Estudante de escola pública e moradora de favela de Vitória (ES), Paula Regina Barboza de Oliveira, 44 anos, teve a vida transformada após receber a premiação Viva Seu Sonho, da ONG Soroptimistas, em 2019. Após conquistar o prêmio nacional, Paula venceu também a categoria internacional e conseguiu concluir a formação em medicina, o curso de seus sonhos.
Durante o ensino médio, Paula engravidou de seu primeiro filho e se viu obrigada a abandonar os estudos. Nesse período, ficou dois anos sem estudar, já que precisava dar atenção exclusiva ao filho. Ela conta que trabalhava diariamente em "bicos", ocupando funções desde vendedora de rua a garçonete.
Paula decidiu voltar a estudar dois anos mais tarde. Concluiu o ensino médio por meio de supletivo e se mudou para a Bahia, onde começou a cursar geografia. "Precisei optar pela geografia porque, na época, era difícil entrar para o curso de medicina, principalmente porque não tinha ProUni nem Fies, como hoje", diz. Antes de concluir geografia, Paula engravidou novamente e teve que abandonar o curso. "Cuidar dos filhos e estudar era uma tarefa difícil, principalmente com a ausência dos pais", lembra.
Mesmo desempregada e com dois filhos, Paula não desistiu. Com o dinheiro que conseguia em trabalhos informais, ela investiu em um cursinho para tentar seguir na medicina, área que sempre almejou. Durante o período da manhã, enquanto os filhos estavam na escola, seguia para o cursinho. À tarde, trabalhava e, à noite, estudava madrugada adentro. "Conciliar emprego e trabalho era extremamente cansativo", diz.
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Em 2011, Paula prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e todo o esforço empreendido nos estudos resultou em bolsa integral pelo ProUni para o curso de medicina na Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia, em Vitória (ES). A estudante fez logo as malas e retornou à terra natal. No Espírito Santo, sua rotina mudou completamente. Foi aprovada em 1º lugar em um concurso da prefeitura da capital do estado, na área administrativa, e começou a trabalhar como secretária de uma escola.
Com o tempo, o horário das matérias da faculdade passaram a não coincidir com o horário de trabalho e a saída foi pedir exoneração. "Ficou impossível continuar trabalhando, porque a grade horária do curso ocupava quase todo o dia", conta, afirmando que a nova saída foi transferir o curso para a Universidade Salvador (Unifacs), na Bahia e, de novo, precisou se mudar para a capital baiana. Sem alternativa, ela chegou até a pensar em desistir do curso. "Todos os meus colegas apenas estudavam, e minhas condições não me permitiam investir somente na educação", diz.
Ela passou, então, a procurar por ajuda na internet e encontrou a ONG Soroptimistas. Imediatamente, se inscreveu para o prêmio Viva Seu Sonho, em 2018, e enviou uma carta contando sua história. No início do ano seguinte, recebeu uma ligação com a notícia de que havia sido escolhida para receber o prêmio. "Chorei muito. Fiquei, realmente, muito emocionada, porque veio na hora em que mais precisava", afirma. Alguns meses depois, a ONG escolheu a história de Paula para concorrer ao prêmio internacional e, novamente, ela foi contemplada, desta vez com US$ 10 mil.
O prêmio foi decisivo para Paula investir em sua profissionalização. No último ano da faculdade, ela passou a focar inteiramente nos estudos. Adquiriu equipamentos e aparelhos médicos, cursou inglês, francês e ainda tirou a carteira de habilitação. "Essa ONG transformou a minha vida, mudou a minha forma de estudar, de viver, de trabalhar. Quando se muda a vida de uma mulher, muda-se a vida de toda uma sociedade", diz. Atualmente, Paula atua como clínica geral e, com o dinheiro do prêmio, se prepara para tentar residência médica ainda neste ano. (DA)
Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende