Eu, Estudante

PRECONCEITO

Falta de investimento

Especialistas alertam que além de promover iniciativas de sensibilização na equipe, as empresas devem prezar por ações de integração e incentivo à capacitação, assim como qualificação e graduação

A consultora de recursos humanos da Tim Paloma Araújo da Silva, 35 anos, participa ativamente do recrutamento e da seleção de candidatos na empresa. Moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), ela relata que, quando buscava por vagas no mercado de trabalho, existiam apenas ofertas de cargos operacionais para pessoas com deficiência (PCD). "Sempre quando eu procurava por vagas de emprego para PCD, me deparava com cargos de auxiliar e assistente. São poucas empresas que oferecem vagas de gerência. Precisei tirar do meu currículo a informação de que tinha deficiência", lembra.

Devido a um acidente de ônibus que sofreu aos 12 anos, Paloma perdeu os movimentos da mão esquerda e sente, até hoje, dificuldade para fazer atividades que requerem habilidade manual. Ela é formada em administração e recursos humanos graças a um subsídio que recebeu de uma empresa, na qual ingressou para se formar. Por trabalhar na área de RH, percebeu que nem todas as empresas estão dispostas a mudar o cenário de baixa inclusão de pessoas com deficiência. "Em uma das firmas que trabalhei, em 2016, precisava dispensar candidatos com algum tipo de deficiência porque a corporação não conseguia atender às necessidades da pessoa", afirma.

Para ela, as empresas devem investir não só em adaptação, mas, sobretudo, nas pessoas. "Para resolver esse problema de falta de inclusão a médio e longo prazo, precisamos, sobretudo, de programas estruturados que sejam voltados à formação das pessoas com deficiência", defende.

Médica do trabalho da Tim, Ryvia Rose Ferraz Bezerra, 51 anos, é vítima da poliomielite. Aos 9 meses de vida, ela perdeu o movimento de um dos membros inferiores, o que a faz ter certas limitações na movimentação. Atualmente, ela usa uma órtese que a garante maior autonomia e independência. Com 25 anos no mercado de trabalho, ela conta que, em 2015, chegou a pedir demissão da empresa que trabalhava por falta de acessibilidade.

"A estrutura não era adaptada. Tinha vários lances de escada e nenhum elevador. Mesmo com dificuldade, eu conseguia subir, mas toda vez que precisava fazer isso, me sentia desconsiderada. Tentei lutar para que houvesse alguma mudança, mas nada aconteceu", disse a médica, lembrando ter pedido demissão antes de completar um ano na empresa. Para a moradora da capital de São Paulo, a importância de ter pessoas com deficiência na empresa reside em garantir um ambiente saudável, com uma cultura que preze pela empatia. "É necessário incluir essas pessoas de fato, adotar um tratamento humanizado e desenvolver habilidades para o mercado", concluiu.

Gerente de diversidade e inclusão da TIM Brasil, Débora Oliveira reforça que a empresa, além de promover iniciativas de sensibilização na equipe, também deve prezar por ações de integração e incentivo à capacitação, qualificação e graduação. "Oferecemos aos nossos profissionais descontos nos cursos de graduação à distância. Queremos que nossos profissionais com deficiência cresçam dentro da TIM e com a TIM. Fomos eleitos, em 2019 e 2021, a operadora mais acessível pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)", ressalta. "Um ambiente diverso é capaz de gerar uma riqueza infinita de pensamentos, ideias e possibilidades, o que é saudável e necessário para qualquer ambiente de trabalho", completa.

Outra empresa que busca valorizar a inclusão é a Natura. Com espaços adaptados para receber pessoas com deficiência, o grupo vem adotando e ampliando ferramentas como a Libras (Língua Brasileira de Sinais) para que mais pessoas possam utilizá-la, em diferentes momentos de interação, com colegas com deficiência auditiva. Além disso, a empresa promove campanhas internas que visam combater o preconceito. Em 2020, por exemplo, foi implementada a Semana da Pessoa com Deficiência na Natura Brasil, com um conjunto de ações para engajar os funcionários acerca de um ambiente mais inclusivo.

Para a gerente de diversidade e inclusão da Natura &Co América Latina, Milena Buosi, "é importante que as empresas atuem como agentes de transformação social para, assim, gerar cada vez mais impactos positivos para a sociedade". Ela afirma que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que a inclusão seja, de fato, uma realidade no mercado de trabalho. "Estamos chegando a um ponto em que essa transformação da gestão já não é mais opcional. Por isso, a importância de desenvolver estratégias sólidas, vinculadas, com ocorre nos negócios que envolvam completamente a liderança, e que se viva no dia a dia em todos os níveis da organização", conclui.

*Estagiário sob a supervisão
de Jáder Rezende