Trabalho & Formação

Quatro perguntas para se fazer antes de namorar alguém do trabalho

Para o bem ou para o mal, os escritórios são lugares onde pessoas que pensam parecido ficam próximas umas das outras por muitas horas, então não é surpresa que muita gente esteja aberta para o amor no trabalho

Chantal Gautier - The Converstation*
postado em 28/08/2022 10:26

Na era digital, os aplicativos de relacionamento e o namoro online são o status quo para os romances. Foi-se o tempo praticamente em que se conhecia "a pessoa certa" em um bar.

Mas que tal flertar na fila do bebedouro no trabalho ou no Zoom? O relacionamento consensual no escritório tem sido uma alegoria romântica e um tabu por décadas.

Há muitas razões pelas quais alguém pode começar um relacionamento no local de trabalho.

Pesquisas mostram que as pessoas gravitam em torno de indivíduos que pensam da mesma forma, com traços de personalidade, origens, sistemas de crenças e ideias comuns.

A proximidade e a familiaridade também influenciam a atração, algo que os psicólogos chamam de "efeito de mera exposição".

Para o bem ou para o mal, os escritórios são lugares onde pessoas que pensam parecido ficam próximas umas das outras por muitas horas, então não é surpresa que muita gente esteja aberta para o amor no trabalho.

Uma pesquisa do instituto YouGov de 2020 mostrou que 18% dos britânicos conheceram seu parceiro atual ou mais recente por meio do trabalho.

Se você está cogitando começar um relacionamento com seu vizinho de mesa, ou até mesmo com seu chefe, aqui estão quatro questões a serem levadas em consideração.

1. É uma relação hierárquica?

Apesar de prevalentes, os romances de escritório ainda são malvistos — ainda mais depois do movimento #MeToo.

Decidir começar um relacionamento hierárquico no local de trabalho (quando uma das partes ocupa um cargo mais alto do que a outra) é algo que deve ser levado a sério.

Quem tem um status inferior e namora o chefe ou um membro sênior da equipe às vezes é confrontado com fofocas e obstáculos na carreira por causa do relacionamento.

Enquanto alguns podem pensar que um relacionamento desse tipo pode ajudá-los a subir na carreira, a verdade é que seu status de relacionamento pode atrapalhar seu progresso.

Dois homens de terno caminhando de mãos dadas na rua
Getty Images
Não é surpresa que muita gente esteja aberta para o amor no trabalho

Uma pesquisa mostrou que a pessoa que tem um status inferior em um relacionamento hierárquico no local de trabalho tem menos probabilidade de ser promovida ou recomendada para oportunidades de treinamento do que seus colegas que não estão nesse tipo de relacionamento.

2. Como pode afetar seu desempenho no trabalho?

Com amor e sexo na cabeça, alguém está conseguindo trabalhar?

O posicionamento geral é que o namorico é ruim para os negócios e afeta a produtividade.

Estudos mostram que sentimentos como paixão e amor, especialmente nos estágios iniciais de um relacionamento, podem afetar negativamente a produtividade porque nossas mentes estão em outro lugar, e não na tarefa em questão.

Isso é particularmente desafiador em um ambiente profissional — e quando você pode ter que trabalhar ao lado do seu amado.

No entanto, existem medidas que você pode tomar para reduzir as distrações.

Minimize as comunicações que não sejam de natureza profissional, exceto quando essenciais, e evite o contato físico, como beijar ou dar as mãos no local de trabalho.

3. Sua organização permite?

Flerte e namoro são fenômenos naturais, quer as organizações gostem ou não.

Homem e mulher flertando com uma café na mão no escritório
Getty Images
Flertes no escritório são comuns, mas podem ser uma distração

Proibir relacionamentos não é a solução e, quando muito, só vai levá-los à clandestinidade.

Apesar disso, muitos empregadores (principalmente nos EUA) adotam posturas rígidas quanto a eles, implementando "contratos de amor" — regras e políticas por escrito com as quais o casal concorda, confirmando que o relacionamento é consensual e voluntário.

Isso foi concebido não só para proteger o casal, como também para proteger o empregador de ser processado por assédio se o relacionamento terminar.

É provável que os funcionários não queiram compartilhar com seu superior hierárquico direto, a pessoa do RH ou colegas pertinentes, com quem estão tendo relações sexuais.

O artigo 8 da Lei de Direitos Humanos protege o direito dos indivíduos à vida privada e familiar, o que pode explicar por que os contratos de amor não são usados ??no Reino Unido.

Os empregadores precisam conciliar os interesses do negócio em si com o direito de privacidade dos funcionários.

No entanto, assim como existem políticas e treinamentos para combater o assédio sexual, a discriminação e problemas de saúde mental, também há a necessidade de abordar os romances no local de trabalho.

Seu empregador deve ter políticas e diretrizes acessíveis (e razoáveis) sobre a divulgação de relacionamentos, especialmente quando são hierárquicos.

4. O que acontece se você se separar?

Embora ninguém planeje o fim do relacionamento, isso pode acontecer — e é melhor estar preparado.

Em um relacionamento fora do local de trabalho, um rompimento pode significar que sua produtividade diminui ou você precisa tirar um dia de folga em prol da sua saúde mental.

Mas se você trabalha com seu agora ex-parceiro, há outras coisas a se levar em conta, como interagir ou colaborar em um projeto.

Quando relevante, pode ser possível solicitar uma transferência para uma equipe diferente ou trabalhar remotamente até que a poeira baixe.

Sua empresa também pode oferecer terapias no local de trabalho ou programas desenvolvidos para apoiar os funcionários que passam por momentos difíceis, incluindo depressão, luto ou término de um relacionamento.

Em última análise, a forma como os empregadores escolhem lidar com o romance no escritório passa por reconhecer que relacionamentos no local de trabalho acontecem — e entender que funcionários mais felizes e satisfeitos tendem a ser mais produtivos e a colaborar melhor em equipes.

É do interesse dos empregadores apoiar o bem-estar de seus funcionários, mesmo (e especialmente) quando esses funcionários se apaixonam.

Chantal Gautier é professora, psicóloga organizacional e sexóloga clínica da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Westminster, em Londres (Reino Unido).

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação