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CONFRATERNIZAÇÃO

Festas de confraternização exigem cautela

Especialistas dão dicas para não passar vergonha nas festas de fim de ano. A ordem é esbanjar nos quesitos simpatia, alegria e companheirismo, mas não se exceder no consumo de bebidas alcoólicas

Com a proximidade do fim do ano, o clima festivo favorece as confraternizações no ambiente corporativo. De amigo-oculto a festas na empresa, o momento é de ansiedade não somente pela importância da integração entre os funcionários e a necessidade de celebrar metas atingidas, mas também pelos cuidados indispensáveis para que os eventos sejam aproveitados ao máximo. Há dois anos sem esse tipo de evento na maioria das empresas, os encontros retornam à modalidade presencial, mas as recomendações de prevenção ao coronavírus voltaram a ser a ordem do dia.

Especialistas observam que, mesmo que as regras de comportamento variem de acordo com cada corporação, é preciso cautela e prudência para não passar uma imagem negativa.

Divulgação - Conceiyção Montserrat, CEO da Montserrat Consultoria e especialista em etiqueta corporativa

A dica da profissional em etiqueta corporativa, gestão e desenvolvimento de negócios, Conceiyção Montserrat, é que o colaborador se atente às regras já exigidas pela empresa ao longo do ano. "A festa é um ambiente para se relacionar com os colegas. É preciso respeitar o espaço e manter o comportamento que já foi cultivado até ali, ainda que a confraternização não seja na firma", explica.

Montserrat lembra que a confraternização exige cuidados de ambos os lados. Na hora de organizar a festa, segundo ela, a empresa deve pensar nos detalhes e entender o perfil de seus colaboradores para que o momento seja proveitoso a todos. "A festa é para eles e por eles. Por isso, é fundamental que a corporação saiba o que eles gostam. Se a equipe é composta por pessoas de classe C e D, a festa não pode ser em um local de classe A", destaca.

Ela pondera que os colaboradores, por sua vez, precisam saber aproveitar sem se exceder. "A chave para que o evento seja memorável é o equilíbrio. Seguir sempre as diretrizes garante a construção de uma imagem positiva pelo superior, que também estará ali avaliando o comportamento", ressalta.

Pertencimento

A professora doutora em psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jaqueline Gomes de Jesus, lembra que a ideia das confraternizações de fim de ano surgiu com a necessidade das empresas de cultivar um relacionamento social entre os funcionários. "Esse recurso é uma maneira de aumentar a sensação de pertencimento da equipe, gerar mais engajamento e fortalecer laços, principalmente em empresas nas quais o trabalho é remoto", afirma.

No entanto, ela reforça que a iniciativa não funciona de forma isolada, e alerta que as empresas tomem cuidado para que a festa não se torne apenas um adereço. "As festas de fim de ano não devem ser as únicas iniciativas de integração promovidas pelas empresas, porque elas, por si só, não são suficientes. É preciso já existir um ambiente saudável, no qual os funcionários se sintam bem", explica. "Também é preciso lembrar que as festas talvez sirvam mais para as gerações antigas do que para essa geração pós-industrial individualista que existe atualmente", complementa.

Além disso, a também doutora em psicologia social, do trabalho e das organizações pela Universidade de Brasília (UnB) reforça o cuidado das empresas quanto à organização dos eventos de fim de ano. "As pessoas têm diferentes formas de ser e podem não se sentir bem se forem forçadas a comparecer por diversas questões. Por isso, as empresas precisam pensar de forma compreensiva quando houver recusas e buscar promover um ambiente seguro, leve e acessível a todos", defende.

Mais desconcentração

Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Celebração na Ambev: propósito é unir funcionários para comemorar resultados e conquistas

Mesmo que a orientação dos especialistas seja seguir à risca as regras de comportamento, a ideia de uma festa mais tensa e rígida em etiqueta parece ter ficado no passado. Muitas empresas tem apostado em confraternizações mais despojadas e mais livres, visando proporcionar aos seus colaboradores um evento mais divertido.

A gerente regional de gente e gestão da Ambev, Lisa de Sousa Cardoso, afirma que a confraternização de fim de ano é importante porque promove a integração e aproximação entre os funcionários, além de propiciar um ambiente mais leve. "É mais que importante, é necessário, porque possibilita que os colaboradores criem conexões, se divirtam", diz.

A fabricante de bebidas disponibiliza seus produtos e alimentos para os funcionários sem nenhum tipo de restrição. "Temos uma política de consumo consciente e, por isso, nunca tivemos problemas. Para aqueles que consomem bebidas alcoólicas, o mandamento é beber sem se embriagar e não dirigir", explica.

Na Ambev, a festa é intimista e ocorre no próprio ambiente de trabalho, em espaço aberto destinado a comemorações. Os colaboradores são incentivados a pendurar em uma árvore dedicatórias aos colegas, que são lidas no dia da confraternização.

Arquivo Pessoal - Lisa Cardoso, gerente regional de gestão Centro Oeste-Norte da Ambev, diz que a empresa não exige mais o inglês como habilidade no processo de recrutamento

Quanto aos cuidados na hora de organizar as festas, Lisa destaca que as empresas precisam pensar em eventos que englobem todos os gostos e atendam a todos os públicos. "Pensamos sempre em oferecer produtos variados, além de convites extensivos à família. Prezamos pelo respeito acima de tudo", pondera. Ela observa, ainda, que a vestimenta não deve ser uma preocupação para o momento.

