A terceira edição do Festival Internacional do Audiovisual Negro no Brasil (Fianb) foi palco, de 23 a 27 de novembro, para produções nacionais e estrangeiras e para debates sobre o futuro do setor diante do novo cenário político. Assim como a arte, as discussões em São Paulo seguem vivas. Elas darão origem à Carta do AudioVisual Negro por uma Democracia Antirracista, que deve ser entregue, na próxima quinta-feira, à equipe de transição do governo federal.
O texto segue sendo escrito. E terá tom forte. Lembrará, por exemplo, que "não há soberania com racismo", frase proferida por Lula em um pronunciamento, em 2020, pelo Dia Nacional da Consciência Negra. Também reforçará pontos da carta direcionada aos presidenciáveis em setembro. Regulamentação, regionalização e ações territoriais contra-hegemônicas, e diminuição das iniquidades em setores da gestão pública são alguns dos pontos-chave desse primeiro texto.
"A proposição da nova carta compreende a força do audiovisual como parte fundamental do imaginário e da reconstrução de um país verdadeiramente democrático, diverso e inclusivo. Esse é um novo cenário político que se desenha, a partir da eleição de Lula, que traz a questão racial para o centro", afirma Tatiana Carvalho Costa, uma das diretoras artísticas do festival e conselheira da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (Apan). O festival e a redação da carta são realizados coletivamente pela Apan.
Para a (Apan), a construção desse caminho passa pelas práticas de cultura e comunicação, que têm o potencial de "nutrir um
imaginário que dê conta da diversidade da população brasileira". A coluna teve acesso a alguns pontos de defesa da carta. Confira:
1. Ações afirmativas
A carta defende a retomada e a intensificação das políticas afirmativas para a garantia da presença, da viabilidade econômica e da permanência negra no audiovisual.
2. Preservação de acervo
O grupo quer a retomada e a intensificação de investimentos em preservação e conservação de acervos audiovisuais e cinematográficos, com políticas específicas para produção e memórias negras.
3. EBC
Entre ações mais pontuais a serem indicadas, está o reposicionamento da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) como espaço de produção e articulação para o enegrecimento da comunicação
pública e da promoção da diversidade. O grupo também pede que a empresa de comunicação volte a ter um Conselho Curador com diversidade de representação da sociedade civil.
4. Equidade
Ainda como proposta mais específica no campo da comunicação pública, o texto propõe equidade
de raça e gênero na composição das instâncias decisórias e de gestão, além de trocas e parcerias estratégicas com países da América do Sul e as nações africanas que adotam a língua portuguesa.
Copa
Um álbum antirracista
Aproveitando o clima da Copa Mundial de Futebol, a Universidade Zumbi dos Palmares lançou um álbum de figurinhas com jogadores que sofreram racismo dentro de campo. São 62 atletas — entre os brasileiros, estão Vinicius Junior, Gabriel Jesus e Richarllison — e, ao lado do nome de cada um deles, há detalhes sobre suas conquistas e seus feitos inesquecíveis dentro das quatro linhas. Na última página do álbum, há um QR Code que direciona para uma petição que tem o objetivo de acionar a Fifa para banir dos próximos torneios países em que há registros de racismo no futebol. Uma versão digital do álbum está disponível em albumantirracista.com.br .