A inquietação foi surgindo ao longo do curso de guia de turismo no Sebrae. "Sempre perguntava para os instrutores se tinha algum personagem negro ou alguma história negra ligados aos locais que visitávamos. Eles nunca sabiam. Fiquei incomodada e decidi investigar, estudar", conta Bianca D'Aya (foto). O fruto do desassossego ganha, agora, as ruas do Distrito Federal. A também bacharel em turismo pela Universidade de Brasília (UnB) acaba de lançar o Tour Brasília Negra.
A intenção é que, durante três horas, as pessoas percebam que a força, a cultura e a história negra têm contribuição significativa na construção e na pujança da cidade. O Museu Vivo da Memória Candanga, o Congresso Nacional e baobás espalhados por Brasília fazem parte do roteiro.
Bianca conta que as histórias contadas ao longo do passeio surpreendem. Em uma delas, a guia detalha o quanto foi difícil montar a Praça dos Orixás à beira do Lago Paranoá. "Há pouquíssimos terreiros no Plano Piloto até hoje. À época, reclamavam que o som dos atabaques incomodava as pessoas. Aquele espaço foi conquistado na base da resistência", diz.
Surpreender, aliás, marca o projeto dessa brasiliense desde a sua concepção. "Quando eu dizia no que estava trabalhando, muita gente falava: 'Mas Brasília não tem nada negro'. Realmente, é uma cidade sem muitos símbolos visuais", avalia. "Mas esse foi meu desafio. O grande barato do tour é a narrativa que criei para falar de coisas que estão ali, mas que ninguém sabe. É fazer com que as pessoas se apropriem da história negra da nossa cidade, que também é muito bonita e importante."
A primeira edição do projeto, fruto de uma parceira da agência de turismo Me Leva Cerrado e da plataforma de afroturismo Guia Negro, aconteceu ontem. Novos passeios estão marcados para o próximo dia 20 e para 2 de janeiro, com inscrições abertas. O grupo parte de outro ponto emblemático para o povo preto: a Praça Zumbi dos Palmares, no Setor de Diversão Sul.
Mostra competitiva
Cinema feito por mulheres
Brasília se transforma novamente no palco da produção audiovisual protagonizada por mulheres negras. Acontece de hoje até o próximo dia 12, a V Mostra Competitiva de Cinema Negro Adelia Sampaio. Estão na disputa 22 filmes — de curta, média e longa metragens —, representando todas as regiões do país, além da República Dominicana e de Cabo Verde. Duas obras selecionadas — das 94 inscritas — são do Distrito Federal: Eu era o lobisomem da Cei, de Suéllen Batista, de Ceilândia, e Me farei ouvir, de Bianca Novais e Flora Egécia, de Brasília. A abertura acontece hoje, às 18h, no Sesc Presidente Dutra, no Setor Comercial Sul, com a exibição do filme AI-5 — O dia que nunca existiu, da pioneira Adelia Sampaio (foto). A partir de amanhã, começa a mostra competitiva, com exibição gratuita dos filmes, no Campus Universitário Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), na Asa Norte. Confira a programação completa no site https://mostraadeliasampaio.com.br/ .
Participe
TST faz seminário contra o racismo
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) vai realizar, nos próximos dias 17 e 18, um seminário que abordará o fortalecimento da proteção contra o racismo. O evento responde a uma das recomendações da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) ao Estado brasileiro após a análise do emblemático caso de Simone André Diniz. Em março de 1997, a mulher viu, nos classificados de um grande jornal de São Paulo, uma vaga para empregada doméstica que indicava a preferência por pessoas brancas. Ligou para o número e foi informada que não preenchia os requisitos devido à cor da sua pele. O episódio foi o primeiro a resultar na responsabilização do Estado brasileiro por ofensas a direitos em virtude de discriminação racial. Temas como dificuldades enfrentadas por mulheres negras no mundo corporativo e o combate ao racismo no sistema interamericano farão parte do evento, que terá modalidade presencial e remota. As inscrições gratuitas podem ser feitas no site do TST (https://www.tst.jus.br).
Novembro azul
44 mortes diárias
foram registradas no Brasil, em 2021, em decorrência do câncer de próstata. A doença costuma ser mais agressiva na população preta. Um estudo divulgado, em 2020, na revista Jama Network mostra que a progressão do tumor é 11% maior em homens negros, comparados aos pacientes brancos.