos na hora de pensar em um novo trabalho, como melhores salários, qualidade de vida, flexibilidade e carreira", afirma. "Hoje, o encerramento de um ano não é apenas uma mudança de calendário, mas, simbolicamente, o encerramento de um ciclo. O que se busca, agora, é longevidade, qualidade de vida e felicidade. É quase inevitável para a maioria rever os últimos 12 meses, avaliar conquistas, perdas e estabelecer objetivos. A pergunta mais usual é: 'o que desejo para o ano novo?'. Nesse contexto, o trabalho também é avaliado", avalia.
Versatilidade
A tecnologia é apontada por especialistas como a área de maior crescimento nos últimos anos, possibilitando a atuação em diversas profissões, como gerenciamento de mídias digitais, ciência da computação, arquitetura de redes e ciência de dados, cujas bases salariais chegam a R$ 8 mil. De acordo com o CEO da Sirius Educação — instituição criada para facilitar o acesso das pessoas à ciência de dados, com foco em habilidades tecnológicas —, Arnóbio Morelix, os dados analisados hoje pelas empresas são perfeitos para pessoas com curiosidade aguçada, que buscam entender o funcionamento das coisas e seus sistemas, garantindo a possibilidade de conexão com as maiores empresas do mundo por meio e trabaho remoto.
Inspirado pelas transformações da tecnologia, Gabriel Alberton, 30 anos, abandonou a engenharia civil em busca de um recomeço. "Notei muito potencial nas ferramentas de inteligência artificial e decidi que este era meu lugar para os próximos anos", diz. Como ex-empreendedor e engenheiro, ele destaca que a experiência com cálculos matemáticos, raciocínio lógico e marketing é uma "grande e libertadora vantagem". "A profissão de ciência de dados possibilita contato com muitos temas e isso permite o aproveitamento das atuais áreas de conhecimento, além de criar um grande dinamismo, como acompanhar mudanças e tendências de mercado", afirma.
Ipacto e diversidade
Hoje CEO de um laboratório de desenvolvimento de tecnologias baseadas em inteligência artificial aplicada, Alberton ressalta que a profissão permite impactar setores diferentes, como o educacional, e até mesmo prevenção de desastres. Para quem deseja mudar de emprego, ele indica se programar para ter tempo e recursos para transacionar, além de pensar em como a antiga e a nova profissão podem se unir ou se completar. "Depois disso, vem o momento de buscar mentores e instituições que facilitem o novo caminho", ensina.
A advogada Caroline Barreiros, 35, cursou fellowship de ciência de dados na Sirius. Ela conta que há um ano deixou de advogar para ingressar na nova área como assistente executiva júnior e, atualmente, é assistente executiva sênior na gerência nacional de modelagem de risco operacional de uma grande corporação. Caroline considera ter acertado em cheio na escolha, pois sua experiência de 10 anos no setor financeiro foi importante para a sua ocupação atual. "Uma das maiores vantagens na área de tecnologia é a grande oferta de vagas", diz.
Empreendedor experiente com trajetória em diversos segmentos de mercado, Rafael Rocha, 47, atua agora como diretor de produtos, contribuindo com sua equipe para atingir o propósito de transformar os processos de identificação e pagamento em algo tão prazeroso quanto a experiência de consumir.
Rocha trabalha na Payface, empresa que aplica o reconhecimento facial para transformar os processos de identificação e de pagamento no varejo. A partir da inclusão do curso de ciência de dados no currículo, foi promovido a diretor de produtos. "Meus principais desafios são analisar as dores e as necessidades do mercado, as evidências quantitativas e qualitativas, e priorizar a alocação de recursos para desenvolver soluções, aproveitando as oportunidades disponíveis no mercado", diz.
Insatisfeito com o rumo que sua carreira estava tomando na área de vendas, Leonardo Simões, 31, migrou para a tecnologia ao observar que profissionais da área apresentam maior velocidade na ascensão, além de mais liberdade em suas rotinas. Atualmente, ele é gerente de operações sênior para a Google Brasil. "Estava muito insatisfeito com o rumo que minha carreira estava tomando e cheguei à conclusão que, a médio prazo, quem não adquirir certas habilidades estará em risco no mercado", conta.
Otimismo move busca por novos ares
Um novo ano é sempre um convite para atingir metas, conhecer as posições do mercado que estarão em alta e se preparar para as melhores oportunidades. Enfim, o momento ideal para ir em busca de novos conhecimentos, aprimorar a vida profissional ou mesmo buscar uma ocupação diferente. De acordo com a plataforma Empregos.com.br, três entre quatro profissionais brasileiros querem trocar de trabalho em 2023. O descontentamento com a rotina laboral atual foi ressaltado por 81,1% dos entrevistados.
Realizada com 517 pessoas, a pesquisa também questionou as expectativas desses profissionais. Ao todo, 71% disseram estarem otimistas com a melhora da economia e do mercado de trabalho em 2023. Diante dessa confiança, 77,4% planejam fazer um curso profissionalizante no decorrer do ano, com o intuito de se qualificarem para as novas oportunidades.
De acordo com o CEO do Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac), Rogério Silva, em uma busca constante pela autorrealização, o profissional se depara com novas demandas exigidas para o mercado de trabalho, como a atualização das ferramentas tecnológicas, novo idioma, e a capacidade de lidar com os desafios e as relações interpessoais, entre habilidades técnicas e comportamentais. "O mundo é competitivo, e uma pessoa que está em uma jornada contínua de aprendizado tem maiores condições de alcançar posições de alta escala na vida profissional e pessoal", explica.
O Guia Salarial 2023 da empresa de recrutamento Robert Half elaborou uma lista com as oito áreas que estarão em alta em 2023, como as vendas, que demandam curso de administração ou gestão comercial. Encabeçando o ranking estão: engenharia; finanças e contábil; jurídica; mercado financeiro; recursos humanos; seguros; tecnologia e, por fim, vendas. Esta última, em constante expansão por se tratar de um departamento presente em qualquer segmento de uma empresa, seja na área alimentícia, varejo de moda, comunicação ou tecnologia.
"Toda empresa visa a lucratividade e ter um departamento administrativo com foco em vendas e marketing é imprescindível para alcançar os resultados", ressalta Larissa Marcelino, supervisora de Marketing Digital do Cebrac. Segundo ela, a administração se caracteriza por disponibilizar oportunidades de trabalho, sendo o administrador o responsável por planejar ações e gerenciar atividades como finanças, recursos humanos e materiais, fatores indispensáveis para o mundo corporativo.
"Um profissional que é capaz de executar serviços com qualidade em diferentes áreas tem mais chance de crescer na empresa. Por isso, é importante que ele foque em buscar novas informações", diz Larissa, observando que, por apresentar maior flexibilidade, o profissional de administração é cada vez mais requisitado e, por essa razão, as buscas pela capacitação na área só aumentam.
Segundo o Conselho Federal de Administração (CFA), os iniciantes em administração podem receber salário de R$ 2.458. Para quem possui pelo menos dois anos de experiência, a remuneração sugerida é de R$ 5.977. Como diretor, pode alcançar salário de até R$ 20 mil.
O mercado tecnológico também está em grande ascensão e é um dos setores que alimentam profissões pelo mundo todo. Segundo o CEO da escola de programação Kenzie Academy, Daniel Kriger, as pessoas decidem migrar para a tecnologia por salários atrativos, ambiente de trabalho flexível, aprendizado constante e desafios. Dados da empresa mostram que cerca de 39% dos alunos apontaram como objetivo experimentar novas oportunidades em área diferente da sua formação. "Há administradores de empresas, economistas, profissionais de marketing e até de saúde aliando suas experiências anteriores aos novos conhecimentos adquiridos", conta.
Diretora executiva da Reprograma — iniciativa de impacto social focada em ensinar programação para mulheres —, Nadja Brandão explica que mesmo a tecnologia sendo um setor em franco crescimento no Brasil, ainda há pouca participação feminina. "É preciso que as empresas garantam um ambiente favorável para que as mulheres possam desenvolver suas habilidades e competências, criando ações, revendo processos e estimulando a equidade de gênero", alerta, sugerindo aos que desejam mudar de carreira superar a "síndrome do impostor". "É quando a pessoa não consegue acreditar em suas próprias capacidades e não se enxerga como programadora", diz. Segundo ela, o ideal é buscar inspiração em outras mulheres, pesquisar e conhecer quem já está no mercado de tecnologia.
Confira as 7 profissões que estarão em alta em 2023
Engenharia: de acordo com o estudo da CNI, mais de 1,2 milhão entraram na área entre 2001 e 2011: com duração de cerca de 5 anos (10 semestres), o curso tem diversas especialidades para se aprofundar, ampliando a área no mercado de trabalho;
Finanças e contábil: pilar indispensável nas empresas, o curso tem como base desenvolver conceitos e atividades cotidianas sobre o mercado financeiro;
Jurídica: para atuar na área jurídica é necessário cursar direito. O interessante do curso é que dá a oportunidade de trabalhar além da advocacia convencional, como promotor, juiz, delegado, entre outros, e pode se optar por uma área específica como médica, imóveis, contratos, etc;
Vendas: caracterizada pela curso de administração, a opção dá um vasto 'leque' para atuar no mercado de trabalho e conforme a consolidação na área de atuação, pode-se realizar especializações para se aprofundar;
Recursos Humanos: Pessoa que cuida de pessoa, a área tem como premissa manter seus colaboradores satisfeitos no ambiente de trabalho, além de fornecer treinamento e passar a cultura organizacional a frente;
Seguros: para trabalhar na área, é necessário se formar no tecnólogo de gestão de seguros e obter certificação oficial da ENS - Escola de Negócios e Seguros;
Tecnologia: as empresas estão buscando cada vez mais se modernizar, tornando a área mais relevante. Só em 2020, a área abriu 85 mil novas vagas no setor, crescendo 670%, aponta a Economia Digital.
Estagiária sob a supervisão de Ana Sá