Depois de conquistar uma vaga no time de base feminino de futebol do Clube Atlético Mineiro, com o objetivo de disputar o Campeonato Brasileiro Sub-18, em 2021, a estudante brasiliense Vitória Carvalho Loiola, 17 anos, emplacou mais um golaço em sua trajetória, desta vez em terras mais distantes: conseguiu uma bolsa integral para estudar educação física no Central Baptist College, em Conway, nos Estados Unidos. A ajuda de colegas e de pais de alunos, que promoveram uma verdadeira ação entre amigos, foi decisiva para que ela conseguisse a tão almejada qualificação profissional.
Filha de porteiro e de vendedora ambulante, Vitória estudou, desde o maternal, como bolsista na Escolas das Nações, considerada modelo de educação internacional. O pai, Antônio Gilson, 53, trabalha na escola há 31 nos. A mãe, Ana Cleide Carvalho, 48, ajuda no orçamento da casa vendendo pamonha nas ruas.
Vitória conta que, inicialmente, começou a buscar por bolsas de estudo em universidades na Flórida, forte no cenário do futebol norte-americano. Enquanto não atingia essa meta, buscou seguir carreira dentro do esporte no Brasil, sonhando em representar o país na Seleção Brasileira e jogar na Copa do Mundo e também nas Olimpíadas.
Durante sua passagem por Belo Horizonte, que durou cerca de cinco meses, Vitória se dedicou a treinos diários na academia e na famosa Cidade do Galo, centro de treinamento do clube, até ser convocada para jogar como atacante. "Vivi um sonho. Jogar pelo Atlético mineiro, em um campeonato brasileiro, e conhecer outras meninas que compartilhavam dessa paixão foi, realmente, surreal", disse.
Vitória conta que, ainda em BH, passou a buscar com mais afinco as possibilidades de bolsas de estudo em instituições que se enquadrassem em suas perspectivas. Lá, contou com a colaboração da Uai Soccer Academy, da Play Like a Girl e da Zest Consulting. "Foi um processo longo, que envolveu muitas horas de gravações de vídeos. Mas, no final, deu tudo certo", afirma.
Na Escola das Nações a ainda menina viu aumentar sua paixão pelo futebol. Vestindo a camisa 7 dos Cougars, time da instituição de ensino, participou de três torneios de futebol do International Schools Sports League (ISSL), realizado entre escolas internacionais do Brasil em Minas Gerais.
Vitória lembra que deu voz ao dom futebolístico desde cedo, jogando nos campos da escola. "Lembro que quando pequena costumava jogar partidas de futebol no recreio, nas aulas de educação física, e sempre quando desse para jogar. Por muito tempo, joguei com meninos, até que a escola trouxe novas oportunidades com a criação de um time feminino e a participação em campeonatos escolares."
No último torneio de que participou antes da pandemia, em 2019, Vitória foi eleita MVP (jogador mais valioso) entre as atletas da sua escola, e levou para casa o ouro inédito na história da equipe feminina da Escola das Nações. Agora, ela pretende alçar vôos ainda mais altos. "Quero outras meninas a realizar seus sonhos, ter um propósito na vida, estudar em boas escolas, sempre atuando na área esportiva", destaca, revelando que sua meta, depois de formada, é aplicar seus conhecimentos no Brasil, ajudando, sobretudo, os menos favorecidos.
A futura integrante da equipe Lady Mustangs — time oficial da faculdade norte-americana — embarcou para os Estados Unidos com a colaboração de pais de alunos da escola, que promoveram uma vaquinha on-line e arrecadaram R$ 15 mil, montante suficiente para arcar com os custos do passaporte, visto e da passagem aérea. "A escola foi fundamental para mim em todos os sentidos. Se não fosse pela direção, professores, colegas, não chegaria onde estou. Nem tenho palavras para expressar minha gratidão e felicidade", disse.
Vitória confessa que o processo de adaptação à nova vida, longe da família e dos amigos, não está sendo muito fácil, mas admite que o tempo está a seu favor e que a valorização do esporte naquele país salta aos olhos. "É uma cultura completamente diferente. Já observei que o esporte, por aqui, é muito mais respeitado que no Brasil. Sem contar com o clima, que muito quente e seco, bem mais do que em Brasília."
A irmã de Vitória, Luana, 26, também estudou como bolsista na Escola das Nações, e hoje atua como secretária bilíngue em uma grande corporação em uma grande corporação em São Paulo. "A escola foi fundamental para as nossas formações, tanto moral quanto no aprendizado de uma segunda língua e a definição de nossas profissões", afirma Vitória.
Na Escola das Nações, o programa de preparação para a universidade dá ênfase ao desenvolvimento da proficiência acadêmica bilíngue em inglês e em português. A partir do Grade 9, os alunos optam pelo programa de ensino médio internacional ou bilíngue. Os que cumprem os requisitos para graduação recebem tanto o diploma internacional quanto o brasileiro.
Antônio Gilson, o pai da garota, não esconde o orgulho da filha e de sua conquista. "Nem tenho palavras. Ela sempre foi muito estudiosa e dedicada. Desde pequena dizia que seu sonho era fazer faculdade nos Estados Unidos. Graças a Deus e também à escola, que é uma verdadeira família, ela alcançou o seu objetivo. Agradeço imensamente a ajuda de todos os que colaboraram para que ela pudesse realizar o seu sonho."
A mãe, Ana Cleide, também esbanja orgulho e felicidade. "Vitória sempre quis ser uma jogadora reconhecida e fazer o quer ama, que é estar nos campos. Nunca entendi muito de futebol, mas sempre a apoiei. Mais do que ninguém, ela merece essa conquista", afirma. "Desde pequenininha ela demonstrou muita vontade de aprender e, com o tempo, essa garra foi aumentando. Seu empenho nos estudos e na busca por uma profissão que a realizasse está, agora, sendo recompensado."
O professor de educação física e treinador Kaio Vinicius Fernandes Lamounier, destaca as empatia e o espírito colaborador de Vitória. "É uma menina iluminada, sempre educada, respeitosa e feliz. Sempre brinquei, dizendo a ela que nasceu virada para a lua. E foi esse brilho natural que a levou a tantas conquistas", disse, destacando o talento natural da estudante para o futebol. "Tenho esperança que ela venha a ser uma grande jogadora no futuro e proporcionar muita alegria pra gente. É esse o objetivo de vida dela", completa.
Lamounier observa, ainda, que a conquista de Vitória é fator preponderante para que ela amplie suas oportunidade de vida e, sobretudo, profissionais. "Ela sempre manifestou vontade de se aprimorar em educação física e na escola ela sempre teve o apoio e o ambiente necessários para que atingir essa meta."