EMPREGO

Com o fim da emergência da covid-19, Bares e restaurantes retomam contratações

Dados do Caged mostram que 121 mil empregos foram criados no segmento de alojamento e alimentação no DF. Já a Abrasel afirma que bares e restaurantes respondem por mais de 90% dos postos de trabalho deste segmento

Diogo Albuquerque*
postado em 28/08/2022 06:00 / atualizado em 28/08/2022 06:00
Roda de samba é marca registrada do bar -  (crédito: *Diogo Albuquerque/CB/D.A.Press)
Roda de samba é marca registrada do bar - (crédito: *Diogo Albuquerque/CB/D.A.Press)

O setor de bares, baladas e restaurantes foi um dos principais afetados no auge da pandemia. Ao longo de quase dois anos, donos de estabelecimentos tiveram que se reinventar para manter seus estabelecimentos funcionando e as vendas por aplicativos foram uma espécie de redenção. Com o avanço da cobertura vacinal e a diminuição no número de casos e mortes pela covid-19, os brasileiros começaram a voltar, lentamente, aos seus hábitos de confraternização fora de casa, aumentando as expectativas de dias melhores entre os trabalhadores do setor.

De acordo com a Abrasel-DF, cerca de 335 mil bares e restaurantes encerraram as atividades definitivamente no país em 2021, considerando todos os segmentos, devido à crise econômica causada pela covid-19 na capital federal. O número representa a extinção de 1,3 milhão de postos de trabalho.

O surgimento de novos bares, baladas e restaurantes após o período mais crítico da pandemia e a adoção de medidas pelo governo — como o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), que garante benefícios como isenção de imposto de renda e a negociação facilitada de dívidas tributárias — têm levado o setor a apresentar crescimento e alta no faturamento.

Segundo dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em maio foram criados 121 mil empregos no segmento de alojamento e alimentação, com saldo positivo de 21 mil vagas preenchidas no país. Na estimativa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Distrito Federal (Abrasel-DF), os bares e restaurantes respondem por mais de 90% dos postos de trabalho deste segmento.

Jael Antônio, do Sindhobar: expectativa de volta à normalidade até o fim deste ano
Jael Antônio, do Sindhobar: expectativa de volta à normalidade até o fim deste ano (foto: Arquivo pessoal)

De acordo com o presidente do Sindhobar, Jael Antônio da Silva, 75 anos, o número de contratados superou o de demitidos, com 1.809 novos empregos criados de janeiro a maio. "Temos uma expectativa de crescimento e de volta à normalidade até o fim do ano. Alguns empresários já faturam como em 2019", afirma.

O presidente do sindicato observa que, no entanto, o setor não se recuperou totalmente do auge da pandemia. "Cerca de 35% a 40% dos empresários ainda estão endividados, pois precisaram parcelar tributos e contrair empréstimos para manter seus estabelecimentos funcionando", ressalta. Além da abertura de novos estabelecimentos e o momento de queda nos casos de covid, a inclusão do setor no Perse após reivindicação do sindicato tem incentivado os empresários a investir e a contratar mais.

Beto Pinheiro, da Abrasel: embora lenta, recuperação incentiva contratações
Beto Pinheiro, da Abrasel: embora lenta, recuperação incentiva contratações (foto: Dois Ellis Filmes/Divulgação)

O presidente da Abrasel-DF, Beto Pinheiro, 41, no entanto, afirma que o setor opera com margem menor, uma vez que o endividamento proveniente da pandemia ainda não foi totalmente quitado. "Apenas 30% das empresas operam, hoje, no azul. Os outros 70% ainda estão trabalhando para tapar esse buraco e sobreviver", diz, analisando que a recuperação é lenta e incentiva os empresários a contratar.

Jael afirma que, atualmente, a alta da inflação é o principal desafio enfrentado pelo setor. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação no mês de junho para o segmento de bares e restaurantes ficou em 1,26%, quase o dobro do índice geral, de 0,67%. "A inflação é o principal obstáculo para os bares. Muitos empresários não conseguem absorver essa alta e repassar para os produtos, o que pode espantar os consumidores. No final, o lucro é reduzido", diz.

O bar e restaurante Outro Calaf é um dos estabelecimentos que tem voltado a lucrar no período de pós-vacinação em massa. Fundado em 1990 pelo geólogo catalão Venceslau Calaf e por sua mulher, Maria Beatriz, falecida em 2014, o primeiro restaurante do Setor Bancário Sul surgiu com a proposta de popularizar a culinária espanhola na capital federal. Depois de fechar as portas, em 13 de março deste ano, e dispensar todos os funcionários, o bar reabriu no mês passado, com a volta da tradicional roda de samba. Venceslau Calaf, sócio da casa, afirma que o movimento está "praticamente como antes de 2020". "Nosso movimento vem melhorando consideravelmente. Recebemos, em média, 1.200 pessoas por semana", comemora.

Calaf: estratégia das mídias alternativas
Calaf: estratégia das mídias alternativas (foto: *Diogo Albuquerque/CB/D.A.Press)

Priscila Calaf, filha de Venceslau e sócia do bar, diz que a decisão de reabrir o ambiente foi motivada não só pela amenização da pandemia — com o avanço da vacinação dos brasilienses e a redução da  contaminação e do número de mortes —, como também pelo peso da comoção do anúncio do encerramento das atividades entre os agentes culturais e a clientela. "O apoio e o carinho que recebemos de artistas, produtores, músicos, parceiros e clientes foram fundamentais na decisão da reabertura", assegura.

Para se recuperar do período pandêmico, a casa, uma das mais tradicionais da cena brasiliense, tem buscado meios diferentes e inovadores pra atrair o público. Venceslau Calaf conta que tem investido, principalmente, em divulgação nas redes sociais para atrair clientes. "Usamos muito essas mídias alternativas para divulgar as atrações, como shows e as tradicionais rodas de samba", revela. Mesmo que boa parte do movimento se concentre no horário noturno, o sócio catalão pretende abrir o bar e restaurante também no horário de almoço.

Venceslau ressalta, ainda, que o processo de contratação de garçons e outras modalidades para o bar prossegue em andamento. Entre as vagas temporárias abertas, ele cita, além de garçom, cozinheiro, auxiliar copa e de salão, para atuar em eventos de fim de semana, quando o estabelecimento costuma ter mais movimento. Venceslau esclarece, ainda, que não é preciso ter experiência para as vagas oferecidas. E conclui, dizendo que, por ser um trabalho árduo, as vagas não são preenchidas com rapidez.

Patrícia Lee, chef do restaurante Soban Korean Cuisine
Patrícia Lee, chef do restaurante Soban Korean Cuisine (foto: Arquivo pessoal)

Dono do restaurante Soban Korean Cuisine, Paulo Yang, 52, é um dos que sobreviveram depois do pico da pandemia. Natural de Seul, capital da Coreia do Sul, ele decidiu abrir um restaurante de cultura coreana no início de 2019, junto com a mulher, Patrícia Lee, 50, após perceber a falta de estabelecimentos do tipo em Brasília. "Peguei um empréstimo e comecei a investir no restaurante. Estávamos indo bem, até vir a pandemia e o lockdown, que nos obrigou a fechar as portas duas vezes. Foi um baque", lembra.

Ele lembra que, mesmo com as adversidades, como a necessidade de cortar gastos e demitir funcionários, conseguiu se reinventar e encontrar um lado positivo para manter o restaurante funcionando. "Aprendemos a usar o delivery, algo que definitivamente veio pra ficar", afirma. Com a reabertura do estabelecimento em 2021, Paulo observou o movimento crescer, mas conta que ainda não conseguiu se recuperar totalmente. "Não nos recuperamos ainda, mas as perspectivas são boas. Em relação ao ano passado, por exemplo, contratamos 30% mais funcionários do que tínhamos antes do lockdown para atender à nova demanda que tem surgido neste ano", comemora.

Mesmo com sinais claros de avanço no setor, Yang afirma que tem sido cauteloso para dar os próximos passos. Sem gerente, é ele quem compra os produtos e trabalha diariamente no estabelecimento, ao lado da esposa, que é chef de cozinha e "a alma do negócio". "Nosso desafio é fidelizar o maior número possível de clientes e proporcionar a eles uma culinária totalmente diferente", conta Yang.

Oportunidade de trabalho

Francisco de Assis: primeira oportunidade
Francisco de Assis: primeira oportunidade (foto: Arquivo pessoal)

O garçom Azemilton Lisboa, 39, conseguiu o emprego como garçom depois da pandemia. Com 19 anos de experiência no cargo, Azemilton afirma que escolheu trabalhar como garçom pela facilidade e necessidade continuar empregado. "Ser garçom é pra quem realmente gosta. Temos a possibilidade de adquirir conhecimento e conhecer muita gente", comenta.

Durante a pandemia, Azemilton, que era maître, foi demitido pela empresa na qual trabalhava. Para se manter e conseguir pagar as contas, ele precisou trabalhar em diversos empregos informais, fazendo bicos. Agora, depois da reabertura do setor, foi contratado pelo restaurante Soban Korean Cuisine, e destaca que o salário é bastante satisfatório. "Nossa remuneração é formada pelo salário da categoria, mais comissão e gorjeta. No final, somando tudo, recebo cerca de R$ 4.500 reais por mês", completa.

Também com experiência na área, o garçom Francisco de Assis, 59, afirma que a função é tranquila e oferece boa remuneração. "Esse trabalho foi a primeira oportunidade que surgiu para mim. Me sinto bem fazendo isso", diz Assis, que tem mais de 11 anos de experiência e hoje trabalha no Calaf. Ele chegou a ser demitido durante a pandemia, mas foi recontratado depois da reabertura do estabelecimento.

 

Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende

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