A gerente de produto da Ambev, Jamile Sarchis, pontua que as comemorações de final de ano são recorrentes e refletem em um bom relacionamento entre os integrantes da equipe. Ela pontua, ainda, que com a aproximação das comemorações, a assiduidade das reuniões têm se intensificado. "Às vezes nem precisamos de um motivo para comemorar. Principalmente nesse período de fim de ano, teremos as comemorações próprias da companhia, das equipes subdivididas na organização e também dos associados", diz.

Na ótica do gerente de consumo responsável da Ambev, Lucas Lima, a moderação é o ponto chave para equilibrar labor e diversão. O carioca oriundo da Zona Oeste lembra que quando trabalhava em sua cidade natal, as festividades da firma ocorriam em plena quinta-feira. "Não tínhamos o 'sextou'. O intuito era lembrar aos funcionários que consumissem bebidas alcoólicas com prudência. Deveríamos orientá-los que o modo correto de beber é como se houvesse amanhã e, em especial, um dia de trabalho em seguida", recorda.

Ele ainda aponta que a instituição pretende conscientizar seus funcionários e consumidores sobre a necessidade de mapear seus hábitos consumistas. Com isso em mente, a equipe mobilizou um guia específico com o intuito de incentivar o consumo moderado. As orientações postergam as perspectivas de ensinamentos sobre o tema. A diretriz utiliza questionários e testes de autoconhecimento sobre consumo e também oferece dicas sobre como preparar drinks com baixo ou zero teor alcoólico.

Arquivo pessoal - Marly Vidal, diretora administrativa e de pessoas do Sabin

A diretora administrativa e de pessoas da rede de laboratório Sabin, Marly Vidal, destaca que, além da integração, a festa representa o fechamento de um ciclo e a oportunidade de fazer uma retrospectiva das conquistas da empresa. "Devido à pandemia, ficamos dois anos sem a tradicional comemoração. Agora, em 2022, a expectativa é de gerar conexão entre os colaboradores mais antigos e os mais novos. É um pilar importante, um momento de lazer e descontração no ambiente corporativo", avalia.

Um ponto importante, conta a diretora, é o reconhecimento da atuação dos funcionários. "Temos o hábito de reconhecer bons profissionais e boas práticas. Isso é uma maneira de estimular os colaboradores e torná-los mais ativos e felizes com o trabalho", explica. No Sabin, a festa corporativa é toda custeada pela empresa e todos os colaboradores utilizam camisetas personalizadas fornecidas pela firma. "O intuito é que seja um ambiente livre, que promova a equidade entre os cargos e um senso de pertencimento", reforça Vidal.

Fotos: Arquivo pessoal - Girlei não perde nenhuma festa desde que entrou há 11 anos no Sabin

Colaborador do grupo Sabin há 11 anos, Girlei de Oliveira, 38 anos, participa das festas de fim de ano desde que entrou na empresa. Para o auxiliar administrativo, a comemoração é necessária para promover o contato com os chefes e supervisores. "Depois de passarmos um ano inteiro trabalhando, comemorar é essencial. Na festa, temos a oportunidade de nos aproximar dos nossos superiores. Há também premiações e sorteios, o que gera engajamento entre a equipe", defende.

Arquivo pessoal - Paloma de Souza, analista de sistema do Sabin

A analista de sistemas Paloma de Souza Santos, 27, é uma das que também não perde uma festa de fim de ano. Para ela, o momento é mais que propício para reunir com os colegas, comemorar os resultados e as metas atingidas. "Faço questão de participar sempre. Além das premiações, é ótimo encontrar amigos de outros setores e sermos reconhecidos pelo nosso trabalho. A sensação é de fechar o ano e começar o outro com o pé direito", destaca, lembrando que depois dos dois anos de isolamento impostos pela pandemia, a confraternização adquiriu um significado especial, principalmente de reaproximação.

Confira dicas para acertar na confraternização

Caio Gomez - .

1 – Escolha um look adequado ao lugar. Cuidado com os exageros, elegância não sai de moda

2 – Evite bebidas alcoólicas em excesso. Festa da empresa é uma confraternização social, jamais exagere!

3 – É preciso estar em ótima condição de saúde. Se não estiver bem, não vá!

4 – Confirme se poderá levar parentes na festa, evitando constrangimento na recusa no local

5 – Ser pontual e sair no momento certo

6 – Não divulgue fotos que possam comprometer sua imagem

7 – Nunca constranger ou assediar o outro em qualquer forma depreciativa

8 – Evite falar sobre política e religião, não é o momento

9 – Se levar seus filhos, se responsabilize e acompanhe tudo que ele faz no evento

10 – Evite o lapso de memória. Atente-se aos nomes das pessoas

11 – As festas não são um bom momento para solicitar cargos ou falar de assuntos pertinentes à função exercida

Fonte: Conceiyção Montserrat e Angela Pimentel


*Estagiários sob a supervisão de Jáder Rezende